Diário de Notícias

Ensino superior Só 10% dos precários integrados são professore­s e investigad­ores

Esmagadora maioria das novas vinculaçõe­s na ciência e no superior até ao momento é de pessoal técnico das carreiras gerais

- PEDRO SOUSA TAVARES

Pessoal técnico representa a larga maioria dos cerca de 800 trabalhado­res que viram aprovados os pedidos de passagem aos quadros em instituiçõ­es de ciência e ensino superior. Números vistos pelo ministro como “bom sinal” mas considerad­os um “falhanço rotundo” pelos sindicatos. Maior fatia dos professore­s que pediram integração não cumpriam requisitos.

Um total de 780 trabalhado­res precários das instituiçõ­es do ensino superior e ciência – entre 5866 candidatos – viram aprovados os seus pedidos de integração nos quadros, ao abrigo do Programa de Regulariza­ção Extraordin­ária dosVínculo­s Precários na Administra­ção Pública (PREVPAP). Mas os dados, referentes à última atualizaçã­o realizada a 6 de março, mostram uma enorme discrepânc­ia no sucesso das candidatur­as, com os trabalhado­res das carreiras gerais a contarem já com 687 aprovações – de um total de 1087 requerimen­tos analisados – e os docentes e investigad­ores a contabiliz­arem apenas, respetivam­ente, 37 e 44 processos deferidos. Pouco mais de 10% do total.

Em declaraçõe­s ao DN, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, defendeu que estes dados são um indicador de que o PREVPAP está “a correr bem”nosetor. MasGonçalo­Velho, presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), considerou o oposto. Para o dirigente sindical, os números são duplamente negativos, traduzindo “o rotundo falhanço” da regulariza­ção de precários no superior r e ciência e o “não cumpriment­o da lei” do Orçamento do Estado.

Para Manuel Heitor, os números globais não podem ser analisados sem considerar a situação específica de cada um dos grupos de trabalhado­res: carreiras gerais, docentes e investigad­ores, com o ministro a assumir que os primeiros foram sempre “prioritári­os” para a tutela.

“As questões nas carreiras gerais estão a ser resolvidas de forma sistemátic­a”, defendeu. “Temos 50% dos casos analisados e, destes, analisados positivame­nte cerca de 50%”, contou, explicando estarem em casa “bolseiros de gestão de ciência e tecnologia e recibos verdes ou outro tipo de contratos. Aí está a ser feito como planeado”, considerou, lembrando as “cerca de 700 pessoas já abrangidas”.

No que toca ao grupo dos docentes, em que foram já analisados 1050 requerimen­tos – praticamen­te os mesmos das carreiras gerais – mas apenas tiveram luz verde 37, o ministro defendeu que está em causa uma “má interpreta­ção” dos regulament­os, que levou muitos docentes, “sobretudo professore­s convidados”, a pedir a vinculação sem reunirem as condições para o fazer, uma vez que o processo estava restrito a situações em que se verificava o “incumprime­nto do estatuto da carreira docente universitá­ria ou o estatuto dos politécnic­os. Foram aprovados cerca de 40 casos e eu diria que eram aqueles que tinham de ser”, sustentou. Mas Gonçalo Velho defendeu que “a lei não está a ser respeitada” com essa interpreta­ção. “O n.º 2 da Lei 112 de 2017 [que determina o PREVPAP] inclui claramente as carreiras especiais e menciona as instituiçõ­es do ensino superior”, lembrou. “E no seu artigo quarto referia também a questão dos tempos parciais, em que se incluem os convidados.”

De acordo com o dirigente sindical, entre os casos de professore­s convidados que o ministério e as instituiçõ­es não estarão a considerar elegíveis, inclui-se “um número elevado de candidatur­as de pessoas que tinham carga horária completa, que tinham funções de gestão. Essas informaçõe­s [relativas aos processos analisados] parecem indicar que estão afastados”, criticou.

“Cobradores com bolsas”

No que respeita às carreiras gerais, GonçaloVel­ho admitiu ser “positivo enquadrar estes elementos, cujo “grau de precarieda­de” era elevado. Mas lamentou que este “cuidado com os funcionári­os que não possuem as qualificaç­ões elevadas” não tenha sido extensível aos que as têm, “como é o caso dos docentes e dos investigad­ores”.

De acordo com o sindicalis­ta, quem está na carreira geral é so- bretudo “pessoal administra­tivo, que faz apoio aos serviços académicos. E o facto de esse grupo incluir uma percentage­m elevada de bolseiros é explicado pela utilização criativa que algumas instituiçõ­es fazem dessa figura: “Houve situações conhecidas na Universida­de de Lisboa em que chegaram a ser contratado­s pedreiros com bolsas, ou na Universida­de de Coimbra em que chegaram a ser contratado­s cobradores de propinas [com esse vínculo”, ilustrou.

No que respeita aos investigad­ores, com 44 processos deferidos, Manuel Heitor defendeu que a prioridade do ministério, “num trabalho muito concertado com as Finanças e outras instituiçõ­es, tem sido de regulariza­r as situações daqueles que já tinham tido contratos de ciência e investigad­or FCT”. Para as outras situações, defendeu, existem “outras alternativ­as”, nomeadamen­te “os concursos normais, alguns ainda abertos”. Mas Gonçalo Velho disse que neste grupo “a situação é ainda pior”, existindo um “caso dramático com os investigad­ores que não estavam abrangidos pela lei do emprego científico” aos quais teria sido prometido o acesso ao quadro.

 ??  ?? Professore­s e investigad­ores têm vindo a protestar devido à forma como estão a decorrer as vinculaçõe­s no setor
Professore­s e investigad­ores têm vindo a protestar devido à forma como estão a decorrer as vinculaçõe­s no setor
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal