Tensão cresce entre EUA e Rússia antes de ataque a Assad
Guerra na Síria. Está ativada uma linha de contacto entre o comando militar americano e o russo. Moscovo garante resposta a retaliação
A dúvida não é se vai haver uma resposta contra o regime de Bashar al-Assad – isso está decidido. A dúvida é quando vai suceder e que forma irá tomar. O tempo das decisões “está para breve”, garantiu ontem o presidente Donald Trump.
O presidente esteve reunido com os seus conselheiros, tendo o secretário da Defesa, Jim Mattis, explicado numa audição na Câmara dos Representantes que seriam “apresentadas várias opções” para o curso de ação a seguir. Ao início do dia, Trump escrevera no Twitter “nunca” ter dito “quando teria lugar o ataque” que “pode ser em breve ou nada em breve”. Mas era evidente que os preparativos prosseguiam quer do lado americano quer do lado britânico e francês, países que se mostraram prontos a acompanhar uma operação dos EUA contra o regime de Assad.
Em Londres, Theresa May recebeu do gabinete de crise “luz verde” para se juntar aos Estados Unidos e à França e planear possíveis operações militares. Além dos meios aéreos que a Grã-Bretanha tem na região, foi ordenada a deslocação de submarinos para o Mediterrâneo oriental. No mesmo sentido, em Paris, Emmanuel Macron garantiu estarem em estudo planos para o ataque, que “sucederá quando for útil e efetivo”. O presidente francês disse ter provas de ter sido o regime de Assad responsável pelo ataque com armas químicas no passado dia 7 em Douma, que causou 70 mortos. Ao final da tarde, a cadeia americana MSNBC noticiava que os EUA tinham obtido amostras do sangue e urina de vítimas do ataque em Douma e que as análises confirmaram a presença de um agente nervoso e de cloro.
Douma está agora sob controlo de unidades russas e de soldados do regime, tendo a Organização para a Proibição de Armas Químicas anunciado que um grupo de inspetores começará amanhã as suas investigações na cidade. Aquelas forças estão em Douma “para garantirem a lei e a ordem”, referia a agência RIA, citando um porta-voz do Ministério da Defesa russo.
Sobre a questão das armas químicas, a Suécia propôs na ONU que o secretário-geral da organização, António Guterres, envie uma missão de alto nível à Síria para “resolver de uma vez por todas os pro- blemas em aberto” na matéria. Quarta-feira, os EUA e a Rússia, cada um bloqueou iniciativas do outro para a realização de investigações internacionais ao ataque químico em Douma. Navios russos deixam portos Sinal de estar iminente uma operação militar contra alvos na Síria foi dado pela saída dos navios de guerra russos que se encontravam na base de Tartus. A notícia foi dada pelo presidente da comissão da Defesa do Parlamento russo, Vladimir Shamanov, referindo ser este o procedimento normal quando se está perante a ameaça de um ataque. Os navios iriam realizar manobras ao largo da costa síria, um desenvolvimento que pode ser encarado como uma tentativa de dissuasão à aproximação de meios navais ocidentais.
Além dos submarinos britânicos, sabe-se que dois destroyers americanos estarão a caminho ou já se encontram no Mediterrâneo oriental. Analistas apresentavam como mais provável o recurso a meios navais como instrumento do ataque. O recurso a aviões não estaria a ser contemplado, considerando-se que estes seriam mais vulneráveis às defesas antiaéreas russa e síria.
Moscovo tem colocado na Síria baterias de mísseis S-300 e S-400, sistemas considerados bastante eficazes contra aeronaves e mísseis; tem ainda sistemas Pantsir-S1 e Bastion, o primeiro vocacionado para a destruição de mísseis, o segundo para alvos navais.
Sinal do clima de tensão na região entre os EUA e a Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, admitiu ontem “estar ativa” uma linha de comunicação entre o centro de comando americano, baseado no Qatar, e a base aérea de Khmeimim, na Síria, onde a Rússia tem localizado o comando das suas forças. A linha foi criada em 2016 para evitar conflitos entre os meios americanos e russos no terreno.
Um cenário que o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, não excluía, afirmando que há “o perigo de uma escalada” e que uma “prioridade imediata deve ser a de evitar uma guerra”. O diplomata russo deixava no ar a hipótese do seu país ripostar ao ataque ocidental. O que o representante diplomático de Moscovo no Líbano, Alexander Zasypkin, explicitou de forma inequívoca. Citado pela Reuters, Zasypkin garantiu que serão alvejados quaisquer mísseis assim como as plataformas de onde sejam lançados.
Ainda da Rússia veio uma notícia que parece, contudo, apontar no sentido oposto às declarações dos dois embaixadores. O jornal Kommersant, citado pela ABC, escrevia ontem que Moscovo estava a pressionar «os EUA para estes comunicarem as coordenadas de alvos potenciais para que meios de combate e unidades russas não estivessem nas áreas em questão. O que poderia sugerir que a Rússia não impediria ou, pelo menos, não interferiria de modo ativo no momento do ataque.