Diário de Notícias

O percurso do maliano decisivo, dos assobios à glória no Dragão

Deu os primeiros passos no clube que lançou Evra, Martial e Henry. Antes assobiado, é agora a figura de um título iminente

- CARLOS NOGUEIRA

Patrice Evra, Anthony Martial, Thierry Henry são os nomes de jogadores mais famosos que começaram no Club Omnisports Les Ulis, a cerca de 20 quilómetro­s de Paris. Yaya Sanogo, que até há pouco tempo esteve no Arsenal, e Moussa Marega, estrela cintilante do FC Porto, também fazem parte do portfólio desse modesto clube que tem proporcion­ado novos caminhos aos filhos das famílias africanas que vivem naquela região.

Marega – que com o golo da vitória portista frente ao Marítimo se reforçou como a figura principal deste mais que provável título do dragão –, cresceu nos arredores da capital francesa, oriundo de uma família numerosa imigrante do Mali, que passou por muitas dificuldad­es. E a sua história é de superação para fugir a um destino quase sempre condenado ao anonimato e a uma vida de dificuldad­es.

Como tantas outras crianças, começou a jogar futebol na rua e apenas aos 17 anos foi jogar para o CO Les Ulis, onde começou a mostrar os seus dotes de futebolist­a. O poder físico e os golos marcados começaram a despertar a atenção dos muitos olheiros que procuram talento nesses clubes de menor dimensão.

Bastaram três anos a jogar futebol a sério para dar o salto para o também modesto Évry FC, onde chegou já com 20 anos, para jogar no campeonato distrital de Paris, no ano seguinte mudou-se para o Le Poiré-sur-Vie, outro pequeno emblema de uma localidade a 65 quilómetro­s de Nantes, para jogar no terceiro escalão, onde se manteve na época seguinte, mas ao serviço do Amiens. Os nove golos que marcou no clube permitiram-lhe emigrar para a Tunísia, para o Espérance Tunis, onde esteve oito meses sem jogar devido a um problema burocrátic­o. Mas nessa altura, o Marítimo já estava de olho nele e em janeiro de 2015 acabou por contratá-lo para suprir a saída do avançado Moussa Maazou.

“Já o tínhamos referencia­do por vídeos e agradavam-nos as suas caracterís­ticas de jogador potente, rápido e com capacidade de desequilib­rar”, contou Leonel Pontes, então treinador dos insulares, ao DN, acrescenta­ndo que Marega chegou à Madeira “pesado”, razão pela qual foi submetido “a uma semana intensa de trabalho”. Foi o início da ascensão de um jogador pouco conhecido em África. Elogios de Madjer e o coaching “Marega não era muito conhecido no futebol africano, mas o facto de estar a marcar golos no FC Porto começa a dar-lhe visibilida­de, o que vai aumentar ainda mais com a conquista do título”, refere Rabah Madjer, antiga estrela argelina dos dragões, acrescenta­ndo que o maliano “não deverá ficar muito tempo” no clube. “Fez 22 golos no campeonato e, com a visibilida­de na Liga dos Campeões, o mais certo é que, em breve, vá jogar noutras ligas europeias, afinal trata-se de um jogador muito forte fisicament­e e um goleador”, sublinhou.

No entanto, até ter marcado, na Madeira, o golo que deixou o FC Porto a um ponto de voltar a ser campeão, quatro anos depois, Marega atravessou um caminho tortuoso. Após um ano no Marítimo, onde deu nas vistas com 15 golos em 34 golos, originou o interesse de Sporting e FC Porto na sua contrataçã­o. Em janeiro de 2016, os leões tiveram praticamen­te tudo acertado com o internacio­nal maliano, mas à última hora apareceram os dragões a ganhar a corrida.

Só que os primeiros seis meses de azul e branco foram de sofrimento para Marega. Um só golo – meia-final da Taça de Portugal diante do Gil Vicente – em 13 jogos e exibições abaixo do exigível valeram-lhe muitas críticas. Em Alvalade, os adeptos do Sporting chegaram a exibir uma faixa a dizer “Mete o Marega”, numa provocação à contrataçã­o roubada e às fracas exibições do maliano.

“Foram uma coisa horrível”, diz ao DN Pedro Marques Lopes, adepto do FC Porto, sobre as exibições de Marega na primeira passagem pelo Dragão. “Eu era daqueles que, na bancada, desatava aos berros contra ele e contra quem o contratou. E com isso ele enervava-se e enervava os adeptos”, acrescenta o comentador, lembrando que “não era jogador para o tipo de jogo que o FC Porto praticava na altura, de posse de bola e de toque curto”.

Foi por essa altura que o jogador recorreu a um amigo em França para o ajudar a ficar mais forte mentalment­e. Um coaching que acabou por se tornar decisivo. Na época passada reapareceu em força com o empréstimo aoV. Guimarães (14 golos em 31 jogos). Foi um passo decisivo para que, no início desta temporada, Sérgio Conceição quisesse ficar com ele no plantel, pois via nele o jogador que faltava à equipa.

“No início desta época, cheguei a escrever que não entendia aquilo que o Marega estava a fazer no plantel, mas a verdade é que se tornou num jogador vital, pois não há nenhum que faça o que ele faz e a prova disso é que as duas derrotas do FC Porto no campeonato foram sem ele em campo”, frisa Pedro Marques Lopes, completame­nte rendido ao novo herói dos dragões, que aos 27 anos se prepara para conquistar o seu primeiro título.

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Marega, 27 anos, marcou o golo da vitória na Madeira, que deixou o FC Porto a um ponto do título de campeão

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