438 DIAS DE ERA TRUMP COM NOVO ATAQUE AO MÉXICO – AINDA SEM VISITA OU MURO
Presidente apelou a republicanos para usarem “bomba atómica” e aprovarem uma lei da imigração que trave as “caravanas” de imigrantes, declarou morto o DACA e garantiu que vizinho do Sul ganha “uma fortuna” com o NAFTA
Se Ronald Reagan atravessou a fronteira sul em janeiro de 1981 antes de assumir a presidência, mas já eleito, e GeorgeW. Bush em 2001 fez questão que a sua primeira visita como presidente fosse ao México, Bill Clinton só no segundo mandato foi recebido pelo homólogo mexicano Ernesto Zedillo e Bush pai demorou quase dois anos a fazer a sua única visita ao México. Não é portanto de espantar que, passados 438 dias, Donald Trump ainda não tenha sido recebido por Enrique Peña Nieto. Mas essa visita arrisca-se a continuar adiada, sobretudo depois de uma nova diatribe contra o vizinho do Sul, que acusou ontem de “ganhar uma fortuna” com o NAFTA, o acordo de comércio livre com os EUA e o Canadá, e de “fazer muito pouco, para não dizer NADA” para impedir a passagem de ilegais pela sua fronteira que vêm “roubar o país” aos americanos.
Depois de um seco “Páscoa Feliz!”, Trump terminou o domingo com uma série de tweets em que denuncia a impossibilidade de os guardas fronteiriços fazerem o seu trabalho, chamando a atenção para as “caravanas” de imigrantes ilegais que estão a caminho dos EUA e apelando aos republicanos para acabarem com o DACA, o programa criado por Barack Obama para garantir o direito de trabalho e residência a 800 mil filhos de imigrantes ilegais entrados nos EUA quando eram menores. E voltou a sublinhar a necessidade de construir um muro ao longo dos mais de três mil quilómetros de fronteira com o México.
Ontem de manhã, o presidente americano retomou o tema, ainda no Twitter, afirmando que o México “tem leis fronteiriças muito fortes – as nossas são patéticas”.
A fixação de Trump no muro com o México é tudo menos nova. Logo em junho de 2015, no dia em que lançou a campanha para as presidenciais, o milionário provocou indignação ao afirmar: “Quando o México manda pessoas, não está a mandar os melhores. Está a mandar pessoas que têm muitos problemas e trazem esses problemas com eles. Trazem drogas e trazem criminalidade. São violadores e alguns, admito, serão boas pessoas.” Antes de acrescentar: “Vou construir um grande muro e ninguém constrói muros melhor do que eu.Vou construir um grande muro na fronteira sul. E vou fazer o México pagá-lo.”
Apesar destas e de outras afirmações semelhantes por parte do então candidato republicano, o presidente Enrique Peña Nieto convidou Trump para uma vista ao México em setembro de 2016. Os dois homens surgiram lado a lado, com Trump a elogiar os mexicanos e a chamar “amigo” ao homólogo mexicano, saudando a colaboração na luta contra a imigração ilegal e o tráfico de droga. Mas nem recuou nas suas principais propostas e, mal voltou aos EUA, reafirmou a intenção de construir o muro. E obrigar o México a pagar.
Já na Casa Branca, a tensão com o vizinho do Sul levou mesmo ao cancelamento em fevereiro de uma visita de Peña Nieto à Casa Branca.
E com os mexicanos firmes na recusa de pagar, neste momento, o
muro – numa fronteira ao longo da maior parte da qual já existe uma vedação – continua à espera de financiamento. Tudo porque o orçamento assinado por Trump há dias prevê 1,6 mil milhões de dólares para este projeto, mas o Departamento de Segurança Interna estima que o muro custe mais de 20 mil milhões. Segundo o The Washington Post, Trump estaria a pensar recorrer ao orçamento militar para pagar o seu projeto, mas esse dinheiro destina-se a programas específicos e desviá-lo para outro fim não será assim tão fácil.
Ontem Trump voltou a apelar ao Congresso para aprovar novas leis da imigração mais duras. “Usem a bomba atómica se necessário, para travar a entrada maciça de drogas e pessoas... Ajam agora, Congresso, o nosso país está a ser roubado!” A bomba atómica refere-se a um procedimento que permitiria ao Senado aprovar a lei por maioria simples e não por dois terços. Os republicanos têm maioria em ambas as câmaras do Congresso, mas apenas por um voto no Senado.
Depois de ter suspendido o DACA e ter exigido ao Congresso uma solução para os chamados dreamers, Trump chegou a defender que o programa para jovens ilegais entrados nos EUA ainda menores abrangesse 1,8 milhões de pessoas em vez dos 800 mil protegidos por Obama. Mas no domingo tuitou a sua fúria com as negociações. “Há caravanas a caminho. Os republicanos devem usar a bomba atómica para aprovar leis mais duras AGORA! ACABOU-SE O ACORDO SOBRE O DACA!”, escreveu.
Ao mencionar as “caravanas”, Trump refere-se a um grupo de 1500 homens, mulheres e crianças originários de países como Honduras, Guatemala e El Salvador que atravessam o México numa “caravana de refugiados” organizada pela ONG Pueblo sin Fronteras, sediada nos EUA. Ao viajar em grupo, os imigrantes esperam proteger-se do crime e da extorsão que tornam as rotas pelo México perigosas. A ONG garante que apenas alguns pretendem pedir asilo nos EUA após atravessarem a fronteira.
Com a campanha para as presidenciais mexicanas de julho a ter arrancado no domingo, os principais candidatos à sucessão de Peña Nieto reagiram às palavras de Trump. O favorito, Andres Manuel López Obrador (AMLO, como é conhecido), defendeu o NAFTA e garantiu que o seu país não vai ser o saco de pancada de nenhum outro país. Uma eventual vitória do candidato de esquerda pode significar um tom mais duro em relação a Washington. Mas AMLO não foi o único a responder a Trump. O conservador Ricardo Anaya Cortés desafiou o presidente americano a resolver os problemas de segurança do seu lado da fronteira.