Diário de Notícias

Ângela e a família vão regressar a Beja para serem felizes

Casal e três filhos mudam-se porque se sentem desterrado­s em Lisboa

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Ângela Malveiro é daquelas pessoas que estão sempre a sorrir. E quando fala em voltar a viver em Beja o sorriso ainda se rasga mais. “É lá que sou feliz! E sei que os meus três filhos também serão mais felizes lá.”

Nasceu em Beja mas veio para Lisboa em 1996 porque a vida profission­al do pai, que chegou a ser governador civil do distrito nos tempos de Cavaco Silva, assim o ditou. Mas os corações de Ângela (34 anos) e do marido Gonçalo (39), também ele bejense, bateram sempre por Beja.

O regresso à terra já tem data marcada e está próximo: 31 de julho. Ângela queria que fosse já amanhã, porque acredita que Mafalda (7 anos), Maria (4) e Manuel (2) terão mais qualidade de vida.

Na verdade esta é a terceira tentativa que o casal – ela diretora de uma creche em Telheiras, ele nutricioni­sta e professor universitá­rio em Coimbra – faz para viver na cidade alentejana. A primeira foi quando nasceu a filha mais velha, Mafalda. Nessa altura ambos trabalhava­m na vizinha Évora, capital de distrito com a qual Beja “tem grande rivalidade, como Lisboa e Porto”. Ângela recorda que quando trabalhava num banco, os eborenses notavam a diferença do sotaque (sim, ela própria garante que são diferentes) e perguntava­m-lhe de onde era. “Quando dizia que era de Beja, chegaram a responder-me ‘ah! é alentejana de segunda’. Ficava roída, mas não podia dizer nada... Sempre fomos preteridos em relação a Évora.”

Por razões profission­ais, o casal regressou sempre a Lisboa. Mas não gosta de cá viver. “Aqui ninguém pertence a Lisboa, ninguém é de Lisboa, somos todos desterrado­s. Gostava que os meus filhos tivessem o sentimento de pertencer a algum sítio.”

Ângela sabe que viver em Beja e trabalhar diariament­e em Lisboa – o marido vai quatro vezes por semana a Coimbra – terá custos grandes. Mas pensa que não levará muito mais tempo do que atualmente gasta entre a Parede, onde reside, e Telheiras, onde trabalha – “Deixo os meus filhos na escola às 08.00 para estar no trabalho às 10.00. De Beja até cá também devo demorar duas horas.” O que não será fácil dada a falta de ligação direta por comboio a Lisboa e ao facto de também não haver autoestrad­a...

Sacrifício que está completame­nte convencida de que valerá a pena. “Somos aficionado­s pela família e pelos nossos filhos e eles merecem viver onde têm boas escolas, onde possam andar na rua, onde sejam felizes... Aqui andamos sempre stressados e isso reflete-se nos miúdos. E lá, se me atrasar, há sempre alguém que fica com eles.”

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