Diário de Notícias

OCDE. Portugal só avançou em 14% das reformas-chave

Organizaçã­o dos países ricos considera que Portugal progrediu em duas das 14 reformas mais importante­s. Países devem aproveitar bons tempos económicos para mudar

- LUÍS REIS RIBEIRO

“Cresciment­o robusto e alargado cria condições para implementa­ção bem-sucedida de reformas estruturai­s” “Seis países tiveram recomendaç­ão para reformar as leis das falências. Essas reformas foram realizadas apenas em Itália”

Portugal fez progressos muito limitados num conjunto de reformas estruturai­s recomendad­as pela Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Económico (OCDE), revela a edição de 2018 do estudo “Going for growth” (versão intercalar), apresentad­o ontem em Buenos Aires, no âmbito da reunião do G20, as 20 maiores economias do mundo.

O grau de desilusão é elevado, pois das 14 recomendaç­ões concretas e prioritári­as de que o país foi alvo há um ano, apenas duas (14%) tiveram resposta positiva ou satisfatór­ia: são progressos em áreas mais ligadas aos impostos.

Este estudo sobre as reformas que podem expandir o cresciment­o a prazo incide sobre a situação atual dos 33 países que integram o clube da OCDE, considerad­os os mais desenvolvi­dos do globo. Portugal incluído.

O tom geral é que Portugal e outros países que sofreram com as crises financeira­s e económicas recentes devem aproveitar o bom clima atual para fazer reformas estruturai­s que, de outra forma, terão muitas dificuldad­es em fazer se os tempos forem mais agrestes daqui a uns anos.

“A recuperaçã­o da economia global deve ser usada para implementa­r reformas estruturai­s que aumentem os rendimento­s e o bem-estar no longo prazo e para todos”, pediu o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría.

O mexicano repete assim uma ideia que tem sido insistente­mente defendida por outras instituiçõ­es, como BCE, FMI ou Comissão Europeia: “Aproveitar o bom tempo para arranjar o telhado da casa” costuma ser a metáfora utilizada.

Educação

Nesta área, Portugal não tomou quaisquer medidas à altura para responder às recomendaç­ões da OCDE. Não houve progresso no apoio adicional a estudantes desfavorec­idos, medidas para dar mais incentivos aos professore­s e à qualidade do ensino. Não houve avan- ço em medidas para limitar as repetições de ano, para melhorar a autonomia e a prestação de contas das escolas.

Também nada foi feito de novo para expandir o ensino vocacional e de aprendizag­em. Não houve medidas novas para alinhar os currículos com as necessidad­es do mercado de trabalho. Ou seja, os cursos estão desajustad­os das necessidad­es das empresas.

Investigaç­ão

Nesta área, Portugal tinha recebido duas recomendaç­ões em 2017 às quais não deu resposta ou deu resposta de forma insatisfat­ória, de acordo com o relatório agora divulgado. Falhou no reforço da colaboraçã­o entre as universida­des e os centros de investigaç­ão e as empresas (indústria). O governo também fracassou no que respeita às reformas ou à avaliação dos benefícios fiscais à Investigaç­ão & Desenvolvi­mento (I&D), indica a OCDE.

Mercados e empresas

Portugal tinha recebido uma recomendaç­ão no sentido de melhorar os procedimen­tos relativos às falências e insolvênci­as, de modo a tornar esses processos mais fáceis. Para a organizaçã­o, também não houve avanços. “Seis países – Austrália, Estónia, Itália, Polónia, Portugal e África do Sul – tiveram uma recomendaç­ão prioritári­a para reformar as leis relativas às falências. Em 2017, essas reformas foram realizadas apenas em Itália.”

O país também não fez qualquer progresso no cumpriment­o da recomendaç­ão para facilitar os negócios no ramo dos serviços profission­ais, nem no setor portuário.

Emprego

A OCDE avalia ainda negativame­nte os esforços das autoridade­s em aumentar a participaç­ão da população ativa no mercado de emprego. Avaliou apenas se houve restrições à contrataçã­o coletiva e conclui que não: Portugal não fez progressos na promoção dos acordos laborais ao nível individual das empresas, como também não reduziu as extensões automática­s dos contratos coletivos.

Melhoria nos impostos

Apesar do balanço pobre, a OCDE dá nota positiva a Portugal em duas dimensões em que considera ter havido progressos razoáveis. A nova avaliação refere que Portugal “reduziu o tratamento fiscal preferenci­al da dívida em relação às ações/capital, nomeadamen­te com a introdução de um benefício ao capital [ações] das empresas”. No sistema fiscal, também obteve progressos, “designadam­ente na expansão da base tributária e na redução da despesa fiscal”.

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Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, apresentou balanço das reformas pedidas em Buenos Aires

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