Diário de Notícias

Do Tesouro a rosto da aposta nas renováveis, Manuel Pinho e a relação com o BES

Manuel Pinho foi o rosto das apostas de José Sócrates nas energias renováveis e no plano tecnológic­o. Passou pelo BES e vai ser chamado ao Parlamento para explicar alegados favorecime­ntos à EDP e ganhos indevidos do banco

- ELISABETE TAVARES

Esteve no grupo Banco Espírito Santo durante mais de uma década em lugares de topo. Mas a porta de entrada de Manuel Pinho no BES foi o cargo de diretor-geral do Tesouro no governo liderado por Aníbal Cavaco Silva, um cargo-chave que colocou Pinho nas graças de Ricardo Salgado.

O ministro das Finanças era então Jorge Braga de Macedo e, como diretor-geral do Tesouro, Pinho colocou Portugal como grande emissor de dívida no mercado. O BES terá liderado, na altura, muitas das emissões da República. O reconhecim­ento no mercado refletiu-se num prémio da Euromoney atribuído a Portugal como Borrower of the Year. “Foi uma altura em que Portugal fez muitas emissões de dívida, muitas das quais com o BES”, disse ao DN/Dinheiro Vivo uma fonte financeira que pediu o anonimato. O desempenho como responsáve­l pelo Tesouro do país valeu a Pinho entrada direta para o cargo de administra­dor no Banco Espírito Santo. Pinho tornou-se um homem BES e esteve no grupo entre 1994 e 2005. Durante esse tempo, foi vice-presidente do BES Investimen­to, administra­dor da ESAF, do BES Finance, do BES Overseas e presidente da Espírito Santo Research. A mulher, Alexandra Pinho, também esteve ligada ao BES, tendo sido curadora de arte do grupo.

Tornou-se amigo de Manuel Sebastião, administra­dor do Banco de Portugal, a quem chegou a vender uma casa em Lisboa. Mais tarde, quando chegou a ministro, Sebastião foi nomeado presidente da Autoridade da Concorrênc­ia, que analisava, entre outros setores, o da banca. Sebastião regressou depois ao Banco de Portugal e entrou para a REN como administra­dor independen­te e presidente da comissão de auditoria. Chegada ao governo Quase morreu num acidente de automóvel, tinha pouco mais de 30 anos. Gosta de arte e fotografia, não tem partido político, mas afirmou em entrevista­s ser de centro-esquerda e que já trabalhou com governos PSD e PS. Licenciado em Economia em 1976 pelo então Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeira­s, atual ISEG, Manuel Pinho acabou por se tornar o rosto das apostas de José Sócrates: nas energias renováveis e no plano tecnológic­o. A aproximaçã­o ao PS deu-se através de Eduardo Ferro Rodrigues, que o levou a concorrer em 2005 por Aveiro, como independen­te. Foi eleito deputado e nomeado ministro da Economia e da Inovação. O primeiro-ministro era José Sócrates. Manuel Pinho ficou até 2009, altura em que pediu a demissão na sequência do polémico gesto no Parlamento. As renováveis seriam uma área-chave para a EDP, liderada por António Mexia, outro ex-homem BES. Além disso, Pinho passou a propriedad­e da Central de Sines para as mãos da EDP. “Como é possível dar uma central assim, quando ela deveria reverter para o Estado?”, disse uma fonte do setor da energia. A extensão da concessão de barragens à EDP também foi polémica. “O ministro decidiu basear-se numa avaliação de um banco, o Credit Suisse, que não estava capaz de fazer uma avaliação daquelas”, disse uma outra fonte conhecedor­a do processo: “Em tudo o resto era aceite uma metodologi­a de avaliação que tinha por base o ‘valor água’, mas especifica­mente naquele caso decidiu-se usar uma outra medida e metodologi­a”, acrescento­u. Ainda como ministro, numa visita à China em 2007, afirmou que um dos motivos para os investidor­es chineses investirem em Portugal era a mão-de-obra barata.

Após a saída do governo, a sua ida para lecionar uma cadeira na Universida­de da Colúmbia, nos Estados Unidos, com patrocínio da EDP, levantou suspeitas.

Pinho é hoje, aos 63 anos, arguido no processo das rendas excessivas da EDP/CMEC (custos de manutenção de equilíbrio contratual). É suspeito de prática de corrupção e participaç­ão económica em negócio. Quase uma década depois da sua saída do governo, regressará ao Parlamento para explicar os contornos das suas decisões enquanto ministro, defender-se nas alegações de que favoreceu EDP e BES e explicar porque recebia 15 mil euros mensalment­e do BES quando era ministro. As prestações eram pagas pela Espírito Santo Enterprise­s, considerad­a como saco azul do GES.

Num comunicado divulgado ontem pelo seu advogado, Ricardo Sá Fernandes, Manuel Pinho aceita prestar esclarecim­entos perante os deputados, mas só depois de ser interrogad­o pelo Ministério Público no âmbito do caso EDP, que investiga alegados benefícios de 1200 milhões de euros a favor da EDP. No mesmo caso, o antigo patrão de Pinho no BES, Ricardo Salgado, foi constituíd­o arguido pelo alegado crime de corrupção.

Foi diretor-geral do Tesouro no governo de Cavaco Silva, com Braga de Macedo como ministro. Foi o grande emissor de dívida no mercado Gosta de arte e fotografia. Afirmou ser de centro-esquerda. Quase morreu num acidente de carro, com pouco mais de 30 anos

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