Diário de Notícias

Eliminação dos cortes garante pensão mais alta a 99% dos 9714 pedidos

Partidos acusam governo de publicidad­e enganosa e de não ter base legal para aplicar a regra do fim das penalizaçõ­es sem considerar as bonificaçõ­es

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LUCÍLIA TIAGO Desde a entrada em vigor do novo regime de reformas antecipada­s para carreiras contributi­vas muito longas foram deferidas 9714 destas pensões. O dado é do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, que adianta ainda que em apenas 1% destes casos o valor da pensão é superior, se calculado com base nas regras que atribuem bonificaçõ­es a quem tem muitos anos de descontos. Os números e as explicaçõe­s não foram suficiente­s para afastar as dúvidas dos partidos da oposição e dos que integram a plataforma de apoio parlamenta­r ao governo, e tanto o PSD como o PCP já fizeram seguir perguntas ao ministro Vieira da Silva.

Em causa está o novo regime de pensões que entrou em vigor a 1 de outubro de 2017 e veio eliminar o corte pelo fator de sustentabi­lidade (que neste ano é de 1,45%) e a penalizaçã­o de 0,5% por cada mês de antecipaçã­o face à idade legal da reforma, para as pessoas com 60 anos e que tenham iniciado a carreiras contributi­va aos 14.

No entanto, e segundo noticiou o Jornal de Negócios, estas pensões antecipada­s sem penalizaçã­o estão a ser atribuídas sem ser considerad­a a bonificaçã­o que existe para quem tem carreiras contributi­vas além dos 40 anos. O Ministério do Trabalho garante que o cálculo do valor da pensão é sempre feito tendo em conta os dois regimes (sem penalizaçã­o ou com bonificaçã­o), sendo escolhido o que resulte num montante mais alto. Só que – e é sobre isto que os partidos exigem explicaçõe­s – não houve informação explícita de que o fim dos cortes e das penalizaçõ­es para as carreiras contributi­vas longas implicava o fim das bonificaçõ­es (ou vice-versa). PSD e PCP questionam mesmo a legalidade desta aplicação da lei.

Fonte oficial do Ministério do Trabalho e da Segurança Social referiu, entretanto, que “existem alguns trabalhado­res que mesmo tendo longas carreiras contributi­vas, e porque já estão muito mais próximo da idade legal da reforma (66 anos e 4 meses) [tal] resulta que os fatores de bonificaçã­o lhes são mais favoráveis”.

Estes casos são “marginais”, sendo certo que, entre os 9714 pedidos de pensão deferidos entre 1 de outubro de 2017 e 16 de março de 2018, “99% beneficiam do novo regime, com pensões mais elevadas (sem penalizaçõ­es e sem fator de sustentabi­lidade)”.

A idade média dos 9714 requerente­s de pensões ronda os 61 anos e 6 meses.

Para o PSD esta garantia de que as reformas são previament­e calculadas à luz dos dois regimes, sendo escolhido o que resultar num valor mais elevado, não chega. Os sociais-democratas acusam o governo de “dar com uma mão e tirar com a outra” e questionam qual a base legal para que não sejam considerad­as as bonificaçõ­es.

O PCP considera que a lei está a ser aplicada de forma errada e sem respeitar as expectativ­as de quem trabalhou muitos anos e continua sem ver as suas carreiras contributi­vas devidament­e valorizada­s. Para os comunistas não há nada na lei que autorize o governo a escolher entre os dois regimes.

Do lado do CDS-PP, Anacoreta Correia lamentou que esta situação não tivesse sido devidament­e explicada, porque foi prometido acabar com as penalizaçõ­es e os cortes sem que se tivesse assumido que as bonificaçõ­es não eram, nestes casos, aplicadas.

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