Diário de Notícias

DA REGULAÇÃO DA PROSTITUIÇ­ÃO À ÁGUA DA TORNEIRA NA AGENDA POLÍTICA

“Um exemplo a prosseguir”: a opinião de Pedro Delgado Alves, vice-presidente do grupo parlamenta­r.

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

A tradição ainda é o que era: várias moções setoriais – 24, mais precisamen­te – foram apresentad­as por militantes do PS para discussão no congresso nacional do partido que decorrerá de sexta-feira a domingo, na Batalha (distrito de Leiria); e, como de costume, o tempo reservado para as discussão será ultraescas­so: duas horas e quinze minutos, no domingo de manhã, último dia da reunião.

Dito de outra forma: cerca de cinco minutos para cada uma das moções. Já o debate das duas moções globais apresentad­as – uma por António Costa (Geração 20/30) e outra por Daniel Adrião (Reinventar Portugal) – decorrerá no sábado, entre as 11.30 e as 19.00, com um intervalo de uma hora e um quarto para almoço. Cerca de seis horas, portanto – sendo que pelo meio intervirão dois dirigentes socialista­s estrangeir­os (ver caixa) e ainda Carlos Zorrinho, como chefe da delegação do PS no Parlamento Europeu.

Os textos das moções setoriais tocam assuntos tão diversos como a promoção da utilização de água da torneira para beber no Parlamento e demais entidades públicas, a regulament­ação da prostituiç­ão como “uma questão de dignidade”, a defesa do SNS como um “dever do PS”, mais autonomia para as regiões da Madeira e dos Açores (moção que defende que o reforço do poder autárquico nas ilhas deve ser controlado pelo poder regional e não pelo nacional), a necessidad­e de “Formação Cívica em defesa da democracia”, a promoção do acesso generaliza­do à reanimação cardíaca (porque, dizem os subscritor­es, em Portugal “a taxa de sobrevivên­cia da morte súbita cardíaca é muita baixa, cerca de 3%, afetando dez mil pessoas, ou seja, uma vítima por hora”).

Os temas passam também pela defesa da reversão total da privatizaç­ão dos CTT, pela criação de um “Serviço Nacional Público de Cultura”, em defesa de “Um novo pacto para o Ensino Superior e Ciência”, pela implementa­ção de medidas que incentivem o regresso a Portugal de portuguese­s residentes no estrangeir­o.

Mas também há textos mais ideológico­s, como o que tem Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamenta­res, como primeiro subscritor. Na qualidade de principal defensor dentro do governo do acordo do PS com os partidos à sua esquerda, Pedro Nuno Santos sublinha, num texto intitulado “Por uma social-democracia da inovação”, que esta ideologia não se deve circunscre­ver à ideia de que ao Estado cabe apenas a responsabi­lidade de proteger os mais fracos e reduzir as desigualda­des, por muito importante que esta função seja”. Ou seja, “o Estado deve, na sua ação, ser um mecanismo de redistribu­ição de rendimento e de proteção social, mas também de desenvolvi­mento e inovação socioeconó­mica”, não podendo “estas duas atuações” ser “desligadas”, “no contexto de um nova social-democracia”. “O Partido Socialista mostrou que tinha razão quando defendeu a viragem da página da austeridad­e. Está na altura de disputar – e ganhar – o debate sobre a criação sus- tentável de riqueza, (re)pensando o papel do Estado e das políticas de inovação.” Discutir não é votar Sem inibições nem meias palavras, o secretário de Estado afirma ver o PS como um partido claramente situado à esquerda – tese que entrou em choque com as defendidas por outro peso-pesado do governo, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeir­os – que quer o PS ao centro. Uma fissura interna – com décadas no PS –, que se deverá refletir nos discursos que ambos fizerem no congresso.

O que a tradição socialista também diz que é, sendo o debate das moções setoriais muito curto, a ele não se seguirão votações de aprovação ou reprovação dos documentos. Tudo será remetido para um outro órgão, a Comissão Nacional do PS, órgão máximo entre congressos.

“O recurso à água da torneira apresenta vantagens inequívoca­s ao nível da redução da produção de resíduos” MOÇÃO SETORIAL MARCOS SÁ E PEDRO FARMHOUSE

“Escolher ser um trabalhado­r do sexo é uma opção que deve ser encarada como uma questão de liberdade de escolha individual” MOÇÃO SETORIAL IVAN GONÇALVES (SEC. GERAL DA J.S.)

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Pedro Nuno Santos é o primeiro subscritor da moção “Por uma social-democracia de inovação”

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