Sentença do Gürtel reacende guerra política em Espanha
Ciudadanos de Rivera recusa apoiar moção de censura do PSOE e baralha contas de Sánchez para fazer cair governo de Rajoy
Um dia depois de conhecida a histórica sentença contra o PP no chamado caso Gürtel, Pedro Sánchez anunciou ontem uma moção de censura para fazer cair o governo de Mariano Rajoy. Em resultado, o primeiro-ministro espanhol cancelou a ida a Kiev para ver hoje a final da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Liverpool, e o líder do PSOE a presença no Congresso do PS na Batalha. Pormenores, sim, mas também sinais de que a guerra política regressou em força a Espanha. E vai muito para além de PSOE e PP.
“O PSOE pediu ao PP que assumisse as suas responsabilidades, sem sucesso. Tiveram a possibilidade de o fazer e não o fizeram perante uma sentença que é uma condenação”, disse Pedro Sánchez, justificando a moção assinada pelos 84 deputados do grupo parlamentar do PSOE no Parlamento espanhol. Sánchez assume-se como candidato a ficar na liderança do governo, mas não fala em eleições. Na quinta-feira, a Audiencia Nacional deu a conhecer a sentença do Gürtel, escândalo de corrupção que envolveu empresários e membros do PP. Entre eles está o ex-tesoureiro do partido, Luis Bárcenas, condenado a 33 anos de prisão e 44 milhões de euros de multa. O partido foi condenado a pagar 245 mil euros de multa.
Mas trocar Rajoy por Sánchez não é, para Albert Rivera, solução. O líder do Ciudadanos não tenciona apoiar a moção do PSOE, que terá de procurar apoios no Unidos Podemos e noutras formações partidárias mais pequenas (para conseguir maioria de 176 votos teria de se juntar a forças tão díspares como o PdeCat da Catalunha ou a Bildu do País Basco). O Ciudadanos antes prefere apresentar a sua própria moção de censura contra Rajoy, prevendo desde logo a convocação de novas eleições legislativas. Isto porque apesar de ser um partido nascido na Catalunha, com raízes marcadamente regionais, o Ciudadanos é a formação que atualmente lidera as intenções de voto a nível nacional em Espanha.
Rajoy reagiu de forma dura contra a moção de censura anunciada pelo líder do PSOE. “Debilita claramente Espanha”, declarou, perante os jornalistas na Moncloa, culpando o líder da oposição de acentuar a instabilidade no país, numa altura de elevada tensão entre Madrid e os independentistas catalães. “Esta moção assenta numa falsidade. A sentença vai ser alvo de recurso, não é definitiva. Nenhum membro deste governo que agora se pretende censurar esteve a ser julgado neste caso. Nenhum membro deste governo teve nada que ver com o que se passou à altura dos acontecimentos”, afirmou Rajoy, sublinhando que “a responsabilidade imputada ao PP é civil e não penal”.
Lembrando que há socialistas investigados, por exemplo no chamado caso dos ERE, Rajoy disse que “Sánchez carece de legitimidade moral” e acusou-o de querer governar a qualquer custo e com o apoio de qualquer tipo de geringonça. “A moção de censura interessa apenas ao senhor Sánchez, que perdeu as últimas eleições [de 2015 e 2016] e procura desde então o seu lugar na política espanhola. Esta moção não é consequência de nada”, disparou, admitindo que “qualquer dia ainda veremos [Sánchez] aliado ao senhor [Carles] Puigdemont”, referindo-se ao ex-presidente da Generalitat da Catalunha exilado em Berlim.
Só com o apoio de uma geringonça de pequenos partidos e do Unidos Podemos é que a moção do PSOE seria aprovada