Sindicalismo para quem não trabalha
Revejo-me aqui, em absoluto, num artigo publicado no DN em julho de 2017 por Maria de Lurdes Rodrigues (socióloga, ex-ministra da Educação do PS, atual reitora do ISCTE): “O mundo não seria melhor sem sindicatos. Pelo contrário. O mundo será melhor, mais plural, mais justo e mais livre com sindicatos fortes e mais bem implantados na sociedade civil.” Mas eis o problema: numa altura em que o emprego cresce deveria ser natural que os sindicatos também crescessem – e assim alargassem a sua influência. Mas, habituados a trabalhar exclusivamente para os seus sócios, os sindicatos deixaram genericamente (há sempre exceções, claro) de trabalhar para, por exemplo, os desempregados ou os precários. Se há coisa que explica o facto de, cada vez mais, as greves gerais só terem efeito em serviços do Estado (transportes, sobretudo) é o facto de os sindicatos mais fortes quase só representarem trabalhadores com vínculos sólidos (e é no Estado que esses trabalhadores estão, não no setor privado). O sindicalismo nacional representa acima de tudo quem, podendo ter problemas crescentes de perda de poder de compra, consegue apesar de tudo não ir parar ao desemprego porque tem um contrato para a vida. E os outros, os desempregados, que estão acima de tudo representados no setor privado, já intuíram há muito que os sindicatos não os representam. E quando voltam ao mercado de trabalho, claro, não querem ter nada a ver com sindicatos, porque não têm nada para lhes agradecer. Podia portanto o mundo sindical aproveitar o 1.º de Maio para ver como é que pode servir quem não é sindicalizado. Porque o mundo do trabalho não é só o mundo dos trabalhadores – é também o mundo dos que, querendo trabalhar, não o conseguem, ou só o conseguem em condições de miserável precariedade.