Diário de Notícias

ROUBOS DE ELETRICIDA­DE CUSTAM À EDP 70 MILHÕES POR ANO

Cinema. Um festival sem Netflix, sem portuguese­s mas com Godard em competição num ano em que o poster homenageia o seu passado

- RUI PEDRO TENDINHA

Operador da rede de distribuiç­ão identifico­u 56 mil potenciais fraudes no ano passado. Multas são de 4000 euros para particular­es e 45 mil para empresas.

Cinéfilos bradam aos céus com as omissões dos novos de Brian De Palma, Claire Denis, Dolan, Von Trier, Reygadas ou David Lowery

Dá que pensar: Cannes escolhe para competição Jean-Luc Godard, uma espécie de papa do festival, ele que foi o cineasta da evocação do cartaz desta edição, revelado na quartafeir­a, uma variação nostálgica de um momento com Belmondo e Anna Karenina em Pierrot, Le Fou (1965). É um desplante do diretor artístico Thierry Frémaux, uma bela homenagem ao mais respeitado homem-cinema vivo, mas como um Godard em ação incomoda muita gente, há já polémica. Sem a Netflix, fala-se já em Godardflix.

Os filmes ontem revelados para a seleção oficial (que, esperemos, ainda poder ter mais um ou dos títulos a ser anunciados nos próximos dias) dão pistas para um festival sem alguns dos habitués e um desprendim­ento de vários lobbies. Muitos cinéfilos bradam aos céus com as omissões dos novos de Brian De Palma, Claire Denis, Xavier Dolan, László Némes, Lars von Trier, Carlos Reygadas ou David Lowery. Claro que em maio ainda é cedo para os chamados filmes da “temporada de prémios” que Toronto e Veneza vão apanhar. De todas essas ausências há duas que dão nas vistas: The ManWho Killed Don Quixote, de Terry Gilliam, filme afogado numa batalha jurídica com o produtor Paulo Branco, e A Rainy Day in NewYork, de Woody Allen – o festival não quer ficar mal com a causas feministas...

Quem poderá lucrar com tudo isto é a Quinzena dos Realizador­es, que dentro de dias divulga a sua lista. E aí é possível sonhar com a nova loucura de Bruno Dumont ou a aventura turca de Nuri Bilge Ceylan, já para não falar de uma surpresa de Rita Azevedo Gomes, A Portuguesa.

Quanto às presenças já confirmada­s, este será um festival em lua-de-mel com o cinema asiático, depois do jejum da edição passada. No topo da lista dos mais desejados pensamos em Spike Lee, cineasta que deixou de andar em competição nos grandes festivais já há alguns anos. Regressa ao festival onde se sentiu roubado quando em 1991 A Febre da Selva não ganhou a Palma de Ouro. Agora, apresenta BlacKkKlan­sman, um thriller com Adam Driver sobre um polícia que se consegue infiltrar no Klu Klux Klan. Se estiver ao mesmo nível que Chi Rak, a sua última longa (ignorada pelos distribuid­ores portuguese­s), podemos esperar mundos e fundos.

Mãos no fogo também pelo contingent­e iraniano, com Todos Lo Saben, de Asghar Farhadi, que por ter um trio de respeito – Ricardo Darin, Penélope Cruz e Javier Bardem – tem direito à abertura. Mas o caso sério do festival é o outro iraniano, Jafar Panahi, com Three Faces. Um gesto de seleção com mensagem política. Sabe-se que o festival já pediu ao governo iraniano que deixe o seu tesouro nacional viajar até França. Um cineasta amordaçado pelo seu país mas sempre venerado na Europa.

Do contingent­e francês, de estranhar a “recuperaçã­o” de Christophe Honoré, que desde 2007, ano de As Canções de Amor, não voava por céus tão nobres. O filme chama-se Plaire, Aimer et Courir Vite, com Vincent Lacoste, uma das novas estrelas do cinema francês. Quanto a Stéphane Brizé, depois do desvio romanesco de A Vida de Uma Mulher, regressa ao seu ator fetiche, Vincent Lindon, e coloca-nos no ardor da temática social, com Un Autre Monde. Ainda na seleção caseira, uma escolha esperada, Les Filles du Solei, de Eva Husson, a cineasta do impression­ante Gang Bang (um dos grandes filmes franceses de 2015) e que aqui deverá ter a sua passadeira para a consagraçã­o.

De Itália, felizmente não tivemos notícias de Paolo Sorrentino, que talvez tenha exagerado na pompa no seu novo filme sobre Berlusconi. Contudo, há boas novas: a cineasta de As Maravilhas, Alice Rohrwacher, foi convidada com Lazzaro Felice e Matteo Garrone também, neste caso com o regresso à temática que o consagrou: o filme sobre a mafia, em Dogman.

A invasão asiática mete respeito e promete cinema autoral sem concessões, embora nenhum destes cineastas tenha alguma vez vencido o festival: Jia Zhang-Ke (China), Hirokazu Koreeda ( Japão), Ryusuke Hamaguchi ( Japão) e Lee Chang-Dong (Coreia). O que então pode ser mais radical desta fornada é o picar do ponto ao cinema árabe com Yomeddine, primeira obra de um cineasta do Egito chamado A.B. Shawky, concorrent­e único na seleção oficial à Câmara de Ouro, prémio que distingue o melhor filme de estreia, ou o ovni americano Under the Silver Lake, de David Gordon Mitchell, o realizador de Vai Seguir-Te, David Robert Mitchell, pesadelo “los angelino” sobre hipsters perdidos na América de Trump.

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Uma homenagem ao passado no cartaz oficial do Festival de Cinema de Cannes

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