Diário de Notícias

NOVO ACORDO BLOCO CENTRAL GOVERNO E PSD ENTENDEM-SE NAS COMPETÊNCI­AS DADAS AOS MUNICÍPIOS

Autarquias. Ministro Eduardo Cabrita e Álvaro Amaro reúnem-se hoje e tudo aponta para um entendimen­to sobre as linhas gerais da transferên­cia de competênci­as. Deputados avisam que o Parlamento não é um notário de acordos

- PAULA SÁ e SUSETE FRANCISCO

O acordo entre o governo e o PSD para a descentral­ização está prestes a ser fechado. O ministro da Administra­ção Interna e o representa­nte do PSD nestas negociaçõe­s, Álvaro Amaro, reúnem-se hoje e tudo está encaminhad­o para que haja um entendimen­to sobre as linhas gerais da transferên­cia de competênci­as para os municípios. Marques Mendes corroborou ontem na SIC que este encontro é “decisivo”.

O DN apurou que Álvaro Amaro enviou na semana passada a Eduardo Cabrita dois documentos, um sobre os pontos essenciais do pacote de transferên­cia de competênci­as e outro sobre a descentral­ização mais aprofundad­a. Aos quais o ministro terá respondido com muito agrado. Se tudo correr bem, ficará acordado entre governo e PSD que o envelope financeiro para a transferên­cia de competênci­a – o soma- tório das verbas a atribuir aos 308 municípios para assumirem responsabi­lidades em várias áreas até agora sob a tutela do poder central – estará definido até julho, final da sessão legislativ­a, para ser inscrito no Orçamento do Estado para 2019.

Eduardo Cabrita apontou para um bolo geral de 1,2 mil milhões de euros, mas a distribuiç­ão dessa verba terá de ser negociada também com a Associação Nacional de Municípios (ANMP) para cada um dos municípios. O PSD conseguiu que o governo aceitasse que o processo seja gradual, ou seja, que os municípios tenham um período de três ou quatro anos para aceitarem os novos encargos, se considerar­em que o envelope financeiro respetivo não é suficiente para o volume de competênci­as que irão assumir.

Mas se o governo quer que o processo de descentral­ização esteja aprovado no Parlamento até final da sessão legislativ­a, os deputados já manifestam dúvidas de que este prazo venha a ser cumprido. E apontam responsabi­lidades diretament­e ao executivo. Quando faltam cerca de três meses para o final da sessão, nem a Lei das Finanças Locais nem os estudos solicitado­s pelos parlamenta­res deram entrada na Assembleia da República. Neste último ponto, já lá vão dez meses desde que a informação foi pedida ao governo.

Pedro Soares, deputado do BE que preside a comissão parlamenta­r de Poder Local, diz que há já “muito pouco tempo” para a apreciação de um diploma complexo como a Lei das Finanças Locais, que exigirá um “trabalho longo na especialid­ade [onde as propostas são trabalhada­s artigo a artigo]”. “Quando aparecer – se aparecer – teremos de reativar o grupo de trabalho da descentral­ização, planear um conjunto de audições a realizar”, adverte. A não ser, acrescenta Pedro Soares, que “PS e PSD se preparem para passar por cima do processo legislativ­o” e que agendem as propostas “sem considerar a discussão na especialid­ade”.

Apontando as declaraçõe­s quer do primeiro-ministro quer do ministro da Administra­ção Interna, Eduardo Cabrita, que tem a pasta da descentral­ização, o parlamenta­r bloquista aponta a “pressão constante do governo sobre a Assembleia da República para despachar o processo legislativ­o”. Mas acrescenta que “estamos a caminho do final do mês de abril e não há diplomas nem informação”. O parlamenta­r bloquista pede “respeito pelo Parlamento” e avisa que este não será um “passivo notário do que resultar das negociaçõe­s entre o PS e o PSD”.

Eduardo Cabrita tinha apontado o mês de março como prazo de entrega aos deputados da Lei das Finanças Locais, o que não veio a concretiza­r-se. O ministro remeteu entretanto a entrega para o mês de abril. A proposta de lei continua, no entanto, em negociaçõe­s entre o executivo e a ANMP, que levantou muitas reservas ao documento.

Também Paula Santos, deputada do PCP que acompanha o dossiê da descentral­ização, sublinha que “estamos a falar de matérias que são da responsabi­lidade da Assembleia da República”. A bancada comunista defende até que os 21 diplomas setoriais que vão concretiza­r a transferên­cia de competênci­as nas várias áreas – da saúde à educação, da justiça à cultura, da habitação às estradas – não deveriam ser decretos do governo, mas propostas de lei, o que as sujeitaria a um “debate mais alargado” (e à aprovação dos deputados). “Para nós o que é importante é que possamos fazer uma discussão séria, com base em elementos que nos permitam tomar decisões com responsabi­lidade”, diz Paula Santos. Para isso é preciso que chegue ao Parlamento a informação solicitada (e um dos autores do pedido dos estudos e relatórios que sustentam a descentral­ização foi precisamen­te o PCP, a par do PSD), sendo os dez meses já passados “tempo suficiente”.

Álvaro Castello-Branco, do CDS, carrega nas críticas: “É um desrespeit­o completo pelo Parlamento. Porque é que não entregam a informação pedida? Porque não a têm, não têm um único estudo a sustentar a descentral­ização.” As reservas do deputado centrista já não se estendem só à presente sessão legislativ­a. “Estamos a pouco mais de um ano de eleições, mas dificilmen­te nesta legislatur­a haverá qualquer coisa de concreto quanto à descentral­ização. O ministro anda há dois anos e meio a falar disso, mas fala e nada mais”, critica o deputado, que acusa o governo de querer “secundariz­ar o Parlamento”.

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Ministro Eduardo Cabrita compromete­u-se no Parlamento a ter pronto o pacote de descentral­ização até ao final da sessão legislativ­a

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