“Não se ganha em ficar calado”
Portugal não é o maior destino de investimento chinês na Europa, mas é talvez o mais significativo. Que papel tem tido na UE? Houve uma janela de oportunidade legítima nos países europeus mais atingidos pela crise. Os europeus eram livres de investir nas mesmas empresas. Nenhuma regra europeia foi violada. Portugal é um caso muito diferente da Grécia, da Hungria e até da Itália. Tem sido quase sempre capaz de separar a sua atitude em assuntos europeus relativamente à China. Nos últimos cinco anos, o único momento em que talvez se possa dizer que Portugal fez lobby a favor da China aconteceu em junho na discussão sobre o novo mecanismo de escrutínio ao investimento. Mas pareceu-me um ato cautelar de um país que não quis passar um cheque em branco a outros. Essa posição não foi pública. Não era suposto ser pública. Foi divulgada porque há fugas no Conselho da UE. Isso faz diferença? É diferente do lobby sistemático da Grécia. Nenhum destes países é indiferente ao interesse económico ou ao facto de os negociadores chineses serem capazes de tirar partido das situações. É um equilíbrio que pode ser remediado, assim os europeus tenham alguma confiança e os países do núcleo duro da UE prestem atenção aos interesses das economias mais pequenas. A questão da reforma de política económica da UE tem uma enorme importância para que seja criada unidade, ou para um cenário de dividir para reinar com arbitragem da China. Diz que Portugal se tem mantido em silêncio no que diz respeito a questões de direitos humanos, ao contrário, por exemplo, do Reino Unido. É pragmatismo? Com a China não se ganha nada em ficar calado. Há que ser consistente. Mas não é um erro apenas de Portugal. Vários países acreditam que manter uma posição recuada ou não discutir abertamente os seus valores e princípios lhes trará vantagens.