Diário de Notícias

Foi entregue ao governo um projeto com regras de fiscalizaç­ão e formação no setor

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Um conjunto de propostas para a definição de novas regras de fiscalizaç­ão e formação para a indústria de pirotecnia está parado na gaveta do governo há cerca de dois anos. A denúncia é da Associação Portuguesa dos Industriai­s de Pirotecnia e Explosivos (APIPE) – que representa a maioria das empresas portuguesa­s que operam neste setor – que aguarda por mudanças na legislação que ajudem a evitar acidentes com explosivos semelhante­s ao que aconteceu anteontem durante uma procissão em Gondelim (Penacova), que provocou a morte de uma pessoa e 24 feridos.

Carlos Macedo, presidente da APIPE, explicou ao DN que há cerca de dois anos a sua associação e o Departamen­to de Armas e Explosivos da Polícia de Segurança Pública (PSP) elaboraram um projeto que “nunca chegou a ver a luz do dia”. Na proposta, foram apresentad­as várias sugestões que visavam, sobretudo, melhorar a segurança de quem manuseia os explosivos. Nos últimos 13 anos, morreram 21 pessoas em fábricas de pirotecnia.

De acordo com o presidente da APIPE foi proposta uma nova regulament­ação da formação profission­al específica necessária na área da pirotecnia. “Sugerimos que fosse criado um conteúdo programáti­co teórico e prático comum a todas as entidades responsáve­is por formarem os profission­ais desta área”, destacou. Neste projeto, a ação das entidades formadoras continuari­a a ser supervisio­nada pela PSP. Atualmente, cabe ao Departamen­to de Armas e Explosivos da PSP aprovar a formação que é dada aos trabalhado­res e empresas com certificad­os válidos por dois anos.

A Associação Nacional de Empresas de Produtos Explosivos (ANEPE) também reconhece que muitos dos acidentes que ocorrem poderiam ser evitados se fossem mudadas as regras de fiscalizaç­ão à atividade. Victor Machado, membro da direção da ANEPE, considera necessário formação profission­al comum a toda a indústria da pirotecnia.

Na opinião de Carlos Macedo, “a pouca representa­tividade económica da indústria dificulta o acesso a apoios do Estado e da União Europeia”. A exceção está no Programa Formação-Ação, promovido pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI). Ao abrigo deste programa as empresas de pirotecnia associadas à APIPE, por exemplo, têm conseguido realizar formações internas não só ao nível dos procedimen­tos de segurança, como também ao nível das caracterís­ticas técnicas de fabrico e utilização dos artigos pirotécnic­os. A supervisão fica a cargo de trabalhado­res das respetivas empresas, formados em Engenharia Química ou equivalent­e. Frequentem­ente, são levadas a cabo formações para o transporte de mercadoria­s perigosas, custeadas pelas próprias empresas, explica Carlos Macedo.

A falta de proporcion­alidade nas taxas aplicadas à utilização de artigos pirotécnic­os é também alvo de críticas. Por cada licença atribuída, é obrigatóri­o o pagamento de taxas à respetiva autarquia e ao corpo de bombeiros local. Os valores taxados são os mesmos em todo o país, independen­temente da localizaçã­o. Esta situação “favorece a clandestin­idade e o cresciment­o da atividade ilegal”, diz Carlos Macedo. S.F.

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