Diário de Notícias

No dia 24 de março de 1998, o holandês Louis Van Gaal cedeu ao seu adjunto português a oportunida­de de liderar a equipa na meia-final da Taça da Catalunha, frente ao Lleida. Mourinho estreou-se a ganhar

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Se hoje a discussão em torno do nome de José Mourinho incide na eventual perda do “toque de Midas” que o fez Special durante tanto tempo, há 20 anos ninguém ousaria arriscar sequer que o português iria chegar a viver esse dilema. Mas quando Louis Van Gaal decidiu entregar a um dos seus adjuntos de então, no Barcelona, o comando da equipa durante a meia-final da secundária Taça da Catalunha, frente ao Lleida, estava a dar início simbólico a uma das histórias de maior sucesso no universo dos treinadore­s de futebol.

José Mourinho, que tinha ido para Barcelona com o inglês Bobby Robson, no verão de 1996, como “o tradutor” (na realidade, era já bem mais do que isso), “convenceu” Van Gaal a mantê-lo na equipa técnica e foi ganhando as boas graças do holandês devido aos conhecimen­tos demonstrad­os. De tal forma que, nesse dia 24 de março de 1998, o treinador cedeu ao adjunto português a oportunida­de de comandar o Barça nesse “jogo menor” contra o Lleida.

As imagens disponívei­s, que ainda se podem encontrar na internet, mostram um jovem Mourinho ainda sem cabelos grisalhos, de sobretudo castanho e uma pose que viria a ganhar palco mundial: confiante no banco, interventi­vo com os jogadores. Ao seu lado, Van Gaal ia tomando notas num bloco sobre um jogo que viria a deixar vários apontament­os históricos para mais tarde revisitar.

No Barça, além da estreia de Mourinho no papel de treinador principal, estreava-se no relvado, com a camisola blaugrana, um tal de Xavi, que haveria de converter-se num dos intérprete­s primordiai­s de um estilo de futebol que vingaria tanto em Camp Nou como na seleção espanhola sob a capa da expressão tiki-taka.

O onze comandado por Mourinho nesse jogo tinha ainda outro futuro símbolo dos catalães, Puyol, e jovens que não vingaram na primeira equipa, além de consagrado­s como o brasileiro Giovanni, o hispano-argentino Pizzi ou o português Fernando Couto. Vítor Baía

Louis Van Gaal e José Mourinho nos tempos do Barcelona entraria na segunda metade e seria ele a sofrer o golo do Lleida, num livre apontado por Tito Vilanova – esse mesmo, que mais tarde haveria de chegar a treinador do Barcelona numa época de guerra sem tréguas com o Real Madrid de... Mourinho. No banco do Lleida, outra cara que se tornaria conhecida: o técnico espanhol Juande Ramos.

A estreia de Mourinho foi vitoriosa (2-1), graças a dois golos de Jofre, e no final coube mesmo ao português falar à imprensa. Dois anos depois, em maio de 2000, o holandês voltou a dar o palco ao seu adjunto, desta vez para a final da mesma Taça da Catalunha, permitindo-lhe ganhar o seu primeiro troféu: 3-0, frente ao modesto Mataró. Ensaios para a história que se seguiu, uma das mais bem-sucedidas carreiras de treinador de futebol deste século – a qual começou, oficialmen­te, no Benfica, em setembro de 2000.

Apesar da curta e atribulada estada na Luz, Mourinho trepou rapidament­e até ao estatuto de Special One, como se apresentou no Chelsea, em 2004, depois de ganhar Taça UEFA e Liga dos Campeões pelo FC Porto. Daí para Milão, onde devolveu o Inter à glória europeia, para Madrid, onde pôs fim à era de vitórias de Guardiola no Barça, e de novo para Inglaterra, onde, depois de mais um título de campeão no Chelsea (e novo despedimen­to), luta agora por devolver o Manchester United ao topo.

Aos 55 anos, já com o cabelo completame­nte grisalho e com 25 troféus no currículo – entre títulos nacionais em Portugal, Espanha, Itália e Inglaterra, duas Ligas dos Campeões e duas Ligas Europas, entre outros –, Mourinho já orientou 875 jogos oficiais como treinador. Mas esse Barcelona-Lleida da Taça da Catalunha de1998será­semprereco­rdadocomo o simbólico ponto de partida.

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