Portugal já cumpriu dois terços do plano de financiamento
Tesouro fez ontem a segunda maior emissão de dívida do ano. Colocou três mil milhões em obrigações do Tesouro a 15 anos. Juro ficou acima de 2,3%
Portugal regressou ontem às emissões de dívida de grande dimensão. A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) avançou para uma operação, com recurso a sindicato bancário, que permitiu obter financiamento de três mil milhões de euros em títulos com um prazo superior a 15 anos, a troco de uma taxa de 2,325%. Foi a segunda maior emissão do ano. Em janeiro, o Tesouro tinha colocado quatro mil milhões em dívida a dez anos, também com recurso a um sindicato bancário.
Com a operação de financiamento de ontem, Portugal já foi buscar aos mercados 9500 milhões de euros desde o início do ano. O Estado executou, ainda em abril, cerca de dois terços do plano de financiamento de 2018. O objetivo do ano é obter 15 mil milhões de euros em obrigações do Tesouro, instrumentos de dívida de médio e longo prazo e que são a principal fonte de financiamento. Para o diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa, Filipe Silva, a emissão de ontem, de títulos que atingem a maturidade em 2034, “foi o que o país precisa: dívida com prazos longos e com taxas baixas ou, pelo menos, pagáveis”.
O IGCP avançou com a emissão cerca de uma semana e meia antes de a Moody’s se manifestar sobre o rating. Esta é a única das três grandes agências que ainda avalia Portugal com uma classificação vista como lixo pelos mercados. E deve pronunciar-se sobre Portugal a 20 de abril. A Standard & Poor’s e a Fitch melhoraram a avaliação para grau de investimento nos últimos meses de 2017. Isso permitiu que as obrigações portuguesas entrassem no radar de investidores mais conservadores, como fundos de pensões, e de gestoras de ativos que replicam índices em que apenas entram títulos com classificação acima de lixo.
Essa melhoria tem permitido que as taxas de juro da dívida portuguesa desçam, levando o Tesouro a aproveitar as boas condições de mercado. O custo das emissões feitas pelo Estado este ano é de 2%, segundo os dados mais recentes do IGCP, que não incluem ainda a operação de ontem. É o preço mais baixo de sempre. No ano passado, as emissões de dívida tiveram um custo médio de 2,6%. Procura acima de 16 mil milhões O objetivo inicial para a emissão de ontem era obter 2500 milhões de euros de financiamento. Mas o IGCP explicou que “para satisfazer o tremendo apetite” dos investidores a operação foi revista em alta para três mil milhões.
A procura pelos títulos a 15 anos foi de 16,2 mil milhões de euros. A título de exemplo, esse valor é superior às necessidades de financiamento do Estado este ano. Mais de 300 investidores participaram na emissão. “Houve uma grande participação de investidores do Reino Unido, França, Itália e Espanha”, referiu a agência liderada por Cristina Casalinho num comunicado. Os investidores portugueses absorveram pouco mais de 7% da dívida emitida.
As gestoras de ativos e os bancos foram o tipo de investidores com maior peso na operação. Ficaram com mais de metade da emissão. A operação atraiu também fundos especulativos (hedge funds), que tendem a não deter os títulos por períodos muito longos. Ficaram com quase 15% da dívida emitida ontem.
A execução rápida do plano de financiamento é vista de forma positiva pelos analistas. Até porque na segunda metade do ano existe o risco de alguma instabilidade nos mercados de dívida da zona euro, devido ao fim do programa de compras do Banco Central Europeu (BCE). A instituição liderada por Mario Draghi compromete-se a manter as compras mensais de 30 mil milhões até, pelo menos, setembro deste ano. E os investidores aguardam pelo que o BCE irá fazer depois dessa data: terminar com o programa ou mantê-lo por mais alguns meses, mas a um ritmo mais reduzido.