Bloco de partos do Santa Maria arrisca perder financiamento
Taxa de cesarianas no Santa Maria aumentou cinco pontos percentuais em ano de mexidas nos critérios de pagamento. Casos mais complicados justificam subida
A taxa de cesarianas no Santa Maria subiu cinco pontos percentuais desde o final do ano passado até ao fim de abril. Segundo dados internos do centro hospitalar que dizem respeito aos primeiros quatro meses de 2018, a percentagem de partos que acabou numa cirurgia subiu de 25% para 30,4%, um número especialmente importante num ano em que unidades da dimensão do Santa Maria vão perder financiamento se tiverem taxas de cesarianas acima de 31,5%. No total, o hospital fez 759 partos até ao final de abril.
“Esta taxa de cesarianas preocupa imenso o departamento, porque há novas regras para pagamento aos serviços”, confessa um médico ao DN, que afasta qualquer relação entre esta subida e a saída de enfermeiros – que chegou a levar à suspensão temporária da consulta de interrupção voluntária da gravidez, como o DN noticiou no início do ano. Explicação, há que sublinhar, partilhada pelo próprio pessoal de enfermagem de gi- necologia e obstetrícia e pela administração do hospital, que distinguem a situação deste serviço daquelas noticiadas ontem pelo DN, em que a saída de mais de cem enfermeiros levou ao encerramento de camas em setores do hospital.
“Não há qualquer relação entre o número de enfermeiros e o aumento da taxa de cesarianas, pois conseguiu-se, quer através da contratação de profissionais com especialidade em saúde materna e obstetrícia quer em prestação de serviços e contratos individuais de trabalho, substituir os enfermeiros e assegurar o normal funcionamento do bloco de partos”, informa o centro hospitalar dirigido por Carlos Martins. Os médicos juntam outros detalhes técnicos. “Há que separar as cesarianas eletivas, que têm de ser feitas por razões de saúde da mãe ou do feto, das que ocorrem durante o trabalho de parto, e estas últimas é que definem a qualidade dos serviços”, explica um especialista desta área. Ou seja, esta situação deve-se mais ao facto de o hospital ser de fim de linha e receber casos mais complicados.
“Temos recebido muitos casos com patologias, não progressão do parto ou sofrimento fetal”, concretiza um enfermeiro do serviço, que acrescenta ainda outra razão. “Desde o início do ano dão a escolher às mulheres com cesarianas anteriores a possibilidade de nem tentarem parto normal, o que também pode ter contribuído para o aumento das taxas.” O DN tentou contactar o diretor do serviço de Obstetrícia Diogo Ayres de Campos, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta.
A Administração Central do Sistema de Saúde publicou em novembro de 2017 os “termos de referência para contratualização de cuidados de saúde no Serviço Nacional de Saúde para 2018”, em que define que os hospitais com taxas de cesariana superiores a 29,5% ou 31,5%, consoante o grau de diferenciação, não vão receber do Estado o pagamento pelos respetivos episódios de internamento, no âmbito do programa para a redução destas cirurgias.
Segundo contas feitas pelo DN na altura, com dados até setembro de 2017, um quarto dos hospitais públicos apresentava taxas de cesariana acima de 30%. Na média geral de 36 unidades, o número de partos que acabaram em cirurgia era de 25% e nenhum ficou abaixo dos 22%, longe dos 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde.