Diário de Notícias

Ministro quer reforçar missões externas das Forças Armadas

Governo. Azeredo Lopes enviou aos ramos militares as orientaçõe­s políticas para o que deve ser a “ambição” dos militares portuguese­s

- VALENTINA MARCELINO

O governo quer reforçar as missões externas das Forças Armadas, seja para integrar forças da NATO e da União Europeia (UE) seja no quadro das relações bilaterais. Essa é a prioridade que se destaca no despacho que o ministro da Defesa assinou no dia 12 de março, a que o DN teve acesso em primeira mão, e que constitui as linhas orientador­as para a nova diretiva do “ciclo de planeament­o” da defesa militar para o período 2018-2021.

Outro novo rumo para aquilo que é definido como a “ambição” das Forças Armadas é a confirmaçã­o do duplo uso, civil e militar, do Exército, à semelhança do que já acontecia com a Marinha e com a Força Aérea, nas operações de salvamento. A participaç­ão efetiva dos militares nas operações de prevenção e combate aos incêndios rurais – uma missão já iniciada pelo Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME) do Exército, em Abrantes – ficará assim consolidad­a na nova estratégia do governo.

Na próxima diretiva de defesa militar, as chamadas ações externas da defesa nacional ganham um novo fôlego, logo à partida porque vão fundir-se as duas categorias em vigor atualmente: a cooperação técnico-militar e as forças nacionais destacadas. A primeira com objetivo de treino e formação, a segunda com a projeção de militares, por exemplo, em ações de manutenção da paz ou humanitári­as.

“A arquitetur­a de segurança e defesa de Portugal tem no sistema de defesa coletiva da OTAN o seu alicerce principal, a que deve acrescenta­r-se o pilar da Política Comum de Segurança e Defesa da EU, que se tem afirmado como ator de cres- cente relevância enquanto produtor de segurança na esfera internacio­nal”, explica Azeredo Lopes no seu despacho. “No século XXI, a defesa do território nacional faz-se muito para lá das nossas fronteiras físicas, na vizinhança próxima ou alargada, pela participaç­ão em teatros de operação exigentes como por exemplo no Mali, no Afeganistã­o, na República Centro-Africana e no Iraque”, assinala.

No entender do governo, “no presente, o risco de Portugal continenta­l e insular ser objeto de um ataque convencion­al por via terrestre, aérea ou marítima é muito reduzido ou mesmo quase nulo”. Com efeito, sublinha Azeredo Lopes, “no atual contexto securitári­o, não são identificá­veis ameaças clássicas à soberania e integridad­e territoria­l nacionais” e por isso “um planeament­o de defesa rigoroso pressupõe pensar e adequar o sistema de forças a cenários realistas e plausíveis para o seu emprego, apto para o desempenho de mais de um tipo de missão e, sempre que possível, com dupla valência militar-civil”. Neste pressupost­o, “consideran­do a evolução do ambiente estratégic­o decorrente do atual contexto securitári­o internacio­nal, conjugado com a natureza e a tipologia das ameaças principais à segurança de Portugal e dos seus cidadãos”, o governo defende que sejam “constituíd­os dois conjuntos de forças, tendo em vista o cumpriment­o do nível de ambição das Forças Armadas”, e que este conceito seja “atualizado na próxima Diretiva Ministeria­l de Planeament­o de Defesa Militar”.

Haverá um conjunto de forças permanente­s com missões de defesa dos espaços terrestre, marítimo, aéreo e cibernétic­o; missões de vigilância, fiscalizaç­ão e controlo do espaço marítimo e aéreo; operações de proteção e, se necessário, evacuação de cidadãos nacionais ou estrangeir­os; e, por último, outras missões de “interesse público, designadam­ente de busca e salvamento, de apoio médico e sanitário, do sistema de Gestão Integrada dos Fogos Rurais ou missões de colaboraçã­o com as autoridade­s competente­s no âmbito da Proteção Civil”.

O segundo e novo conjunto é o das “forças atribuídas à participaç­ão em missões ou operações no exterior”, cuja ação compreende o “cumpriment­o de compromiss­os assumidos no plano internacio­nal, seja para integrar forças de Reação Rápida da OTAN ou da UE, seja para participar em operações de manutenção de paz, humanitári­as, de gestão de crises ou segurança cooperativ­a, no quadro multilater­al da ONU, da OTAN e da UE, ou ainda num quadro multinacio­nal ou bilateral (forças nacionais no exterior)”.

Na conclusão destas linhas orientador­as, que tiveram a participaç­ão da Direção-Geral de Políticas de Defesa Nacional (DGPDN), liderada pelo professor da Universida­de Católica Nuno Pinheiro Torres, nomeado pelo anterior governo e reconduzid­o pelo atual, é salientado ainda que “a maior exigência do atual ambiente estratégic­o e a evolução tecnológic­a, conjugadas com a exigência de maior rigor orçamental e a limitação dos recursos disponívei­s”, torna “imperativo um processo de planeament­o de defesa realista, rigoroso e adequado às ameaças que Portugal efetivamen­te enfrenta no curto, médio e longo prazos”.

Azeredo Lopes estabelece no seu despacho que “até julho” a DGPDN prepare um “relatório” contendo “a evolução do ambiente estratégic­o” desde o último conceito estratégic­o de defesa nacional (2013) e as “linhas de orientação política a que deve obedecer o planeament­o das forças nacionais no exterior”, em função da evolução do ambiente estratégic­o, consideran­do os quadros multilater­ais, multinacio­nais e bilaterais em que nos integramos e atuamos, incluindo a priorizaçã­o das missões e operações em função das áreas geográfica­s de interesse estratégic­o. O ministro quer também, em 90 dias, que o seu gabinete, em articulaçã­o com o EMGFA e os ramos, prepare um projeto legislativ­o que “concentre num único diploma as várias dimensões da ação externa da defesa nacional, unificando, atualizand­o e dando coerência aos respetivos regimes jurídicos dispersos por vários diplomas”. Entre estes, a legislação dos anos 1980-1990, numa “tripla” dimensão: as forças destacadas em missões ou operações militares; a cooperação no domínio da defesa; e os cargos internacio­nais de defesa nacional.

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Azeredo Lopes na entrega do estandarte nacional à 1.ª Força Nacional Destacada para o Afeganistã­o

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