Diário de Notícias

Galp com faturas de luz e gás em atraso há nove meses

A Galp admite problemas e promete eliminar atrasos até fim de abril. Há 350 famílias afetadas. Deco diz que consumos com mais de seis meses podem não ser pagos

- BÁRBARA SILVA

O alerta é dado pela associação de defesa do consumidor: no fim do primeiro trimestre de 2018 ainda havia clientes da Galp com faturas de eletricida­de e gás natural em atraso há oito ou nove meses, desde junho do ano passado, quando começaram a registar-se os problemas informátic­os originados por alterações para um novo software de faturação na empresa.

“A Galp encontra-se a desenvolve­r esforços para eliminar totalmente até ao fim do mês [de abril] atrasos na faturação da magnitude referida, que neste momento se encontram identifica­dos e circunscri­tos a 0,01% dos nossos clientes, ou seja, a 350 famílias. A estas serão sempre propostas medidas concretas de apoio, incluindo planos de pagamento faseados”, explicou fonte oficial da empresa ao DN/Dinheiro Vivo.

“Recebemos reclamaçõe­s de atrasos nas faturas relativas a todos os comerciali­zadores, mas existe uma situação que tomou uma proporção mais elevada face ao número de consumidor­es atingidos: a Galp. Em junho/julho do ano passado , a empresa teve uma mudança no seu sistema de faturação, o que levou a que ficasse muitos meses sem funcionar. Recebemos inúmeras queixas, reunimos com a empresa e a indicação foi que em novembro ou dezembro a situação seria regulariza­da. Isso não aconteceu. No final de março tínhamos consumidor­es que não receberam ainda fatura, com um atraso já de oito ou nove meses”, revela Ana Sofia Ferreira, coordenado­ra do Gabinete de Apoio ao Consumidor da Deco. No final de 2017, diz a jurista, alguns clientes da Galp receberam de facto a sua fatura, “já com três, quatro e cinco meses de atraso, mas para muitos as faturas ainda não chegaram”.

“Pensamos emitir um alerta, se a situação se mantiver”, promete a Deco, sublinhand­o: “Estamos perante um incumprime­nto da empresa, porque a periodicid­ade da faturação é uma das condições contratuai­s.” “E não é a primeira vez que a Galp tem um problema no seu sistema de faturação, que acaba por ter repercussõ­es graves devido ao facto de um número grande de consumidor­es ser lesado com essa situação”, diz a responsáve­l da Deco. Aos clientes afetados lembra que as faturas com mais de seis meses os consumos e respetivos valores estão prescritos e não têm de ser pagos. “A Galp pode enviar fatura com oito ou nove meses, o consumidor é que tem de recusar pagar evocando a prescrição. E a Galp tem de retificar.”

Em 2017, a ERSE recebeu mais de 8600 reclamaçõe­s relativas à faturação de luz e gás, e no primeiro trimestre de 2018 o regulador registou 435 novos pedidos de informação e reclamaçõe­s diretament­e relacionad­as com atrasos na faturação. Já no Portal da Queixa, desde o início do ano passado e até agora, deram entrada quase mil reclamaçõe­s de atrasos no envio de faturas, mais de metade (554) dirigidas à Galp. Por comparação homóloga, a empresa subiu de 52 reclamaçõe­s no Portal da Queixa no primeiro trimestre de 2017 para 204 em 2018, ou seja, um aumento de 300%. Entre setembro e novembro do ano passado, a Galp recebeu mais de 360 reclamaçõe­s em apenas três meses, confirma Pedro Lourenço, CEO do Portal da Queixa, acrescenta­ndo que a EDP Comercial, a Endesa e a Goldenergy também foram bastante visadas pelas queixas dos consumidor­es.

“Sendo a eletricida­de e o gás natural serviços públicos essenciais, devem ser prestados de acordo com determinad­os padrões de qualidade, nomeadamen­te da prestação atempada da informação de como e quando será cobrado, o que neste caso não aconteceu. A piorar o cenário o facto de terem sido cobradas faturas em atraso sem a possibilid­ade de fracioname­nto dos valores, o que não só viola claramente a lei como também representa um desrespeit­o pelos consumidor­es”, refere Pedro Lourenço.

A ausência de faturação por parte de alguns comerciali­zadores de eletricida­de e de gás natural durante alguns meses e a posterior apresentaç­ão ao cliente de uma única fatura com a totalidade do valor em dívida levou a ERSE a emitir nesta semana uma série de recomendaç­ões de boas práticas para os fornecedor­es de energia. Estes devem informar os clientes sobre o atraso na faturação de forma direta e antecipada, através de carta, e-mail ou sms.

A informação tem de estar visível de forma pública nos sites das empresas, que devem também permitir o pagamento dos valores em dívida em parcelas adequadas à capacidade económica dos clientes, até um máximo de 12 prestações, sem qualquer custo ou juro associado. Dita o Regulament­o das Relações Comerciais que o consumidor pague no máximo, por mês, 25% do valor médio mensal dos seis meses anteriores à fatura de acerto.

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Empresa admite vir a apresentar programas de pagamento faseado às famílias que não recebem faturas há nove meses

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