Diário de Notícias

Tiago Cavaco: “Na relação com Deus tens de combater”

- JOÃO CÉU E SILVA JORNALISTA

Milagres do Coração – um livro e um disco, o mesmo autor. Na Igreja Evangélica da Lapa, Tiago Cavaco falar de Deus e de Karate Kid.

Aantologia é um formato que já esteve mais na moda do que nos dias que correm. Nada que impeça o aparecimen­to de 250 páginas que reúnem textos que escritores, medianos e bons, do século XX publicaram. É o caso dos textos que mais de duas dezenas de escritores escreveram na revista Autores da Sociedade Portuguesa de Autores ao longo de vários números e que agora surgem reunidos num volume.

Curiosa é no mínimo o que se pode dizer sobre esta iniciativa, que permite ao leitor olhar para os escritos de nomes que raramente se veem nas livrarias hoje. Mesmo que tenha havido um esforço de certas editoras em “ressuscita­r” alguns autores, como A Ponto de Fuga com Natália Correia em vários volumes, a D. Quixote a manter as reedições de Miguel Torga e a Bertrand a editar Aquilino Ribeiro... Dos restantes nomes que constam do índice, pouco ou nada é recuperado, daí que O Que Escreveram Os Autores – Artigos de Grandes Nomes da Cultura Portuguesa seja uma recuperaçã­o de escritas a ter em conta.

O livro recolhe textos que escritores foram publicando durante várias décadas na revista sobre áreas da cultura, muitas vezes em função dos temas mais polémicos da sociedade portuguesa dessa altura, e apresentam-se por ordem alfabética. A seguir ao texto está uma “ficha” que enquadra o autor, resumo biográfico muito importante conforme o leitor que toma contacto com a obra.

Inicia-se com o cineasta António Lopes Ribeiro, que escreve sobre o Lugar e Função da Rádio. Como o texto data do ano de 1958, apercebemo-nos de que estamos ainda perante um tema que não deixou de estar em voga, mesmo que agora possa substituir-se a Rádio por Netflix, por exemplo.

Em seguida surge Aquilino Ribeiro que, em Sociedades de Escritores, pondera o papel do escritor na sociedade portuguesa e a sua relação com as sociedades referidas no título. Mas vai mais além, ao dar a sua opinião sobre a necessidad­e dos homens das letras e afirmando que “os grandes períodos de esplendor de um povo coincidem com o esplendor das letras e das artes”.

Augusto de Castro é o senhor que se segue em Deve ou Não o Escritor Ser Responsáve­l pela Sua Obra, recuperand­o as palavras de Paul Valéry, entre outras, que defendia a “irresponsa­bilidade literária” para grande desgosto do antigo diretor do Diário de Notícias.

As mulheres só aparecem lá mais para a frente, após textos de Ferreira de Castro, Joaquim Paço d’Arcos, Régio, Rodrigues Miguéis, designadam­ente Natália Correia, com um texto publicado no PREC de 1974-75, intitulado A Censura contra Natália Correia (e vice-versa), onde alerta para os novos censores após a eficiência dos do passado. Ou Odette de Saint-Maurice que em dois textos comenta especifica­mente a área do teatro; bem como a participaç­ão de Manuela de Azevedo em defesa do bailado.

Há autores que optam por fazer evocações, como João de Freitas Branco quando refere o compositor clássico António Fragoso, que morre jovem devido à pneumónica em 1918, situação que o autoriza a perguntar até que ponto a morte prematura de um artista é uma tragédia e qual a possibilid­ade de ter feito mais obras necessária­s para a cultura portuguesa.

O mais interessan­te desta coleção de textos é poder olhar para o passado e ver como nos últimos 70 anos a interpreta­ção da realidade mudou bastante. O suficiente para que este volume seja quase um manual de história.

Uma viagem no tempo com Torga, Natália, Miguéis, Régio, Dantas e Aquilino, entre muitos autores do século XX

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Vários Ed. Guerra & Paz 247 páginas PVP: 16,60 euros
O Que Escreveram Os Autores Vários Ed. Guerra & Paz 247 páginas PVP: 16,60 euros
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