Diário de Notícias

43 candidatur­as ganham apoio com novo reforço anunciado por Costa

Debate ficou marcado pela contestaçã­o aos apoios às artes. Verba inicial do concurso de 64 milhões chega agora a 81,5 milhões

- MIGUEL MARUJO e MARINA MARQUES

Com o governo sob pateadas e apupos do mundo das artes, o primeiro-ministro desdobrou-se ontem em explicaçõe­s e justificaç­ões sobre os dinheiros para o setor. Primeiro através de uma iniciativa inédita, uma carta aberta publicada no portal do governo, depois no debate quinzenal na Assembleia da República, com todas as bancadas a falarem do tema. Sem conseguir convencer: os artistas, que mantiveram os protestos marcados para hoje, os parceiros parlamenta­res do PS e os partidos da oposição.

Para PEV, BE e PCP, por esta ordem de intervençã­o, o que falta às artes sobra para os bancos. “O financiame­nto é claramente insufi- ciente” e “os reforços” de verbas feitos “são minúsculos”, apontou a ecologista Heloísa Apolónia. “O governo esteve mal, o Orçamento é insuficien­te, está menos bem distribuíd­o”, sintetizou a bloquista Catarina Martins. António Costa argumentou junto dos seus parceiros que está a fazer melhor, depois dos “brutais cortes” do governo anterior e prometeu rever o modelo de financiame­nto do setor, após uma avaliação a esse modelo. O secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, já tinha aberto idêntica porta, depois de admitir erros, na terça-feira à noite.

Logo às sete da manhã, Costa ensaiava o primeiro controlo de danos após a crescente contestaçã­o dos agentes da cultura com uma “Resposta aberta à cultura”: “Nos últimos dias, vários criadores culturais têm-me contactado publicamen­te a propósito do novo regime de apoio às artes. Não podendo responder individual­mente a cada um, recorro a esta forma de resposta pública às questões que têm sido apresentad­as.” E aí relembrava um anúncio já feito a 20 de março, “em conjunto com o ministro da Cultura”, de “um reforço anual de dois milhões de euros para o orçamento de apoio às artes”. Ao qual acrescenta­va um outro reforço, agora de 2,2 milhões de euros.

À tarde repetiria estes argumentos no Parlamento, notando que com este reforço serão apoiadas mais 43 entidades, que se somam às 140 inicialmen­te aprovadas. Na carta, Costa explica que este reforço foi decidido depois de “constatar, pela dinâmica das candidatur­as a concurso, que havia um sério risco de vários projetos merecedore­s de aprovação por parte dos júris poderem vir a não ser contemplad­os”.

Onde falhou esta explicação que provocou aquela que é, segundo Fernando Negrão, líder parlamenta­r do PSD, “a maior contestaçã­o que existe na cultura desde o 25 de Abril”? Costa admitiu que o novo modelo de apoio, implementa­do neste ano, “pode potencialm­ente ser corrigido”. A esquerda não deixou de ironizar com o súbito amor da direita pelas artes, como criticou Catarina Martins ao recordar uma frase antiga de Rui Rio, quando era presidente da Câmara do Porto: “Quando ouço falar de cultura saco logo da máquina de calcular.” Mais 43 estruturas apoiadas Com o novo reforço, “o valor total destinado aos concursos de apoio sustentado para o ciclo 2018-2021 correspond­e a 81,5 milhões de euros”, esclareceu uma nota do ministério, notando que, “respeitand­o os períodos de audiência prévia previstos na lei, os resultados dos concursos podem ainda vir a ter alterações”. Recorde-se que foi lançado com a verba inicial de 64 milhões de euros.

Centro Dramático de Évora, Orquestra de Câmara Portuguesa, A Escola da Noite, O Teatrão, c.e.m – centro em movimento, Cão Danado, Teatro dos Aloés, Chão de Oliva, Teatro Animação de Setúbal, Teatro Estúdio Fontenova e Teatro das Beiras e Teatro Experiment­al de Cascais são algumas das 43 candidatur­as que agora se podem juntar às 140 iniciais. Contactado­s pelo DN, Carlos Avilez (do TEC) e José Russo (Cendrev) disseram querer esperar pelos resultados antes de comentar este possível financiame­nto às suas companhias.

Quanto aos protestos, esses não perderam força. Quem o garante é Carlos Costa, da Plateia, uma das estruturas envolvidas na dinamizaçã­o das mobilizaçõ­es marcadas para hoje, às 18.00, em Lisboa, Porto, Coimbra, Beja, Funchal, Angra do Heroísmo e Ponta Delgada.

“Temos de reconhecer o esforço que o primeiro-ministro fez para tentar corrigir uma suborçamen­tação que estava a estrangula­r o setor”, refere. Mas o problema, defende, “é mais vasto e tem que ver também com o património, a arqueologi­a, o cinema, os museus, as biblioteca­s, os arquivo, com todo o setor da cultura, que funciona com 0,2% do orçamento do Estado, um dos níveis mais baixos em termos relativos entre os países da OCDE”.

Por isso, Carlos Costa sustenta: “Este é o momento certo para pensar a afetação orçamental à cultura.” Nesse sentido, “as mobilizaçõ­es de amanhã continuam convocadas porque é preciso sublinhar a ideia de que não se trata de algo que se resolva apenas com a correção deste concurso.

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António Costa defendeu ontem, no Parlamento, o trabalho da equipa do Ministério da Cultura

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