Diário de Notícias

Nem o melhor detetive tem pistas de onde está o melhor Djokovic

O croata já assumiu que a paternidad­e alterou as suas prioridade­s. Despediu equipa técnica e já perde com atletas abaixo do top 100

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A máscara de esforço do sérvio no encontro em que perdeu com Taro Daniel

BRUNO PIRES Há quem se recorde de um sérvio ganhador que cada vez que entrava num court de ténis fazia que o jogo se jogasse ao seu ritmo. Alterando um pouco uma frase que é dita em relação ao futebol, basicament­e eram dois tenistas, muitas bolas de ténis, uma rede e no final vencia Novak Djokovic.

Foi assim de 2011 a novembro de 2016, com ligeiras intermitên­cias. Djokovic foi rei e senhor do ténis perante as dificuldad­es da concorrênc­ia formada por Roger Federer, Rafael Nadal e Andy Murray, que acabaria por ser o seu sucessor como líder da hierarquia.

A primeira justificaç­ão dada pelo sérvio para as exibições som- brias não recolheu críticas de ninguém, pois, no fundo, todos entendiam e compreendi­am a sua nova forma de encarar a vida. “O ténis deixou de ser a minha prioridade número um a partir do momento em que nasceu o meu filho Stefan (outubro de 2014). Desde esse dia tudo mudou. O ténis ofereceu-me grandes emoções e eu desejo voltar a ser número um, tenho esse objetivo, mas está longe de ser uma prioridade”, confessou Novak Djokovic em março do ano passado a uma estação televisiva do seu país. Aí percebeu-se logo que algo tinha mudado, quiçá irreversiv­elmente: “Sei muito bem quem sou, de onde venho e para onde quero ir. E tenho todo o direito a tomar as minhas próprias decisões e escolher a forma como vivo a minha vida.”

Bem a propósito, pouco depois desta entrevista Djokovic tomou uma decisão radical; despediu toda a sua equipa técnica, ou seja, o seu treinador de longa data, Marjan Vajda, o preparador físico Gebhard Phil Gritsch e o fisioterap­euta Mil- jan Amanovic. E relembre-se que em dezembro de 2016 já Boris Becker tinha deixado o staff do sérvio ao qual tinha pertencido durante três anos com críticas de falta de empenho ao tenista.

Dez dias depois de “limpar” a sua equipa técnica, Djokovic contratou o antigo tenista Andre Agassi, que revelou nada cobrar ao atleta, pois sente que está “a cumprir uma missão para com o ténis”.

Em julho surge o momento-chave. Bem lançado em Wimbledon, abandona a partida diante do checo Thomas Berdych devido a dores no cotovelo. O mesmo cotovelo que o faz parar durante seis meses. O sérvio voltou mas o velho Djokovic, esse, continuou (e continua) em parte incerta. No Open da Austrália foi afastado nos oitavos-de-final pelo coreano Hyeon Chung, número 26 do mundo. Mais uma decisão radical ao resolver ser operado ao cotovelo que o atormentav­a em Basileia, na cidade de Federer.

Em IndianWell­s reapareceu mas atingiu um ponto que poucos esperavam ao ser eliminado na primeira ronda pelo japonês Taro Daniel, 109 do mundo.“Senti-me como se fosse o meu primeiro jogo no circuito. Parecia estranho, não tinha ritmo. Não me senti bem mas estou feliz por ter voltado a competir depois da operação. Necessito de tempo”, apelou um esperançad­o Djokovic em melhores tempos. O guru espiritual No meio disto tudo há algo que os fãs de Djokovic não entendem; a influência do seu guru espiritual, que resistiu à reestrutur­ação do seu staff. Falamos do espanhol Pepe Imaz, também ele responsáve­l por influencia­r Djokovic a deixar de comer carne. Imaz foi um tenista medíocre – chegou a 146 do mundo – que, ao perceber que não tinha muito talento, abriu o resort Puente Romano, em Marbella, onde junta o ténis a uma filosofia de paz e amor. Além do treino nos courts, os alunos integram aulas de meditação, respiração e filosofia, procurando a paz interior. E é este espanhol o responsáve­l, para muitos, pelos insucessos recentes do sérvio, atual número... 13 da hierarquia.

“As pessoas criticam-no por ter escolhido o caminho do amor, mas só começaram a fazê-lo quando o seu rendimento baixou. Antes das meias-finais de Roland-Garros em 2016, em que ele ganhou ao Andy Murray, estive toda a noite a falar com ele. Sempre me disse o quão fantástica era a sensação de estar perto de alcançar um objetivo. O amor fê-lo estar bem consigo próprio”, confessou no final do ano Pepe Imaz, que entrou na vida de Novak Djokovic depois de ter curado o seu irmão Marko de uma depressão muito acentuada.

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