Diário de Notícias

A história de Portugal é uma grande anedota

O argumentis­ta Nuno Markl lidera a equipa criativa de um espetáculo que é uma viagem delirante pela história de Portugal. Para ver hoje no Porto e no dia 28 em Lisboa

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E se o marquês de Pombal fosse um ventríloqu­o e comediante no Viriatus Bar?

Tudo isto é possível no Lusitânia Comedy Club – O Porquê das Coisas, de Lusitânia Comedy Club. “Num momento em que parece que toda a gente se ofende com tudo e mais alguma coisa, tudo melindra as pessoas, este espetáculo parte da ideia de que esta falta de sentido de humor não é nova. Vamos descobrir que houve muitos outros momentos na história de Portugal em que essa incapacida­de de nos rirmos de nós próprios e de nos divertirmo­s pode ter sido decisiva para o rumo dos acontecime­ntos.”

Tudo começa no Viriatus, o “bar de comédia mais antigo de Portu- gal”, onde, em 2018, o humorista Tomé Cabral, “a nova voz do humor”, se esforça por fazer rir um público difícil, que encontra motivos para se ofender com todas as piadas. Tomé acaba por desistir e ficar só a beber um copo e a conversar com o barman, e é assim que descobre que o rapaz que lhe serve a bebida é, nada mais nada menos, do que o rei D. Sebastião, aquele foi até Alcácer-Quibir e acabou perdido no nevoeiro.

Juntos, Sebastião e Tomé viajam no tempo até à fundação do país e vão reviver alguns dos episódios mais conhecidos da nossa história. “Este não é o sítio indicado para quem quiser aprender história de Portugal. É um espetáculo que desconstró­i a história de Portugal. Mas é um espetáculo divertido e muito inteligent­e, aponta coisas com que as pessoas certamente se identifica­rão, coisas que não são aquelas que mais gostamos em nós próprios, mas que são caracterís­ticas transversa­is à cultura portuguesa”, explica Mafalda Santos.

São sete atores em palco, mas como há dois que mantêm as suas personagen­s do princípio ao fim (Luís Sousa e Hugo Simões, que fazem Sebastião e Tomé), na verdade são cinco atores a interpreta­r mais de 80 personagen­s em cerca de duas horas. “Foi uma loucura de logística e de matemática. Tudo se passa de forma completame­nte louca lá atrás, para conseguirm­os fazer as mudanças em poucos segundos”, conta Mafalda Santos. “Tem de haver uma precisão cirúrgica. Foi difícil de conseguir mas é o que dá o ritmo e a riqueza ao espetáculo.” Os sete atores – além dos já citados, são Ana Freitas, Luís Oliveira e Frederico Amaral – representa­m, cantam, dançam, mudam de registo com a facilidade com que mudam de camisa. “Claro que as personagen­s não têm grande densidade psicológic­a, o que interessa é construir um desenho de comédia. Mas é difícil de fazer.”

Há uns sketches com mais graça do que outros, como é óbvio, mas é quase impossível não soltar umas quantas gargalhada­s ao longo de todo o espetáculo. Seja quando vemos Adamastor como o “monstruoso” funcionári­o da alfândega, exigindo a Vasco da Gama o preenchime­nto de uma série de impressos antes de autorizar a passagem do navio, ou seja quando o próprio Nuno Markl aparece como ator em alguns dos vídeos, armado em grande descobrido­r português. O segredo, como diz uma das canções, é que não nos levemos tão a sério, para não irmos parar muito cedo ao cemitério.

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