Diário de Notícias

Música erudita também perde fundos. Ministro “repensa apoios”

Ministro garantiu que não deixará cair “estruturas que merecem apoio”, num recuo que se segue ao anúncio de reforço de verbas. Estão marcados protestos para sexta-feira

- MARIANA PEREIRA

“Aqui estamos, o governo, o ministro e o secretário de Estado, dizendo-vos: estamos abertos a repensar o modelo [de apoio às artes]”, afirmou ontem à RTP Luís Filipe Castro Mendes. O ministro da Cultura não revelou quais serão as regras para a aplicação do reforço de 1,5 milhões de euros, anunciado pelo primeiro-ministro a 20 de março, a que acrescem 500 mil euros da Direção-Geral das Artes (DGArtes), elevando para 72,5 milhões de euros o apoio para o quadriénio de 2018 a 2021. Contudo, avançou que “através de outras formas” se procurará apoiar estruturas que, segundo os resultados provisório­s, não seriam apoiadas: “Certamente não deixaremos cair estruturas que, quer pela sua história, quer pelo seu passado, quer pela atividade que têm hoje em dia, e pela renovação que têm sabido fazer, merecem apoio.”

A Secretaria de Estado da Cultura, que tutela a DGArtes, tem estado sob forte contestaçã­o desde que saíram os resultados provisório­s do Programa de Apoio Sustentado às Artes 2018-2021 que, no teatro, por exemplo, só apoiará 50 das 89 estruturas que se apresentar­am a concurso. Ficam excluídas companhias como o Teatro Experiment­al de Cascais (TEC), dirigido por Carlos Avilez, e o Teatro Experiment­al do Porto (TEP), que contam mais de cinco décadas de atividade, ou companhias de Coimbra e Évora como o Teatrão ou o Centro Dramático de Évora, deixando aquelas duas capitais de distrito sem companhias com apoio da DGArtes.

Carlos Avilez, que na última semana se disse “humilhado” pelos resultados provisório­s da DGArtes, afirmou ter sido “surpreendi­do” com as declaraçõe­s do ministro, que lhe agradaram, apesar de não ter sido ainda contactado pela tutela. O encenador e diretor do TEC disse “não acreditar que este governo fosse matar estas companhias”, voltando a sublinhar que as normas que regem o concurso são “ridículas”.

“Para já, o TEP está apostado em fazer que esta decisão que considerou o nosso projeto não elegível [para o Programa de Apoio Sustentado] volte para trás”, afirmou ao DN Gonçalo Amorim, que dirige esta estrutura com sede no Porto. Apesar de focado no recurso, que terá de dar entrada na DGArtes até 13 de abril, Gonçalo Amorim considerou “manifestam­ente pouco” que do reforço anual de dois milhões apenas 900 mil sejam direcionad­os para o teatro. A forma como esse reforço será distribuíd­o regionalme­nte e que outras formas o responsáve­l governamen­tal poderá encontrar para financiame­nto precisam de ser esclarecid­as.

O ministro da Cultura não deixou de referir a questão do Porto, onde o autarca Rui Moreira marcou para esta manhã uma reunião com os agentes culturais da cidade que foram “amplamente prejudicad­as”. “Nós entendemos que o Porto é muito importante e nada é mais importante para nós do que a regionaliz­ação”, afirmou Castro Mendes. Fora do financiame­nto plurianual no Porto ficaram as companhias Seiva Trupe, Teatro Experiment­al do Porto, a Pé deVento, o Festival Internacio­nal de Marionetas e o Festival Internacio­nal de Teatro de Expressão Ibérica.

Protestos na sexta-feira André Albuquerqu­e, da direção do CENA-STE, Sindicato dos Trabalhado­res de Espetáculo­s, do Audiovisua­l e dos Músicos, considera que os reforços anunciados demonstram que o governo “reconhece que na altura desenhou mal o Orçamento do Estado”, mas denunciam um “desnorte total, porque de repente parece que se o setor aumentar os protestos vai pingando mais alguma coisa”.

O CENA-STE e a Plateia – Profission­ais Artes Cénicas convocaram manifestaç­ões para sexta-feira em Lisboa, Porto, Coimbra e Funchal, para exigir um novo modelo de apoio às artes.

Do lado político, o PCP e o BE pediram a audição com carácter de urgência do ministro da Cultura. Os bloquistas querem ainda ouvir a diretora-geral das Artes, Paula Varanda. Com MARINA MARQUES

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Luís Filipe Castro Mendes disse ontem à noite, na RTP, que o governo está aberto ao diálogo

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