Diário de Notícias

Antigo extremo de FC Porto e Sporting dedica-se aos eucaliptos

Clayton gere negócio de industrial­ização de madeira de eucaliptos tratado em Minas Gerais. Descoberto por Manuel Fernandes no Brasil, ganhou quase tudo com José Mourinho

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DAVID PEREIRA O ano de 1999 foi importantí­ssimo na vida e na carreira de Clayton. Foi nesse ano que o extremo-esquerdino de Minas Gerais deixou o Brasil rumo a Portugal, país ao qual chegou pela porta do então primodivis­ionário Santa Clara, e que começou a montar o negócio ao qual hoje se dedica a tempo inteiro, a industrial­ização de madeira de eucaliptos. “Desde que regressei ao Brasil que tenho estado a gerir negócios nas minhas fazendas. Montámos a estrutura para ter matéria-prima em 1999, por influência do meu pai, que gostava do meio rural, e hoje eu e a minha mulher controlamo­s o negócio”, contou ao DN.

“Moro em Vitória da Conquista, na Bahia, mas tenho o negócio em São João do Paraíso, em Minas Gerais. São 180 quilómetro­s de distância, e passo metade da semana num lado e outra metade no outro. Temos uma loja de revenda e é preciso estar em cima do negócio”, acrescento­u o antigo extremo, que se retirou em 2012.

“Quando jogava era mais prazeroso, era aquele sonho de criança. Os negócios são uma questão de escolha, mas também gosto do que faço”, confessou o ex-futebolist­a mineiro, que se cansou de estar ligado à modalidade. “Podia ter continuado no futebol, mas à quarta-feira é-se herói e ao domingo vilão. O futebol é cansativo. Há muita cobrança e horários rígidos. E a zona onde vivo fica distante de São Paulo, Rio de Janeiro e até de Belo Horizonte”, explicou, ainda assim com “muitas saudades” do relvado.

Agora, é a vez de o filho brilhar. “Tem 18 anos e profission­alizou-se. Está a jogar no Vitória da Conquista e quero ajudá-lo. É o sonho dele”, contou. Para trás fica um trajeto de quase duas décadas iniciado no clube do coração, o Atlético Mineiro, pelo qual conquistou um título estadual e a Copa Conmebol. Muito grato ao Santa Clara Com o passar dos anos, foram escasseand­o os minutos de utilização para Clayton no Atl. Mineiro. “Já estava lá há algum tempo e não levava o futebol muito a sério. Nem sempre jogava, fiquei cansado e fui para o América Natal. Estava a jogar um dérbi com o ABC e ganhámos 3-1, num jogo em que marquei dois golos e fiz uma assistênci­a. Manuel Fernandes, que treinava o Santa Clara, estava na bancada a observar dois jogadores da equipa adversária. No dia seguinte, um empresário ligou-me para me levar para Portugal. Assinei um contrato de seis temporadas com o Santa Clara no dia em que fiz 24 anos”, lembrou.

No entanto, acabou por ficar apenas cinco meses nos Açores. “Era um dos melhores marcadores da I Liga e o Jorge Mendes ligou-me para ir para o FC Porto no mercado de inverno. Estou muito grato ao Santa Clara. Se tivesse ficado lá mais tempo podia ter ajudado o A residir no Brasil desde os últimos anos da carreira, Clayton esteve há dois anos no Olival a visitar o centro de estágios do FC Porto CLAYTON › Nasceu em São João do Paraíso, no estado brasileiro de Minas Gerais, a 19 de julho de 1975 (42 anos). › Percurso: Atl. Mineiro, Guarani, América Natal, Santa Clara, FC Porto, Sporting, Penafiel, V. Guimarães, Sport, Alki Larnaca, Omonia, AEL Limassol e Serrano. › Venceu uma Taça UEFA, um campeonato, três Taças de Portugal e uma Supertaça. › Extremo e canhoto, Clayton deu os primeiros passos no clube do coração, o Atlético Mineiro. Depois de vários anos de pouca utilização, foi descoberto por Manuel Fernandes, que o trouxe para o Santa Clara. Assinou por seis anos com os açorianos, mas apenas lá ficou cinco meses, rumando depois ao FC Porto, onde ganhou quase tudo. clube a estabiliza­r na I Liga. Estou atento à caminhada deles e do Penafiel na II Liga. Se subirem, vou fazer uma visita”, prometeu o ex-futebolist­a, que se despediu de Ponta Delgada com 13 jogos e nove golos. Dragão conquistou-lhe o coração Se o clube do coração em criança era o galo, hoje esse amor é partilhado com o FC Porto. “O Atl. Mineiro era onde sonhava jogar, mas depois vi o FC Porto e não o consegui tirar do coração. Recentemen­te, estava a ver o jogo com o Liverpool para a Champions e cada golo do Liverpool foi um sofrimento para mim”, revelou o mineiro, que de dragão ao peito (2000 a 2003) conheceu o auge da carreira: a conquista da Taça UEFA.

“O nosso grupo era muito forte, com jogadores muito profission­ais e vencedores por natureza. Jorge Costa era o capitão, Paulinho Santos morria pelo clube e o Capucho era um cara fantástico. E depois havia os brasileiro­s: Deco, Jardel, Rubens Júnior, Esquerdinh­a, Pena... E o presidente recebia-nos e até falava connosco sobre os nossos filhos. Pinto da Costa era muito simples. Aqueles anos foram gostosos”, recordou o antigo extremo.

O primeiro treinador que conheceu nas Antas foi Fernando Santos, que descreve como “um senhor e um conselheir­o, que se preocupava com a vida dos jogadores fora do futebol”. Seguiu-se Octávio Machado, que o guiou à melhor época de azul e branco: “Ele é de polémicas, mas tem um bom coração. Joguei e produzi mais com ele, estive bem nessa época.” Por fim... José Mourinho. “Chegou ao FC Porto e deu um murro na mesa. Prometeu que íamos ser campeões e os seus treinos eram todos com bola, até os físicos. Falava muito com os jogadores que não jogavam e motivava toda a gente. Em 2002-03 não joguei muito, mas disse-me que queria ficar comigo. Acabei por ir para o Sporting e perdi a oportunida­de de ser campeão europeu e mundial. Encontrei-me com ele no Chipre, quando foi lá jogar pelo Inter, e falámos horas e horas. É muito gratifican­te”, vincou, nostálgico. Poucos jogos de leão ao peito No Sporting, Clayton reencontro­u Fernando Santos e não jogou tanto como esperava. Acabou por rumar ao Penafiel para voltar a trabalhar com Manuel Fernandes.

“O presidente [António Oliveira] era meio maluco, despediu-o à 3.ª jornada e não avisou ninguém. Depois veio Luís Castro, que ninguém conhecia, mas é um grande treinador e uma das melhores pessoas que conheci no futebol”, lembrou o brasileiro, que ainda passou por V. Guimarães e Chipre, antes de encerrar a carreira no Brasil.

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