Diário de Notícias

As regras que fazem do Masters de Augusta o torneio mais elitista

“Se tem de pedir para ser sócio, não é bem-vindo”, é uma espécie de lema em Augusta National. Casaco verde é o principal símbolo da tradição e o prémio por que todos anseiam

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RUI FRIAS O casaco verde mais cobiçado do mundo é o grande cartão-de-visita do Masters, mas apenas uma de muitas particular­idades do mais famoso e elitista torneio de golfe, que decorre até domingo. O clube de Augusta National, na Georgia (EUA), que recebe anualmente o primeiro dos quatro majors do calendário – e o único que é disputado sempre no mesmo local –, gaba-se das tradições que cultiva há décadas e que deixaram, por exemplo, o multimilio­nário Bill Gates durante anos à espera para ser admitido (ou melhor, convidado) como membro.

Essa é uma das regras de ouro do clube fundado em 1932 pelo lendário Bobby Jones, antigo campeão amador dos Estados Unidos e uma das figuras mais influentes da história da modalidade: quem tem de pedir para ser membro não é bem-vindo. Bill Gates, o guru fundador da gigante tecnológic­a Microsoft, percebeu isso nos anos 1990, depois de ter feito saber de forma pouco discreta que gostaria de entrar para o grupo de pouco mais de 300 membros (o número exato não se conhece oficialmen­te) do Augusta National Golf Club. Ou seja, nunca pedir para ser admitido como membro, por muito rico e poderoso que seja. Em Augusta, não é que a admissão não se compre. Compra-se, sim, e custa algo à volta de 50 mil dólares anuais (cerca de 40 mil euros), segundo algumas raras “fugas de informação”. Mas só depois de receber um convite da direção.

Bill Gates acabaria por receber o convite anos mais tarde e é hoje um dos membros do clube, ao lado de outros multimilio­nários comoWarren Buffett ou Dirk Ziff, de uma vasta lista de CEO de algumas das mais poderosas empresas americanas e multinacio­nais, personalid­ades do mundo do desporto, como o comissário da NFL (liga de futebol americano) Roger Goodell, e antigos governante­s como a ex-secretária de Estado da administra­ção de George W. Bush, Condoleezz­a Rice, uma das primeiras mulheres admitidas pelo Augusta National Golf Club (atualmente conhecem-se quatro, a última delas a espanhola Ana Botín, presidente do Banco Santander), apenas em 2012, depois de vários anos de “luta” das organizaçõ­es em defesa da igualdade de género terem tornado socialment­e indefensáv­el a exclusivid­ade masculina de Augusta – que também tardou a admitir o primeiro sócio negro (Ron Townsend, presidente do grupo Garnett Television, em 1990).

Mas não é apenas no regime de admissão que se faz sentir o ambiente exclusivo do Augusta National. No Masters, que o clube organiza desde 1934, acumulam-se tradições que fazem deste um torneio único e, segurament­e, o mais apetecido para qualquer golfista – também eles sujeitos a condições de admissão mais restritas do que na maioria dos outros torneios e a um convite enviado por correio.

Não correr, não deitar, não pescar os sacos com os tacos), que até 1982 eram negros e funcionári­os do clube, têm como dress code obrigatóri­o uma espécie de fato-de-macaco completame­nte branco. E os espectador­es (patronos, perdão) que têm a felicidade de obter um dos raros bilhetes disponibil­izados ao público (para lá dos distribuíd­os pelos 300 membros e seus convidados), a preços que este ano rondaram os 6000 euros para os quatro dias (quinta a domingo), têm uma extensa lista de regras a cumprir.

Telemóveis ou aparelhos eletrónico­s? Não entram. Correr? É melhor não. Deitar-se na relva? Nem pensar. Gorjetas? Proibido. Pedir autógrafos aos jogadores? Só nos dias de treino anteriores ao torneio. E a lista de restrições continua: não andar descalço, não utilizar bonés ao contrário, não levar arcas com bebidas, nada de referência­s a marcas e... não pescar nos lagos. Mesmo (esse foi um privilégio exclusivo de Dwight Eisenhower, presidente americano entre 1953 e 1961).

Mas nada simboliza tão bem a tradição do Masters de Augusta como o casaco verde pelo qual lutam os 87 jogadores que ontem começaram a participaç­ão na edição deste ano. O casaco, introduzid­o em 1937 para identifica­r os membros do clube, passou em 1949 a ser entregue também aos vencedores (Sam Snead foi o primeiro), que têm direito a usá-lo durante um ano, até à edição seguinte – além de ganharam direito vitalício a participar no Masters. Mas nem isso lhes garante um lugar entre os sócios do Augusta National Golf Club.

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