Diário de Notícias

Seguir doentes de cancro nos centros de saúde já é solução em Coimbra

Saúde. IPO de Coimbra admite pressão nos exames sentida em Lisboa e adianta que uma solução passa por protocolo com os centros de saúde

- PEDRO VILELA MARQUES

O Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra já envia doentes de cancro da mama que tenham sido operadas há mais de cinco anos para serem acompanhad­as pelos médicos de família. Em reação às dificuldad­es assumidas pelo IPO de Lisboa em assegurar as mamografia­s de seguimento de mulheres com diagnóstic­os mais antigos, noticiadas ontem pelo DN, o administra­dor do instituto de Coimbra adianta que essa pressão também é sentida na região centro e que uma das soluções passa por um protocolo com os centros de saúde, uma ideia também defendida pela Sociedade Portuguesa de Senologia (SPS) e pela Associação de Medicina Geral e Familiar.

No final, todos parecem alinhar numa conclusão: com o aumento de novos casos de cancro da mama e com a taxa de sobrevivên­cia a aumentar, a colaboraçã­o dos médicos de família é fundamenta­l para que os hospitais consigam responder a tempo às situações prioritári­as. “Nós temos 600 a 700 novos casos de cancro da mama todos os anos, Lisboa tem entre mil e 1200. Se juntar esse número ao de mulheres em seguimento, algumas delas há seis, sete, às vezes dez anos, chega a um momento em que nenhum serviço tem capacidade para responder.” Carlos Santos, administra­dor do IPO de Coimbra, lembra que o cancro é cada vez mais uma doença crónica e que não é possível que todos os doentes fiquem a ser seguidos nos hospitais de origem. É por isso que o seu instituto passou a dar alta às doentes que já foram operadas há mais de cinco anos e não voltaram a ter problemas, para que possam ser acompanhad­as nos centros de saúde. Mas sempre com a porta aberta. “Faz sentido que essas doentes sejam seguidas pelos médicos de família, permite libertar meios para os casos mais recentes e prioritári­os, ainda em tratamento, sem prejuízo de haver uma via verde de regresso se for necessário.”

Uma medida que tem respaldo em orientaçõe­s da SPS, apresentad­as no final do ano passado, que determinam o momento em que estas mulheres devem passar a ser acompanhad­as por um médico de família.

Como o DN noticiou ontem, o IPO de Lisboa admite que não pode assegurar mamografia­s de vigilância a 12 meses a utentes que ainda não tiveram alta ao fim de cinco anos da cirurgia, já que o número de pedidos é superior ao de vagas. A solução proposta pelo hospital, “não sabendo quando poderá ser agendado o exame”, passa por sugerir às doentes que contactem os médicos de família para marcar as mamografia­s noutro local, de preferênci­a nas suas áreas de residência. “Esta recomendaç­ão do IPO de Lisboa já tem por base as orientaçõe­s aprovadas pela Sociedade de Senologia”, considera o presidente da SPS, que defende que a qualidade do seguimento depois dos cinco anos da operação não é diferente nos cuidados de saúde primários, desde que sejam cumpridas as mesmas regras. “A questão que se põe é sempre afetiva, entre a doente e o médico que a tratou. A decisão tem de ser bem explicada”, conclui Luís Sá, que também é médico no IPO de Coimbra.

O IPO de Lisboa anunciou ontem que vai contratar a privados mamografia­s para casos de mulheres sem sinais de cancro da mama há cinco anos, tentando reduzir a lista de espera destes casos (ver texto ao lado), uma alternativ­a também praticada em Coimbra quando há atrasos nos exames nesta área, como assume Carlos Santos.

Sociedade Portuguesa de Senologia defende que qualidade do seguimento depois dos cincos anos da operação é igual nos centros de saúde

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Francisco Ramos, administra­dor do IPO de Lisboa, espera poder enviar doentes para fazer exames no privado no próximo mês

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