Diário de Notícias

A luta no PSD interessa ao país?

- PEDRO TADEU

Aluta política dentro do PSD é pertinente? Do meu ponto de vista, seja qual for o líder, as diferenças para o país nunca são muitas. Qualquer governo com o PSD, sozinho, coligado com o PS ou com o CDS, resume-se à aplicação cega de uma política seguidista de tendências conjuntura­lmente dominantes, conforme os anos, na Comissão Europeia.

A política do PSD, no seu corpo central, resume-se a uma doutrina explicada em 1985, de forma simples, pelo então neófito primeiro-ministro, Cavaco Silva: Portugal tem de ser um “bom aluno” das lições dadas pelas instituiçõ­es europeias. O resto são detalhes de execução desse projeto.

Foi assim com Cavaco Silva, foi assim com Durão Barroso: até lhe valeu a presidênci­a da Comissão.

Não foi assim com Santana Lopes, por falta de tempo de permanênci­a no poder, mas foi também assim com Passos Coelho, aderente fervoroso da teoria da austeridad­e virtuosa com que a Europa tentou, antes de desistir e meter o Banco Central Europeu a dar a volta ao texto, resolver a crise financeira e económica de 2008.

É verdade que os governos PS de António Guterres e de José Sócrates reproduzir­am, no essencial, exatamente o mesmo comportame­nto político esquematiz­ado por Cavaco Silva. Mas isso não espanta, pois o percurso europeu fora anteriorme­nte delineado por Mário Soares.

Aliás, a política despesista e de apoio a negócios improdutiv­os de dimensão incomensur­ável dos governos Sócrates, que levaram o Estado à beira da falência, foram, em boa parte, réplica de políticas semelhante­s de muitos outros países da União Europeia.

O único projeto político que governou Portugal desde a década de 80 do século passado foi, portanto, este: aceitar ordens, seguir instruções, aplicar modelos, garantir benesses dos poderosos da Europa.

Foi este modelo político que sustentou, durante décadas, o chamado “bloco central dos interesses”, onde também se colocou o CDS. Foi esse “bloco central dos interesses” que levou o país à falsa expansão dos anos 1990 e, depois, à terrível depressão deste século.

A única hipótese de introduzir alguma moderação nesse alinhament­o surgiu com os resultados eleitorais que levaram o PCP e o Bloco de Esquerda a apoiar, em 2015, a subida do PS de António Costa ao poder. Mas este manteve-se sempre fiel à linha anterior, felizmente um pouco mais flexível no sufoco económico a Portugal.

A geringonça não destruiu o “bloco central dos interesses” alinhado com Bruxelas. Ele esteve recolhido para lamber as feridas, recompôs-se e agora prepara-se para voltar à liderança de Portugal.

Acontece, porém, que a União Europeia de hoje já não é a mesma da era anterior a Passos Coelho. Há o brexit. Há cada vez mais governos e grandes partidos nacionalis­tas, racistas, xenófobos e protecioni­stas a dominar o discurso político em cada vez mais países europeus. Há independen­tistas na Catalunha. Há um euro aflito com as contas da gigante Itália e a esconder os problemas económicos da França. Há uma Alemanha com nazis no Parlamento e uma senhora Merkel desorienta­da...

O “bloco central dos interesses” pode voltar a dominar Portugal, mas será que sabe no que se vai meter com a sua velha doutrina do “bom aluno” na Europa?... Isto sim, isto é um problema político real. Quero lá saber do canudo do Feliciano Barreiras Duarte! Nota: O Paulo Baldaia sai hoje da direção do Diário de Notícias. Quero agradecer-lhe publicamen­te por ter permitido que eu aqui escrevesse livremente, sem expressar uma queixa, até quando critiquei algumas das suas opções editoriais. Foi democratic­amente exemplar e nunca me vou esquecer disso.

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