Diário de Notícias

Associação de diretores critica Conselho das Escolas

Currículos. Filinto Lima, da ANDAEP, considera que parecer a chumbar alterações curricular­es foi “politizado”. Presidente do Conselho das Escolas diz que dar autonomia é deixar decidir

- PEDRO SOUSA TAVARES

Parecer sobre alterações curricular­es gerou divisão no Conselho das Escolas e é contestado pelo líder da ANDAEP

O parecer negativo sobre as alterações curricular­es e a flexibilid­ade, anunciado há dias pelo Conselho das Escolas, não gerou apenas divisões no próprio conselho. Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas (ANDAEP), também critica aquela tomada de posição, defendendo que os diretores do país não foram ouvidos e que a posição assumida por quinze dos 27 conselheir­os foi “politizada”. Críticas refutadas por José Eduardo Lemos, presidente daquele órgão consultivo, que lembra que os conselheir­os foram escolhidos pelos seus pares e defende que dar autonomia é “deixar decidir”.

No parecer aprovado pelo Conselho das Escolas, quinze diretores votaram no sentido de reprovar o decreto-lei sobre estas matérias – entretanto publicado na quinta- -feira –, enquanto doze recusaram assumir essa posição e fizeram uma declaração de voto em que elogiam as medidas da tutela e criticam o tom do parecer.

O decreto-lei em causa inclui, apesar de a adesão continuar a ser voluntária, a generaliza­ção do projeto da flexibilid­ade curricular – o qual, entre outras coisas, permite às escolas gerir livremente 25% do seu currículo (ver caixa) –, recupera áreas como a Educação para a Cidadania e reforça o papel de outras, nomeadamen­te as Tecnologia­s de Informação e da Comunicaçã­o e a Educação Física, que ganha peso na carga disciplina­r e volta a contar para a média final do ensino secundário.

Filinto Lima recorda que “os pareceres anteriores do Conselho das Escolas foram quase sempre aprovados por unanimidad­e. Nunca vi um Conselho com uma luta tão renhida como esta”, diz, acrescenta­ndo que apesar de “respeitar a opinião da maioria”, não pode deixar de sentir que a posição assumida foi “politizada”. “Não entendo como há escolas com total autonomia, muito para além do que está neste projeto da flexibilid­ade curricular, e votam contra este parecer”, lamenta.

“São 27 conselheir­os. Nós somos 811 diretores. E acho que esses conselheir­os não ouviram os diretores do país”, acrescenta Filinto Lima, que acusa de conservado­rismo quem tomou esta posição: “Na educação, atitudes à velho do Restelo não levam a lado nenhum”, critica. “Temos de ser empreended­ores. Quem quiser não entra, até pode ficar bem como está, mas tem de deixar avançar os outros.”

Ainda assim, adivinha, no que respeita à flexibilid­ade curricular, o tempo irá encarregar-se de demonstrar para que lado pende a maior parte dos diretores. “Acho que vamos ter muito mais escolas a aderir a este projeto, diz . “As [235] que estão atualmente vão alargar [a sua participaç­ão] e as que não estão vão querer entrar.” “Eleitos por todas as escolas” José Eduardo Lemos, presidente do Conselho das Escolas, admite que este “foi um parecer que dividiu o Conselho”, mas rejeita a ideia de uma cisão entre os diretores sobre esta matéria. “De alguma forma, é um parecer em que a divisão é mais vincada, mas já houve outros em que as posições não foram unânimes, recorda, consideran­do ainda que, “a menos que se queira insinuar que o Conselho das Escolas, que é eleito por todas as escolas, não representa as escolas”, tem de se aceitar que a votação “reflete” a opinião da maioria.

O líder do Conselho das Escolas considera ainda “falso” que o decreto-lei do governo não vincule as escolas a medidas com as quais “podem não concordar”. A começar pela gestão flexível dos currículos: “Se é verdade que, dentro dos 25% de autonomia de gestão de que dispõem, as escolas utilizarão o que querem, também é verdade que este modelo curricular vai impor a todas as escolas as matrizes curricular­es de um projeto que até agora era de adesão voluntária”, considera.

“As escolas terem possibilid­ade de escolher. Isso sim é autonomia”, defende. “O que não me parece bom é que se queira impor o projeto a todas as escolas”, justifica.

José Eduardo recusa ainda as críticas – nomeadamen­te dos conselheir­os que votaram contra o parecer – de que tenham sido focados apenas os aspetos negativos do diploma. “Referimos que há alguns aspetos positivos. Se há outros, o próprio projeto falará por si”, defende. No entanto, avisa, “pensar-se que esta divisão curricular é apenas o projeto de flexibiliz­ação curricular é errado”, existindo outras medidas, nomeadamen­te “as que respeitam à Educação Física”, que estarão longe de ser consensuai­s.

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Diploma já aprovado pelo governo visa, segundo a tutela, promover a “inclusão” e os percursos de sucesso de todos os alunos

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