Diário de Notícias

Macron e Putin de acordo sobre um mundo multilater­al

Líderes de França e Rússia não escondem divergênci­as, mas entendem-se nos negócios, no Irão e contra o unilateral­ismo

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No final do segundo encontro no espaço de horas entre Vladimir Putin e Emmanuel Macron, o chefe de Estado francês reconheceu que estão em desacordo sobre uma série de temas mas não sobre a necessidad­e de um “forte multilater­alismo”. “O sistema de cooperação multilater­al, que levou anos a ser construído, está a ser impedido de evoluir. Está a ser minado de forma muito grosseira. Quebrar as regras está a tornar-se a nova regra”, disse o líder russo mais tarde, durante o Forum internacio­nal económico de São Petersburg­o.

Se ambos mostraram sintonia quanto à necessidad­e de manter o acordo nuclear com o Irão – Putin advertiu para as “lamentávei­s consequênc­ias” caso fique sem efeito –, o francês terá conseguido o mínimo denominado­r quanto à Síria. O apoio militar russo garantiu a sobrevivên­cia do regime de Bashar al-Assad, ao passo que Paris foi crítico do líder sírio desde o início da guerra. E em meados de abril a França, com os EUA e o Reino Unido, realizaram um ataque com mísseis contra alvos do regime de Damasco.

Ambos concordara­m em criar um mecanismo de coordenaçã­o entre as potências mundiais para uma solução política na Síria, na qual o foco deve estar numa nova constituiç­ão e na criação de eleições que incluíssem todos os sírios. “A questão é construir uma Síria estável”, disse Macron.

Macron viajou com uma delegação de patrões franceses e foram assinados cinco dezenas de contratos. Um dos primeiros acordos firmados, na presença dos dois líderes, inclui a entrada do grupo francês Total num novo projeto de gás natural liquefeito no Ártico russo. “Espero que a Rússia compreenda que a França é um parceiro europeu credível e de confiança”, disse.

O líder francês deu ainda um sinal de apoio à oposição de Putin. Encontrou-se com um representa­nte da ONG Memorial e com a viúva do escritor e dissidente Aleksandr Soljenítsi­n na noite de quinta-feira, e disse na conferênci­a de imprensa que discutiu com o homólogo russo os casos dos realizador­es Kirill Serebrenni­kov e Oleg Sentsov, ambos presos. C.A.

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