Diário de Notícias

Uma nova ponte que em 2022 será como uma rua urbana a ligar Porto e Gaia

Mobilidade. Autarcas de Porto e Gaia avançam com a sétima travessia no Douro, a construir em quatro anos. Câmaras assumem o custo de 12 milhões de euros e o falecido bispo D. António Francisco dos Santos dará o nome à nova ponte

- DAVID MANDIM

A ideia de construir uma nova ponte no rio Douro a ligar Porto e Gaia não é nova e até já existiam vários estudos, com diferentes localizaçõ­es e caracterís­ticas distintas. O local – Campanhã (Porto) e Areinho (Oliveira do Douro) – onde será instalada uma nova travessia, ontem anunciada pelos autarcas Rui Moreira e EduardoVít­or Rodrigues, presidente­s das câmaras do Porto e de Vila Nova de Gaia, respetivam­ente, segue um desses projetos, concebido há anos pelo engenheiro Adão da Fonseca, um catedrátic­o da Faculdade de Engenharia da Universida­de do Porto que tem já a assinatura em diversas pontes nacionais, incluindo a do Infante, no Douro.

“O local escolhido é o melhor. Nem vejo alternativ­a. Quando fiz o estudo para a Câmara de Gaia conclui que era o ideal. Permite a requalific­ação de duas zonas em ambas as margens que necessitam de valorizaçã­o”, contou ao DN o engenheiro Adão da Fonseca, que diz não ter sido agora consultado mas ouviu Rui Moreira, na apresentaç­ão do projeto, a realçar a importânci­a do seu estudo para esta nova travessia que será à cota baixa, numa extensão de 250 metros, entre as pontes de São João e a do Freixo. Os custos serão de 12 milhões de euros, a serem suportados pelas duas autarquias, com a previsão de quatro anos para a sua conclusão.

Quando partiu para o estudo de uma ponte, Adão da Fonseca verificou que era simples executar naquele local. “Do lado do Porto, a zona de Campanhã precisa de requalific­ação e o espaço é bom. Previa uma rotunda para a ligação à marginal do Douro. Em Gaia, no Areinho, uma zona paradisíac­a, com praia e área verde, podemos ter o mesmo objetivo”, explicou.

Ouvido pelo DN, o presidente da Câmara de Gaia revelou que estas bases, lançadas ainda quando Luís Filipe Menezes era autarca, serviram de “ponto de partida” para o projeto atual. “Esse estudo do professor Adão da Fonseca foi tido em conta. Foi de facto a inspiração principal

milhões de euros de custo Câmaras de Porto e Gaia dividem o pagamento. Concurso para o projeto será lançado neste ano, no próximo avança o concurso para construção. até porque foi realizado pelo maior conhecedor das pontes do Porto, o atual Edgar Cardoso”, disse EduardoVít­or Rodrigues.

O autarca explica que a necessidad­e de uma nova travessia é evidente. “A situação está caótica. A ponte da Arrábida era um atravessam­ento regional, não era uma ponte urbana, e hoje está saturada. A ponte do Freixo foi também concebida como um grande atravessam­ento entre autoestrad­as, uma ligação da A1. À Ponte Luís I foi retirado um tabuleiro para o metro. A do Infante deixou muito a desejar na ligação às cidades. Por isso, uma nova ponte faz sentido, significa um novo polo de cresciment­o, com vantagens para os moradores, económicas e turísticas”, explicou.

Rui Moreira adiantou na apresentaç­ão, no Laboratóri­o Edgar Cardoso, que esta nova ligação permitirá prosseguir a política de mobilidade articulada entre os dois território­s, que avançará, numa fase posterior, por pedonaliza­r o tabuleiro inferior da Ponte Luís I e intervir na Ponte Maria Pia (ferroviári­a e atualmente desativada), tornando-a transitáve­l a peões e bicicletas.

Como a área de intervençã­o está fora de zonas de património protegido, Moreira frisou que, além de não haver necessidad­e de pedidos de financiame­nto, as câmaras têm liberdade para avançar. “Não precisamos de pedir nada ao senhor ministro das Infraestru­turas e também não precisamos do Ministério da Cultura.”

Eduardo Vítor Rodrigues adiantou ao DN que o caderno de encargos para o projeto, ainda a ser elaborado, terá em conta a coerência da nova estrutura com as atuais pontes. “Os materiais devem respeitar a história das pontes no Douro, com o ferro fundido e o betão a

serem os principais”, disse, consideran­do realista o prazo de execução em quatro anos e a previsão de custo de 12 milhões de euros. O autarca revelou ainda que a travessia deve ter apenas duas faixas rodoviária­s, uma em cada sentido, mais as faixas pedonais e de ciclovia.

Esta base agrada a Adão da Fonseca. “É importante que tenha uma faixa só para cada lado, e até nem precisa de separador, na minha opinião. Uma ponte como esta deve ter o movimento normal de uma rua. Será urbana”, sublinhou.

O engenheiro considera que os estudos que fez para outras pontes devem ser considerad­os no futuro. “Uma ponte pedonal junto à Luís I faz sentido. E uma travessia rodoviária em Massarelos, à cota baixa, também é possível”, afirma, convicto de que Porto e Gaia “têm de trabalhar em conjunto, apesar de não serem uma cidade única formam um centro único”. É a grande diferença em relação a Lisboa e ao Tejo. “As duas margens estão muito distantes, são independen­tes uma da outra.”

Foi já anunciado que D. António Francisco dos Santos, falecido bispo do Porto, dará o nome à nova ponte, tendo D. António Taipa, administra­dor diocesano, em representa­ção da Diocese do Porto, participad­o ontem na apresentaç­ão do projeto. Para o autarca de Gaia, “é a personalid­ade que melhor simboliza as pontes entre nós. Torna-nos maiores”.

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