Venezuela em chamas: a foto do ano do World Press Photo é de Ronaldo Schemidt
O venezuelano fez a fotografia do ano durante a crise nas ruas de Caracas. Fotografou um estudante de 28 anos feito tocha humana. Uma “foto clássica” que gera “emoção instantânea”, disse a presidente do júri
Aquele que corre com um véu de chamas é José Víctor Salazar Balza, estudante, de 28 anos. Foi um dos muitos venezuelanos que saíram à rua em Caracas em protesto contra o presidente Nicolás Maduro: ficou com 72% do corpo queimado. Outro venezuelano captou o momento, a 3 de maio de 2017: Ronaldo Schemidt. Este momento é a fotografia do ano do World Press Photo.
Schemidt fez a fotografia do ano após a explosão de uma motorizada da Guarda Nacional durante um confronto entre os manifestantes e as forças do governo. “Eu estava a alguns metros de costas para ele [Salazar Balza], mas quando senti o calor das chamas peguei na máquina e virei-me para começar a fotografar o que quer que fosse que tivesse acontecido. Demorou alguns segundos, por isso não sabia o que estava a fotografar. Virei-me por instinto, foi muito rápido. Não parei de fotografar até perceber o que se estava a passar. Estava alguém em chamas a correr em direção a mim”, disse em entrevista ao British Journal of Photography.
Concorreram à 61.ª edição do World Press Photo 4548 fotógrafos de 125 países. Foram enviadas 73 044 fotografias para apreciação do júri do concurso de fotojornalismo, presidido por Magdalena Herrera, diretora de fotografia da Geo France. “É uma fotografia clássica” que gera “emoção instantânea”, referiu a presidente do júri.
O fotojornalista da Agência France-Presse (AFP) tirou cerca de 20 fotografias daquela situação e enviou rapidamente algumas, diretamente da máquina, para os editores. Só mais tarde viu com pormenor as imagens. Só mais tarde soube quem era o jovem Balza: “Vi-o nas redes sociais a apelar para as pessoas continuarem os protestos nas ruas.” O estudante seria depois submetido a várias intervenções cirúrgicas – 27 até agosto, de acordo com o relato do Diario Las Américas.
O fotógrafo do ano nasceu naVenezuela em 1971 e é fotojornalista da AFP baseado no México. “Para mim, a fotografia representa o estado do país (...) É uma crise humana”, disse à AFP.
O venezuelano ganhou o mais prestigiado concurso de fotografia do mundo, com um prémio de dez mil euros. Entre as seis imagens finalistas a fotografia do ano concorriam fotojornalistas australianos, irlandeses e um britânico. Entre os temas finalistas encontravam-se, também, os refugiados (com destaque para a fuga dos rohingya de Myanmar), e o terrorismo, com o ataque de Londres, em março. A imagem do australiano Patrick Brown mostrando a fuga trágica dos rohingya concorria a fotografia do ano mas acabou por vencer em General News. Já a foto de Adam Ferguson, também australiano e também entre os seis finalistas, triunfou em Pessoas. Mostra a jovem Aisha, de 14 anos, sequestrada pelo Boko Haram.
A exposição World Press Photo 2018 chega a Portugal já no próximo dia 27. As melhores fotografias do mundo estarão em exposição no Hub Creativo do Beato, em Lisboa, até 20 de maio. No ano passado, a fotografia vencedora foi a do fotógrafo turco Burhan Ozbilici, que registou o assassínio do embaixador russo na Turquia.
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