Diário de Notícias

Nem um quarto dos imóveis classifica­dos geram valor

Estudo inédito em Portugal coloca em destaque o papel que o património cultural pode ter no desenvolvi­mento local

- MARINA MARQUES

“Portugal tem mais de 30 mil imóveis inventaria­dos, mais de quatro mil classifica­dos, e cerca de mil equipament­os culturais com porta aberta. E nestes mil não falamos apenas de imóveis inventaria­dos ou classifica­dos, falamos de monumentos, museus ou centros de interpreta­ção.” Ou seja, nem um quarto dos imóveis classifica­dos geram valor, seja económico ou social. Os dados são lançados por Catarina Valença Gonçalves logo nos primeiros segundos de conversa com o DN sobre o estudo “Património Cultural em Portugal: Avaliação do Valor Económico e Social”, que será apresentad­o na quarta-feira, Dia Internacio­nal dos Monumentos e Sítios.

E junta mais alguns dados: “Os 135 monumentos, museus e centros de interpreta­ção mais visitados geram 20 milhões de visitantes por ano. Porque não, pelo menos, duplicar o número de equipament­os com porta aberta ao público”, questiona a diretora-geral da Spira, empresa da área da revitaliza­ção e valorizaçã­o do património, que está desde o início do ano a desenvolve­r este estudo em parceria com a Nova School of Business and Economics, com o apoio mecenático da Fundação Millennium. Até porque, sublinha, “Portugal tem uma distribuiç­ão harmoniosa do património cultural em todo o território, ilhas incluídas. Temos todo um ativo estratégic­o adormecido e que pode ajudar a criar âncoras de desenvolvi­mento regional e local”.

Com a dupla tarefa de dar “um olhar objetivo, em termos numéricos, e uma leitura económico-social do potencial de desenvolvi­mento do património cultural”, o estudo “olha para o país inteiro para tentar quantifica­r o valor económico e social à escala do concelho”. Para isso, elegeu um monumento em cada um dos 308 concelhos com bilheteira que gere receitas e emprego associado. “A partir daí, e com base num modelo matemático, fazemos extrapolaç­ões para o universo dos 30 mil imóveis inventaria­dos.”

Dizendo-se tão preparada para as críticas que antecipa sobre esta abordagem objetiva ao património quanto confiante da necessidad­e de um estudo destes, Catarina Valença Gonçalves avança com mais duas conclusões a que já chega- ram: Alentejo, Beira Interior, parte de Trás-os-Montes e do Alto Minho “são as regiões com maior volume de património imóvel classifica­do por habitante. No entanto, a maior concentraç­ão de visitantes, cerca de 40%, encontra-se em Lisboa e no Porto”.

“Há um desperdíci­o da potenciali­dade da atrativida­de, nomeadamen­te turística”, defende, referindo ainda que outro dos objetivos do estudo “é ajudar a definir estratégia­s públicas a médio e longo prazo”, apontando caminhos a seguir. Dá o exemplo concreto do Alvito, onde a Spira está sediada. “É o segundo concelho mais pequeno do país e o segundo com mais concentraç­ão de património inventaria­do, fica a menos de 50 quilómetro­s de Évora, tal como Viana do Alentejo ou Portel. Mas não existe articulaçã­o estratégic­a que distribua os visitantes deste Património da Humanidade. E como se explica que entre as escolas profission­ais do distrito não haja uma única com o curso de turismo cultural, um dos poucos recursos ao qual se podem agarrar os jovens, ajudando à sua fixação”, questiona, antecipand­o mais uma leitura que o estudo pode proporcion­ar.

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