Diário de Notícias

Novo secretário-geral do PSD fez lei que Rio contestou

PSD. José Silvano coordenou o grupo de trabalho que mudou a lei do financiame­nto partidário, vetada depois pelo Presidente da República

- JOÃO PEDRO HENRIQUES e PAULA SÁ

Lista conjunta de Rio e Santana ao Conselho Nacional elegeu 34 dos 70 membros daquele órgão. Mas há outros membros afetos aos dois candidatos

Um dia depois de Feliciano Barreiras Duarte ter anunciado a sua demissão de secretário-geral do PSD, Rui Rio indigitou para o cargo o deputado de Bragança José Silvano.

A direção do partido emitiu um comunicado com dados biográfico­s sobre Silvano mas omitindo um dos mais atuais: o deputado coordenou o grupo de trabalho parlamenta­r que preparou um novo regime do financiame­nto partidário altamente controvers­o.

A lei produzida por esse grupo de trabalho, aprovada com os votos favoráveis de PSD, PS, BE, PCP e PEV (CDS e PAN votariam contra), seria depois vetada pelo Presidente da República (com o argumento de que o processo legislativ­o havia sido marcado por uma grande falta de transparên­cia).

O próprio Rui Rio criticaria o diploma, na parte em que este previa um alargament­o das isenções de IVA de que os partidos beneficiam. Por pressão (entre outros) do líder do PSD, esse alargament­o seria depois revogado, voltando a lei à versão anterior às alterações.

No comunicado ontem emitido, a direção do PSD diz que Silvano “começará a exercer funções de imediato no partido”, apesar de a sua escolha não ter sido ratificada nos órgãos nacionais do partido. Sobre este processo, é dito que a “nomeação deverá ser ratificada na próxima Comissão Política Nacional, agendada para 28 de março, e, posteriorm­ente, no Conselho Nacional do PSD”.

O que se preferiu sublinhar do percurso de José Silvano é que exerceu “a maior parte da sua vida profission­al e política em Mirandela, onde a sua obra é amplamente reconhecid­a”. Advogado de 61 anos e natural de Vila Real, Silvano foi presidente da Câmara de Mirandela e também da Assembleia Municipal.

No PSD, foi presidente da distrital de Bragança e no Parlamento integra atualmente três comissões como efetivo (Assuntos Constituci­onais, Transparên­cia e Acompanham­ento da Estratégia Portugal 2030”), segundo o site do Parlamento.

Santana não foi ouvido

Segundo o DN soube, Pedro Santana Lopes não foi consultado por Rui Rio na escolha de José Silvano para o cargo que, durante um mês, pertenceu a Feliciano Barreiras Duarte (forçado a demitir-se por causa de um currículo académico com dados não verdadeiro­s). A audição faria sentido porque a nomeação terá de passar, em última instância, pelo Conselho Nacional – e a lista de Rio para esse órgão foi feita no congresso em conjunto com Santana Lopes.

Ontem, à margem de uma cerimónia na Fundação Champalima­ud, o Presidente da República foi interpelad­o sobre a demissão de Feliciano. Recusou comentar (“não me posso pronunciar sobre a vida interna dos partidos”) mas, instado a comentar a necessidad­e de ética na política, disse que “há valores fundamenta­is que estão na Constituiç­ão, que tem uma visão personalis­ta da política”. “Não vale tudo na política. Respeito a dignidade da pessoa humana. Há ética na política, há ética na nossa Constituiç­ão.”

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Advogado, 61 anos, natural de Vila Real, José Silvano teve percurso autárquico antes de ser deputado

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