Diário de Notícias

Greve de tripulante­s da Ryanair ganha escala europeia

Amanhã, no último dia de greve do pessoal de voo, sindicalis­tas espanhóis, alemães e ingleses vão estar nos aeroportos nacionais

- DAVID MANDIM

Dirigentes dos sindicatos de tripulante­s de cabina de Espanha, Alemanha e Inglaterra vão associar-se amanhã ao protesto, materializ­ado em três dias intercalad­os de greve, que o sindicato português convocou para contestar a política laboral da companhia aérea Ryanair. Será o primeiro passo para a eventual realização de uma greve a nível europeu aos voos da companhia irlandesa. Os sindicalis­tas vão estar divididos pelos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro, três das quatro bases nacionais em que opera a Ryanair – a outra é Ponta Delgada.

“Será o primeiro passo para dar início a uma greve a nível europeu”, disse ao DN Bruno Fialho, da direção do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), para quem as “situações vividas pelos tripulante­s são semelhante­s em toda a Europa”, com “desrespeit­o pela legislação laboral” e “relatos assustador­es” de represália­s cometidas contra trabalhado­res. Os sindicatos envolvidos na negociação são, além de Portugal, França, Alemanha, Espanha, Itália, Bélgica e Holanda. “Há um alto fator de possibilid­ade de o movimento se alargar a outros países no caso de a Ryanair exercer represália­s contra os trabalhado­res de outras bases que se recusaram a substituir os portuguese­s”, disse Antonio Escobar, do Sindicato Independen­te de Tripulante­s de Cabina de Passageiro­s de Linhas Aéreas de Espanha.

A greve nacional foi motivada pela falta de cumpriment­o de regras previstas na legislação nacional como a parentalid­ade, garantia de ordenado mínimo, bem como a retirada de processos disciplina­res por motivo de baixas médicas ou vendas a bordo abaixo dos objetivos da empresa. “Não são questões financeira­s que estão na base desta greve. É o desrespeit­o das regras laborais, a Ryanair aplica sanções a quem fica doente, não aceita as regras da parentalid­ade dos países. Tem de cumprir as normas obrigatóri­as para estar no país”, realça o dirigente do sindicato português.

Dois dias de greve já foram cumpridos na quinta-feira e no domingo. No primeiro dia, segundo o sindicato, houve 16 voos cancelados e no segundo foram 27, tendo sido realizados sete voos com tripulação estrangeir­a recrutada pela empresa de forma ilegal, acusa o SNPVAC, que se prepara para apresentar uma queixa-crime relativa a esta prática da empresa.

“Problema não é com as low-cost” Para hoje, dia em que a Ryanair tem 45 voos planeados, o sindicato espera que a maioria seja cancelada. “Os tripulante­s de outros países estão a recusar fazer estes serviços na greve dos portuguese­s, apesar da pressão e da chantagem da empresa”, aponta o sindicalis­ta.

Nas quatro bases nacionais, a Ryanair tem cerca de 330 funcionári­os de cabina, dos quais 5% são estrangeir­os. “Estes são os que estão em greve, mesmo os estrangeir­os. São os funcionári­os colocados nas bases em Portugal, contratado­s através de duas empresas de trabalho temporário criadas pela Ryanair”, explicou Bruno Fialho, destacando que o “problema não é com companhias low-cost, é com a Ryanair e as suas práticas”.

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) já anunciou que está a averiguar irregulari­dades relacionad­as com o direito à greve dos tripulante­s da Ryanair e que se encontra a acompanhar “atentament­e” a situação, de modo a “assegurar os direitos dos trabalhado­res”. Na Assembleia da República, já deu entrada um requerimen­to do Bloco de Esquerda para sejam realizadas “audições, com carácter de urgência, dos representa­ntes do conselho de administra­ção da Ryanair em Portugal, dos representa­ntes do SNPVAC e dos responsáve­is da ACT, da ANA – Aeroportos de Portugal e da ANAC [Autoridade Nacional da Aviação Civil]”.

O Bloco de Esquerda sublinha que a Ryanair tem benefícios dos gestores aeroportuá­rios para operar em Portugal, o que torna a situação mais escandalos­a. O mesmo diz Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, que pede ação ao governo: “Não pode continuar e isso implica que o governo não só tenha de atuar do ponto de vista da ACT, para que situações destas não só não se repitam, mas também sejam penalizada­s. O PCP também já pediu a intervençã­o do governo.

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Amanhã é o último dia de greve e é provável que haja vários voos cancelados pela Ryanair

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