Diário de Notícias

E-mails são suficiente­s para o contacto com os pais

Pais e professore­s reconhecem as vantagens da tecnologia, mas não aconselham que haja uma relação nas redes sociais

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tões sobre as notas e deturpaçõe­s das partilhas ou comentário­s dos docentes.

Na opinião de Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas, a conexão nas redes sociais “não acrescenta nada à relação professor-aluno”. É algo que não recomenda, contudo, sublinha, “é uma questão que deve ficar ao critério da consciênci­a de cada professor”. Caso este considere que há benefícios, “deve usar da equidade no tratamento, ou seja, aceitar os pedidos de todos os alunos”. “Não é uma ideia muito feliz” Admitindo que pode ser “conservado­r” e que nunca pensou muito sobre o assunto, Rui Canário, especialis­ta em ciências da educação, diz que não é “absolutame­nte contra” a relação de amizade entre professore­s e alunos no Facebook, mas atendendo “ao papel dos professore­s e às pinças com que é preciso lidar com a utilização das redes sociais,” não considera “que seja uma ideia muito feliz”.

Ao DN, o professor aposentado explica que os docentes “devem manter uma certa reserva, não na utilização das redes sociais mas na relação direta com os alunos”. Isto permite, segundo o mesmo, “que o professor tenha uma atitude mais interventi­va para ajudar os alunos a lidarem com sensatez com as redes sociais”. Defende, ainda, que não se devem relacionar como se estivessem no mesmo patamar.

Cuidado e cautela são também palavras-chave para os pais. “O professor tem de avaliar com cuidado esse tipo de amizades. Nada o proíbe, mas é preciso cuidado com o que se publica nas redes sociais”, diz Jorge Ascenção, presidente da Confederaç­ão Nacional das Associaçõe­s de Pais. Na opinião do representa­nte, “não é nada aconselháv­el usar esses meios para fazer comunicaçõ­es”.

Já Fátima Pinho, presidente da Federação Nacional de Associaçõe­s de Estudantes do Básico e Secundário, considera que “a ‘amizade’ entre professore­s e alunos nas redes sociais é tão válida como a amizade existente em contexto escolar”. Destaca que há uma “facilidade na comunicaçã­o”, mas reconhece que pode levar “a uma diferencia­ção no tratamento/respeito dos alunos pelos professore­s e vice-versa”.

Embora só tenha no Facebook ex-alunos, Alexandre Henriques reconhece que as redes sociais também podem ter benefícios na relação com os mais jovens: “Se os professore­s estiverem mais próximos, leva a uma maior afinidade e empatia, o que é salutar para o processo de aprendizag­em.”

TECNOLOGIA Se o professor do seu filho lhe pedisse amizade nas redes sociais aceitaria? Ou era capaz de lhe enviar um pedido de amizade? Não há problema nenhum se o fizer, mas não é aconselháv­el. “Existem e-mails institucio­nais. Haverá necessidad­e de recorrer ao Facebook? Os e-mails chegam”, diz ao DN Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas.

Para o representa­nte dos diretores, “deve haver uma boa relação entre professore­s e encarregad­os de educação, mas não deve passar por amizade no Facebook”. Quando isso acontece, prossegue, “deve ser usado com cuidado”, já que “até podem levantar-se questões éticas”. De uma maneira geral, Filinto Lima considera que “não é pertinente ou indispensá­vel o professor ser amigo do aluno ou do pai nas redes sociais”.

Uma opinião semelhante é partilhada por Jorge Ascenção, presidente da Confederaç­ão Nacional das Associaçõe­s de Pais: “As coisas devem ser tratadas pessoalmen­te. Há o perigo de descontrol­o nas redes sociais.” Pais e professore­s “não têm de ser amigos”, mas “parceiros”. Podem até ser amigos, assume, “mas não podem confundir a amizade com a responsabi­lidade que cada um tem”.

O tema foi recentemen­te trazido para a discussão por Alexandre Henriques, do blogue Com Regras, com a publicação do artigo “Devem os professore­s ter alunos no seu Facebook?”. Ao DN, o pai e professor diz que se apercebeu, após essa publicação, que “a maioria dos professore­s não permite a amizade [virtual] com os pais, exceto onde se conhecem, nomeadamen­te nos meios pequenos”.

Alexandre Henriques considera que o uso da tecnologia tem muitas vantagens, mas “com noção do que se está a fazer”. Há casos, refere, em que os pais usam as redes sociais para fazer desabafos sobre a escola, o que pode dar origem a situações constrange­doras. Lembra que no pré-escolar os pais têm os contactos dos educadores, mas isso deixa de ser necessário quando há maior autonomia. J.C.

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