No PSD “todos sabem que Montenegro é o senhor que se segue”
Ex-líder parlamentar despediu-se ontem. No partido dizem que não será preciso fazer oposição aberta a Rui Rio
“Existe sim a obrigação de ganhar as duas eleições do próximo ano. Queremos vencer as duas”
LUÍS MONTENEGRO
ANTIGO LÍDER PARLAMENTAR DO PSD
No último congresso do PSD perfilou-se como futuro candidato à liderança do partido. Agora que Luís Montenegro sai de cena do Parlamento, onde exerceu a liderança da bancada do PSD, será uma sombra para Rui Rio? O ex-líder parlamentar social-democrata garante que não. E quem o conhece bem no partido acredita.
“Depois do congresso, toda a gente sabe que é o senhor que se segue”, afirmou ao DN uma destacada fonte social-democrata, que sublinha que o trajeto de Rui Rio determinará se demorará mais ou menos tempo a concretizar-se a ambição de Montenegro de avançar para uma candidatura à presidência do PSD. “Ele está lançado, não tem de fazer oposição”, sublinha outra fonte parlamentar.
O jantar de despedida ao deputado Montenegro, na quarta-feira à noite, num restaurante à beira-Tejo, também não foi uma rampa de lançamento para uma oposição interna à atual liderança do PSD. Nele participaram, é certo, boa parte da anterior direção do PSD, incluindo Pedro Passos Coelho, mas também estiveram presentes outras figuras que estão neste momento com Rui Rio, entre os quais José Silvano, secretário-geral do partido, e Fernando Negrão, presidente da bancada do PSD.
Foi, aliás, Negrão o primeiro dos quatro participantes no jantar a fazer o primeiro discurso e não escondeu que “todos sabemos que o Luís vai longe”. Seguiram-se Couto dos Santos e Marques Mendes. Este último elogiou, entre outras coisas, o carácter do antigo líder parlamentar e a sua “coragem política”, ao ter liderado a bancada no tempo da troika e por ter assumido frontalmente no congresso que é uma reserva para a sucessão de Rui Rio, contaram ao DN. Passos foi o último a falar e não conteve elogios.
Os ex-ministros Aguiar-Branco, Miguel Relvas, Marques Guedes e Paulo Macedo, atual presidente da CGD, estiveram à beira-Tejo a ouvir os elogios. Tal como os antigos vice-presidentes do PSD Marco António Costa, Teresa Morais e Teresa Leal Coelho. Rio e Santana foram convidados, mas não compareceram.
Ontem, com um sorriso nos lábios, Montenegro, pouco antes de se despedir da Assembleia da República, 16 anos depois de ter iniciado o seu percurso como parlamentar, deixou a promessa de continuar a fazer oposição ao governo de Costa, depois de questionado sobre se iria andar por aí a opor-se a Rui Rio. “Não creio que haja oposição interna no PSD”, disse. Para Montenegro, o PSD teve eleições há pouco tempo, tem um novo líder e uma nova direção. Não tem de se colocar na grelha de partida para qualquer desafio eleitoral a Rio. “Esse quadro não existe hoje.” Existe, sim, avisou, a obrigação de ganhar as duas eleições do próximo ano. “Queremos vencer as duas”, reiterou. Traçando uma definição do PSD, de um partido que existe “para governar” e para “transformar o país”, Luís Montenegro repetiu o caderno de encargos que já tinha deixado no congresso. “Rui Rio está obrigado a manter esta ambição viva”, a de governar. “Nós existimos para governar e transformar o país.” Falando aos jornalistas no final do encontro com o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, o antigo líder parlamentar fez questão de dizer que sai “com muita tranquilidade” e “muito ciente” do passo que está a dar.