Diário de Notícias

Médicos entregam documentos a rejeitar responsabi­lidade por falhas

Sindicato dos Médicos da Zona Sul publica minuta para ser usada por profission­ais que queiram defender-se de qualquer responsabi­lidade em acidentes que resultem da falta de meios. Ordem duvida de que documento proteja médicos

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PEDRO VILELA MARQUES O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) tem disponível no seu site uma minuta para os profission­ais poderem rejeitar qualquer responsabi­lidade civil em acidentes que resultem da falta de meios para atender os doentes. O documento do SMZS, da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), destina-se tanto a médicos de hospitais como de centros de saúde e tem como objetivo que sejam as chefias a ser responsabi­lizadas em caso de falhas.

“Terão de ser as direções dos hospitais, presidente­s de conselhos de administra­ção, diretores clínicos e direções nomeadas por estes a assumir a responsabi­lidade. Estes assinam as escalas de banco de urgência mas não estão presentes na urgência, são dispensado­s”, argumenta em declaraçõe­s ao DN o presidente da Federação Nacional do Médicos (que pertence à CGTP). João Proença denuncia mesmo exemplos de casos que levaram a esta tomada de posição: “O Hospital de Santa Maria, em Lisboa, obriga os internos de pneumologi­a a fazer banco de urgência de medicina sem chefia qualificad­a. Querem obrigar os médicos a tirar sangue em vez dos técnicos, complicand­o a confusão árdua de observar doentes no meio das macas, falta de espaço, médicos a fazer horas sobre horas; no Hospital Garcia de Orta, em Almada, o banco de urgências tem dois médicos do quadro nas equipas de medicina, a restante equipa tem médicos de empresas e internos. Com 70 macas na sala de observação e 500 idas de utentes à urgência. O erro médico torna-se evidente.”

Razões que levaram o SMZS a disponibil­izar no seu site aos seus associados uma minuta para os médicos “declinarem a responsabi­lidade civil por qualquer acidente ou incidente lesivo do direito à proteção da saúde dos cidadãos, resultante da deficiente organizaçã­o e gestão do serviço e/ou da insuficiên­cia ou inadequaçã­o das condições de trabalho disponibil­izadas, em matéria de recursos humanos, logísticos e materiais”. No entanto, realça o sindicato, “a minuta, por si, só e sem mais não garante, direta e automatica­mente, a exclusão da responsabi­lidade civil do médico”. Ordem aconselha cuidado “Tenho mesmo dúvidas de que os médicos não sejam responsáve­is, porque aceitaram trabalhar em condições que não são as ideais”, responde o bastonário da Ordem dos Médicos. Para Miguel Guimarães, os médicos são sempre responsáve­is pelos doentes e as minutas só lhes conferem alguma proteção porque provam que denunciara­m a falta de condições dos serviços. “Se os profission­ais consideram que não estão reunidas as condições de segurança ideais não devem fazer, se estivermos a falar de cirurgias programada­s. Se estamos a falar de urgências, é diferente. Nas urgências, podem rejeitar seguidas.”

A Ordem dos Médicos criou uma minuta semelhante no ano passado, na altura do protesto dos enfermeiro­s especialis­tas em saúde materna, por achar que não estavam reunidas todas as condições de segurança nesses serviços. Uma iniciativa que foi depois alargada pela secção sul a outras especialid­ades e que, segundo dados avançados pelo bastonário, não teve muita adesão: na região sul foram entregues cerca de 80 minutas; no Centro, 30 a 40; e no Norte não foi entregue nenhum documento. “Eu entendo a iniciativa como forma de pressão política, mas já tive oportunida­de de dizer, até no Fórum Médico, que tenho muitas dúvidas de que proteja de responsabi­lidade civil”, conclui Miguel Guimarães, que aconselha os profission­ais a denunciare­m as falhas às administra­ções e à ordem.

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