Diário de Notícias

Russos insinuam que o brexit motivou ataque

Lavrov diz que ataque a Skripal pode ter sido orquestrad­o pelo governo britânico. E diz que no tempo da Guerra Fria havia regras

- CÉSAR AVÓ

A Rússia insinuou que o governo britânico, porque tinha “interesse”, pode ter sido o responsáve­l pelo envenename­nto do seu antigo agente secreto Sergei Skripal e da filha Iulia no dia 4 de março, no mais recente capítulo da crise diplomátic­a entre Moscovo e Londres.

O ministro dos Negócios Estrangeir­os russo, Sergei Lavrov, pegou ontem nas acusações de Theresa May e de Boris Johnson e devolveu-as aos remetentes. “Há outras explicaçõe­s além daquela que os nossos colegas ocidentais têm alardeado, que só a pista russa pode ser considerad­a o veredicto final”, começou por dizer. “Peritos dizem que pode ter sido vantajoso para os serviços secretos britânicos, que são conhecidos pela sua capacidade de agir com uma licença para matar. E também pode ter sido benéfico para o governo britânico, que se encontrava numa posição delicada após ter falhado as promessas aos eleitores sobre as condições do brexit”, alegou.

Lavrov reiterou que Moscovo não tinha qualquer interesse em envenenar o antigo agente duplo, mais a mais nas vésperas das eleições presidenci­ais e a meses do campeonato mundial de futebol, que decorre na Rússia. O chefe da diplomacia russa disse ainda que, se o seu país tivesse sido o responsáve­l pela execução, tê-lo-ia realizado com um “ataque sofisticad­o” que teria terminado com a “morte imediata” da vítima.

Sergei Skripal está hospitaliz­ado em estado grave, mas estável, e a filha, de 33 anos, regista melhoras, segundo o hospital de Salisbury. Os serviços consulares russos queixam-se de não terem autorizaçã­o para visitar as vítimas.

As acusações da primeira-ministra britânica no Parlamento, uma semana após o ataque aos Skripal, tiveram como resultado uma retaliação ao nível diplomátic­o que arrastou mais 24 países europeus, a Geórgia, os Estados Unidos, Canadá e Austrália, bem como a NATO. No total, mais de 300 diplomatas receberam ordem de expulsão e foram encerrados serviços consulares e culturais, caso do British Council.

Os últimos diplomatas russos declarados personae non gratae tinham até ontem à noite para regressar ao país natal.

“Como não há provas vingam-se nos diplomatas”, desabafou Lavrov. Este lembrou que Moscovo respondeu com o “princípio de reciprocid­ade”. Tal como recordou que enviou um conjunto de questões sobre o ataque ao ministério tutelado pelo seu homólogo, Boris Johnson. “A incapacida­de do Reino Unido em responder significa que tudo isto é uma invenção e mais concretame­nte uma provocação flagrante.”

Sobre o clima vivido, o ministro russo notou que em certa medida a “situação é pior do que durante a Guerra Fria”, porque dantes ambas as partes “seguiam regras e costumes” e hoje os poderes ocidentais espalham “mentiras descaradas e desinforma­ção”.

Trump propôs encontro De Moscovo veio ontem a indicação de que Donald Trump propôs receber Vladimir Putin na capital norte-americana. “Quando os presidente­s falaram ao telefone Trump sugeriu realizar uma reunião em Washington”, revelou o assessor do presidente, Yury Ushakov. A conversa teve lugar no dia 20 de março, quando Trump felicitou Putin pela vitória nas eleições presidenci­ais. Os líderes falaram também sobre a corrida às armas e terrorismo.

Não houve entretanto qualquer avanço nesse sentido, informou Ushakov. Os Estados Unidos expulsaram 60 diplomatas russos e fecharam o consulado de Seattle devido ao caso Skripal. “Quero acreditar que vão começar”, comentou o assessor, em referência aos preparativ­os para se estabelece­r uma data para o encontro entre os dois chefes de Estado.

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Ministro dos Negócios Estrangeir­os, Sergei Lavrov, atacou governo de Theresa May

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