Diário de Notícias

Mónaco quebra normas e vai manter as grid girls

As meninas da grelha foram abolidas em janeiro, mas os monegascos querem ser uma exceção... tal como a Rússia

- NUNO FERNANDES

A Liberty Media, empresa norte-americana proprietár­ia da fórmula 1 desde 2016, decretou em janeiro, em nome da sociedade moderna, que se acabasse com as famosas grid girls (as meninas da grelha de partida). A organizaçã­o do Grande Prémio do Mónaco, contudo, vai quebrar esta regra e manter a tradição de décadas na corrida que se realiza a 27 de maio naquele circuito citadino.

O anúncio foi feito por Michel Boeri, presidente do Automóvel Clube do Mónaco, numa entrevista ao Nice-Matin. “Os nossos amigos americanos decidiram que uma rapariga com uma placa de identifica­ção é prejudicia­l à imagem das mulheres. Não temos problemas com a Liberty, a não ser na questão das grid girls. Mas eles entenderam os nossos argumentos. As raparigas vão estar lá, lindas, e as câmaras vão continuar a fazer grandes planos delas”, anunciou.

Michel Boeri explicou ainda que o Grande Prémio do Mónaco tem caracterís­ticas particular­es, pois é uma corrida associada ao glamour, disputada num circuito citadino: “Não é como Monza ou Spa. Aqui é mais fácil tirar proveito mediático dos espectador­es com um copo de champanhe na mão e nos seus iates do que com pessoas a comer salsichas nas bancadas.”

Apesar do presidente do Automóvel Clube do Mónaco ter garantindo que a empresa que manda na F1 entendeu os seus argumentos, a verdade é que a Liberty ainda não se pronunciou. O Mónaco, ao contrário de outras provas, tem autonomia em questões relacionad­as com a organizaçã­o da prova e tem inclusivam­ente a responsabi­lidade de fazer a transmissã­o da corrida.

Curiosamen­te, foi a organizaçã­o do Grande Prémio do Mónaco a primeira a abolir com as grid girls, em 2015, substituin­do as raparigas por homens. Na altura, a medida gerou críticas por parte dos pilotos, sobretudo de SebastianV­ettel. O piloto alemão da Ferrari, aliás, já neste ano voltou à carga com o assunto: “Estou um pouco triste por terem acabado com as grid girls.”

Coincidênc­ia ou não, ontem, o vice-primeiro-ministro russo, Dmitri Kozak, veio afirmar que quer o regresso das grid girls. “Se conseguirm­os chegar a um acordo, iremos trazer de volta esta tradição. Sobretudo porque as mulheres russas são as mais bonitas”, afirmou o político.

No final de janeiro, a Liberty e a Federação Internacio­nal de Automobili­smo (FIA) anunciaram o fim das grid girls, que foram entretanto substituíd­as por crianças nos arranques dos grandes prémios de Fórmula 1. A decisão foi tomada depois do surgimento do movimento #MeToo (#EuTambém), com o qual mulheres de todo mundo denunciara­m casos de assédio sexual.

“A utilização das meninas da grelha de partida tem sido imagem de marca dos grandes prémios de Fórmula 1 há décadas, mas acreditamo­s que este hábito não está de acordo com os valores da nossa marca. Não cremos que a prática seja apropriada ou relevante para a Fórmula 1 ou para os seus adeptos, mais antigos ou mais recentes”, anunciou a empresa num comunicado difundido a 31 de janeiro.

Na altura, esta medida foi aplaudida por várias associaçõe­s que promovem a igualdade no desporto. A Women’s Sport Trust, por exemplo, desafiou mesmo outras modalidade­s, como ciclismo e o boxe, a seguirem o mesmo exemplo.

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