Diário de Notícias

SITUAÇÃO DE BARREIRAS DUARTE “TORNOU-SE INSUSTENTÁ­VEL” E “PREJUDICA” RIO

O presidente social-democrata não quer que o problema com secretário-geral do partido passe deste fim de semana. Nas próximas horas, Feliciano Barreiras Duarte será forçado a pedir demissão depois de o cerco se ter apertado

- PAULA SÁ e MIGUEL MARUJO

A situação do secretário-geral social-democrata, Feliciano Barreiras Duarte, “tornou-se insustentá­vel porque já está a prejudicar o líder do PSD”, admitiu ontem ao DN fonte próxima de Rui Rio.

De acordo com a mesma fonte, uma vez que Barreiras Duarte não tomou a iniciativa de se demitir, dentro de horas, Rui Rio falará com o seu secretário-geral para o forçar a sair do cargo, para o qual foi eleito na lista do presidente do PSD no último congresso. Não passa deste fim de semana, sinalizou a referida fonte.

Feliciano Barreiras Duarte tem sido cada vez mais um ativo tóxico para a liderança social-democrata, depois de ontem o cerco ter-se apertado. À polémica do currículo falso somou-se a notícia de que o também deputado terá recebido indevidame­nte ajudas de custo e despesas de deslocação do Parlamento por ter dado uma morada no Bombarral quando vivia em Lisboa.

Segundo o Observador, entre 1999 e 2009, Barreiras Duarte recebeu ajudas como se vivesse no Bombarral, informação que o próprio confirmou por se tratar, disse, da sua morada fiscal à época. “Sendo a morada fiscal a única relevante para qualquer efeito administra­tivo e fiscal, incluindo o direito de voto, entendi que naturalmen­te era essa a morada que devia colocar no registo da Assembleia da República”, explicou-se o secretário-geral do PSD.

Como notou a fonte próxima do presidente do partido, a forma como Barreiras Duarte falou inicialmen­te do seu currículo – de que era professor convidado (visiting scholar) na Universida­de de Berkeley, nos Estados Unidos – parecia não ter a gravidade que se revelou depois (desmentido por todos os envolvidos) e Rui Rio desconheci­a também estes últimos factos relativos ao alegado subsídio indevido.

Já o antigo secretário de Estado do Ambiente José Eduardo Martins notava ontem na sua página do Facebook que conhece “o Feliciano desde os primeiros tempos na JSD”, disparando logo: “Não houve, portanto, pelo menos para esses como eu, qualquer surpresa nesta pequena história tão camiliana.. Nem surpreende que ninguém, nem uma alminha, se empenhe a defendê-lo... a vida dá sempre colheita das sementes que plantamos.”

O ex-deputado municipal de Lisboa – que partilhou a notícia de ontem do DN dando conta que Rio esperava a demissão do seu secretário-geral – antecipou no entanto o braço-de-ferro de Barreiras Duarte para deixar o cargo. “Já quem mandou contar aos jornais todos que está à espera que ele se demita, talvez tenha a surpresa que no resto não houve.”

Prova do incómodo com este caso será o facto de Rui Rio já não se fazer acompanhar de Barreiras Duarte na viagem que fará a Bruxelas, a meio da semana. Segundo o Observador, o líder do PSD tinha informado, num primeiro momento, que seria o secretário-geral a acompanhá-lo à cimeira do PPE, mas depois este foi substituíd­o na comitiva por outro membro da comissão política.

Na Assembleia da República, Barreiras Duarte só marcou presença no debate quinzenal, na quinta-feira. Segundo os registos do Parlamento, faltou na quarta e na sexta. E se, no primeiro debate quinzenal de Fernando Negrão como líder parlamenta­r do PSD, se sentou ao lado deste, na última quinta-feira Barreiras Duarte ficou de fora da fotografia.

Ao lado de Negrão estavam os vice-presidente­s da bancada Adão Silva e Rubina Berardo, enquanto Barreiras Duarte entrou já António Costa discursava e foi sentar-se na última fila da bancada, por trás do grupo parlamenta­r do CDS, numa fila onde estavam sentados o ex-líder parlamenta­r do PSD Luís Montenegro e Carlos Abreu Amorim. Partidos fortes, pede Marcelo Também ontem, instado pelos jornalista­s a comentar o caso, o Presidente da República recusou pronunciar-se sobre a vida partidária e se a nova direção do partido presidida por Rui Rio está fragilizad­a, mas sempre foi dizendo que, a cerca de um ano das eleições, “é muito importante que haja partidos fortes”.

“Aquilo que eu disse sempre e que volto a dizer é que é muito importante que haja partidos fortes e é muito importante agora que estamos praticamen­te a um ano e um mês das primeiras eleições que quer os partidos da área do Governo quer os da oposição estejam fortes”, apontou Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela Lusa.

Já a coordenado­ra do BE afirmou que o PSD “tem explicaçõe­s a dar” sobre o apoio indevido do Parlamento a Feliciano. “Não tenho nada a comentar, julgo que o PSD é que tem explicaçõe­s a dar”, atirou, notando que “toda a gente sabe no país como o BE se bate por essa transparên­cia, pelo escrutínio”.

“Sendo a morada fiscal a única relevante (...), entendi que naturalmen­te era essa a morada que devia colocar no registo do Parlamento” FELICIANO BARREIRAS DUARTE SECRETÁRIO-GERAL DO PSD, AO OBSERVADOR

“Não houve, portanto, pelo menos para esses como eu, qualquer surpresa nesta pequena história tão camiliana...” JOSÉ EDUARDO MARTINS MILITANTE DO PSD, ANTIGO SECRETÁRIO DE ESTADO

 ??  ?? Castro Almeida (à esq.) avisou em público que estava a correr mal, mas Barreiras Duarte (segundo à dir.) resistiu a pedir demissão a Rio
Castro Almeida (à esq.) avisou em público que estava a correr mal, mas Barreiras Duarte (segundo à dir.) resistiu a pedir demissão a Rio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal