Do novo Star Wars às memórias do Maio de 68
Além da competição, Cannes oferece grande diversidade de programação: Wenders, Wang Bing e Goupil
Godard na competição (e no cartaz do festival). O novo episódio de StarWars na seleção oficial, extraconcurso. A cópia restaurada de 2001: Odisseia no Espaço a dominar a secção de clássicos. Digamos que Cannes não deixa os seus créditos por mãos alheias. E que a sua versatilidade de programação se mantém capaz de integrar, com serena agilidade, um pouco de tudo – dos autores mais radicais aos produtos da linha da frente de Hollywood, sem esquecer, claro, o lugar cada vez mais importante para a revisitação de muitos filmes mais ou menos “antigos”.
Será, por certo, uma tendência a confirmar perante as outras zonas do certame (incluindo a Quinzena dos Realizadores), mas a presença de alguns atores/realizadores emerge, para já, como um dado curioso. O destaque vai para Gilles Lellouche, nome bem popular junto do público francês que vimos, recentemente, em Rock‘n’Roll, sob a direção de Guillaume Canet: a sua segunda longa-metragem como realizador, Le Grand Bain, é um dos títulos que serão exibidos fora de competição (agora com Canet como ator principal). Nome também a ter em conta será o da atriz italiana Valeria Golino, na secção Un Certain Regard, com Euphoria, outro segundo trabalho de realização (depois de Mel, lançado em 2013, perturbante reflexão sobre a eutanásia). Com alguma ironia, podemos até lembrar que Ron Howard, o realizador de Solo: A StarWars Story, possui também uma significativa filmografia como ator.
No domínio documental, o filme de Wim Wenders Papa Francisco – Um Homem de Palavra parece ser o que vai conseguir maior evidência mediática (Portugal será um dos primeiros países a exibi-lo, com estreia marcada para 30 de maio). A ter em conta também Les Âmes Mortes, do chinêsWang Bing, e The State against Mandela and the Others, de Nicolas Champeaux e Gilles Porte, filme que, segundo o site francês AlloCine, combina materiais documentais e desenhos animados.
Neste contexto, a maior expectativa envolve La Traversée, de Romain Goupil, programado para uma das sessões especiais da seleção oficial. Goupil (n. 1951) venceu a Câmara de Ouro (melhor primeira obra) em 1982, com Mourir à 30 Ans, tradicionalmente reconhecido como um dos filmes mais importantes sobre as convulsões do Maio de 68, tanto mais que reflete a experiência do realizador. La Traversée surgirá inevitavelmente envolvido na efeméride dos 50 anos desse período, uma vez que a breve sinopse conhecida refere que se trata de uma reflexão sobre a França, meio século passado, através do testemunho de duas personalidades emblemáticas: o próprio Goupil e Daniel CohnBendit, figura central no movimento dos estudantes, atual membro do Grupo Spinelli, da União Europeia. JOÃO LOPES