Diário de Notícias

Mostrar a ilha ao mundo e levar o mundo à ilha: aí está o Tremor

São Miguel. Três Tristes Tigres, Dead Combo e Mykki Blanco são alguns dos cabeças de cartaz do festival que tem muito mais que música

- MIGUEL JUDAS

“O principal é deixar sempre algum legado, que sobreviva aos cinco dias de festival”, diz António Pedro Lopes

Vai ser ao som da Banda Lira Sete Cidades que amanhã, pelas 20.15, no teatro Micaelense, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, Açores, terá início mais uma edição do Festival Tremor. A mesma coletivida­de foi também a protagonis­ta do vídeo Levantados do Chão, da autoria do fotógrafo e videasta Daniel Blaufuks, filmado no icónico Monte Palace, um hotel de luxo abandonado, com vista para a lagoa das Sete Cidades, que será exibido antes do concerto.

Desde há cinco anos, quando da sua primeira edição, que o Tremor faz este “jogo com o território, de brincar com a ilha e as suas comunidade­s”, como o define António Pedro Lopes, o curador do festival, “mostrando-a ao mundo, mas trazendo o mundo até São Miguel”. No primeiro dia de festival, destaca-se ainda a atuação dos Três Tristes Tigres, que se apresentam no Auditório Luís de Camões. Mas há muito mais para ver, ao longo dos cinco dias de festival, como refere o António Pedro, dando o exemplo de dois projetos açorianos, como o que junta a sonoridade tradiciona­l da viola da terra de Rafael Carvalho à música eletrónica FLIP ou à “visão contemporâ­nea da insularida­de” da pop lo-fi dos We Sea. Já no que diz respeito às propostas internacio­nais, o programado­r salienta a presença, “entre outros”, do americano Mykki Blanco, dos brasileiro­s Boogarins ou dos espanhóis Zulu Zulu, “todos eles artistas com uma dimensão performati­va muito forte”.

A ideia de fazer o festival surgiu em 2013, durante uma conversa entre António Pedro e o jornalista Luís Barreto, autor de uma agenda cultural local “em papel”. “Na altura a Baixa da cidade estava a atravessar um período de decadência, com muitos estabeleci­mentos a fechar e o Luís sugeriu organizar um festival em espaços devolutos e abandonado­s, de modo a chamar a atenção para essa realidade”, recorda o programado­r, que propôs o contrário, “valorizand­o antes os que teimavam em manter-se vivos” e, assim, “acordar o centro de Ponta Delgada”. Começou por durar apenas um dia, em que todas as 24 horas eram preenchida­s por concertos de música portuguesa, realizados em diversos locais. Entretanto, nas edições seguintes, o Tremor cresceu para os atuais cinco dias, mantendo o seu epicentro em Ponta Delgada, mas com ondas de choque que alastram um pouco por toda a ilha, permitindo, a quem chega de fora, vir ao festival e, ao mesmo tempo, dar a conhecer São Miguel sob uma nova perspetiva. “É um festival com todos os cartões-postais da ilha, mas apresentad­os com um filtro artístico e experiment­al”, que faz do Tremor, na opinião do seu organizado­r, “um autêntico ovni, não só nos Açores mas até a nível nacional”. Exemplo disso é a iniciativa “Tremor Todo-o-Terreno”, que propõe aos artistas criarem um trabalho para se relacionar com um percurso pelo património natural da ilha. Para esta edição foram convidados os Tír na Gnod, cujas composiçõe­s podem ser ouvidas ao longo de dois percursos pedestres, complement­adas, no final, com uma atuação ao vivo.

A ligação à ilha e às suas comunidade­s que não se resume, no entanto, só à vertente turística, apesar da importânci­a desta, como se vê pelas dezenas de restaurant­es e hotéis parceiros do festival, mas também nas muitas residência­s e parcerias artísticas realizadas ao longo destes cinco anos. Como a que desde a terceira edição é feita com a Escola de Música de Rabo de Peixe, possibilit­ando aos alunos o contacto com artistas convidados pelo festival. Neste ano o papel de professor coube a O Gringo Sou Eu, músico brasileiro radicado no Porto e membro de bandas como Samba Sem Fronteiras ou HHY & The Macumbas, que orientou um laboratóri­o musical utilizando “a metodologi­a do bloco de concreto” (percussão com materiais descartáve­is), com apresentaç­ão pública marcada para as 21.00 de sexta-feira, no Teatro Micaelense.

É aliás condição imprescind­ível do Tremor esta ligação à comunidade. “O principal é deixar sempre algum legado, que sobreviva aos cinco dias de festival, e somos muito claros a explicar isso aos artistas. Sabemos que a cultura pode inspirar, mudar ou simplesmen­te chocar, mas participar também passou a ser uma necessidad­e, e isso é o mais importante, dá-nos uma grande força para continuar”, sublinha António Pedro Lopes.

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A Banda Lira Sete Cidades no Hotel Monte Palace abre hoje o festival. Aqui no filme de Daniel Blaufuks Levantados do Chão, no Hotel Monte Palave
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Os brasileiro­s Boogarins apresentam-se no último dia

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