Não tem sido fácil adaptar a literatura ao cinema
HISTÓRIAS De Mistérios de Lisboa, de Raúl Ruiz, a O Delfim, de Fernando Lopes, são várias as versões cinematográficas dos livros
O que seria o cinema português sem o recurso frequente às obras literárias? Nos últimos anos, os grandes textos da nossa literatura têm seduzido os júris do ICA e são muitos os projetos que vivem da fama e da “boa ação” da literatura. O problema é que parece haver uma malapata nas adaptações. Os cineastas portugueses parecem atrapalhar-se com os diálogos literários, contam mal as histórias e não são engenhosos no resumo dos livros.
Aliás, foi preciso um chileno, Raúl Ruiz, para ser eficiente e sedutor a adaptar Camilo em Mistérios de Lisboa (e Paulo Branco, o produtor, está a concluir a adaptação de Livro Negro de Padre Dinis, também do mesmo mestre). Obviamente, há um caso à parte: Oliveira, mas nele o seu cinema já estava contagiado com um peso cineliterário. E também exceções, como o belo O Delfim, de Fernando Lopes, a partir de Cardoso Pires.
Mesmo Fernando Vendrell, que aqui compreendeu muito bem o que tinha de abreviar e o que tinha de respeitar em Vergílio Ferreira, terá metido os pés pelas mãos em Pele, estreado em 2006, filme algo “incompleto” que adaptava o romance de Henrique Galvão.
Apetece voltar a Spike Jonze e ao seu Adaptação e acreditar que as melhores adaptações ao cinema são aquelas que não respeitam o livro. Ou esperar que sejamos sempre melhores a adaptar obras estrangeiras, como A Portuguesa,a ser neste momento finalizado por Rita Azevedo Gomes, a partir de Robert Musil...