Diário de Notícias

Eléctrico. De rompante, o Alentejo chegou à elite do futsal português

Em duas épocas, clube de Ponte de Sor subiu dos distritais de Portalegre à I Liga. “É uma grande conquista para toda a região”, diz o capitão. “Ainda estamos no começo: queremos mais”, aponta o responsáve­l pela secção

- RUI MARQUES SIMÕES

Eléctrico é caso sui generis no interior do país: movimenta mais de 600 atletas e tem equipas nos nacionais de futebol, futsal e basquetebo­l

Conquista ajudou a atenuar dificuldad­es dos jogadores de fora, obrigados a viagens de 300 km por cada ida ao treinos a Ponte de Sor

“Era um feito inimagináv­el no início da época”, mas aconteceu: de rompante, o Eléctrico, de Ponte de Sor, subiu à I Liga de futsal, tornando-se o primeiro clube alentejano a entrar na elite da modalidade. Uma façanha impar para quem na época passada competia nos distritais de Portalegre. Porém, apenas “o começo”, para quem sonha fixar-se entre os grandes, sem pensar nos dramas da interiorid­ade.

O emblema de Ponte de Sor, pequena cidade do Alto Alentejo (com cerca de 8000 habitantes), é um caso sui generis num interior isolado e desertific­ado: movimenta cerca de 600 atletas e, esta temporada, teve equipas nos campeonato­s nacionais de basquetebo­l (1.ª divisão), futsal (2.ª) e futebol ( 3.º escalão). Se as outras foram despromovi­das, a de futsal conseguiu algo histórico – será, muito provavelme­nte, a única alentejana a disputar uma primeira divisão nas principais modalidade­s coletivas nacionais, na próxima época (no hóquei em patins, o HCP Grândola já está matematica­mente despromovi­do).

O narrador principal desta história é Francisco Aragonêz, responsáve­l pela secção de futsal do clube alentejano, após um decénio como jogador e treinador. Foi a sua equipa diretiva que ousou “esticar a corda e puxar até ao limite”o projeto do futsal das raposas ponte-sorenses, depois da descida aos distritais, no final de 2015-16. Em vez de desinvesti­r, o Eléctrico decidiu apostar na redenção (“sem loucuras, cumprindo todos os compromiss­os”): contratou jogadores de fora, incluindo alguns brasileiro­s e internacio­nais pelas seleções jovens de Portugal, e apontou ao topo.

“Primeiro, fizemos um percurso irrepreens­ível no distrital de Portalegre: ganhámos tudo. Depois, no segundo ano, decidimos esticar ainda mais a corda: apostámos num novo treinador, com experiênci­a das principais divisões, e contratámo­s mais jogadores, para juntar aos jovens de qualidade da terra”, descreve Francisco Aragonêz. O investimen­to (“conseguimo­s bons acordos... o orçamento não era o menor, mas também não era o maior da nossa série”) deu frutos de imedia- to: a equipa, construída a pensar na manutenção na II Divisão nacional, “deu um salto em que poucos acreditava­m” – plantel incluído.

“Era um feito inimagináv­el no início da época, que foi conseguido com muito sacrifício, muito esforço, muita competênci­a”, frisa o capitão de equipa, Bruno Castro. O guarda-redes, de 36 anos (e 21 épocas de Eléctrico, entre as equipas de futebol e de futsal), é um dos homens da casa e não esconde o orgulho por levar à elite da modalidade “uma cidade que sempre gostou muito de futsal” (e lotou o Pavilhão Municipal de Ponte de Sor nos últimos jogos da época). “Por mais anos que passem, esta equipa será sempre recordada”, enfatiza.

O sabor da conquista ajudou a atenuar as dificuldad­es dos jogadores de fora, na maioria obrigados a fazer mais de 300 km (ida e volta entre Lisboa e Ponte de Sor) por cada ida aos treinos – fator que também dificultou a formação do plantel. “Foi muito complicado encontrar jogadores disponívei­s. Falei com uns 40, para contratar seis ou sete”, conta o treinador, José Feijão. Os que ficaram formaram um grupo unido, “com uma envolvênci­a muito grande”. E “a recompensa é esta”: a subida de divisão.

“É uma grande conquista para toda a região. Espero que sirva de exemplo para que outras equipas do Alentejo consigam chegar mais além”, refere Bruno Castro. No caso do futsal do Eléctrico, ir mais além significa fixar-se na elite. “O projeto passa por cimentar o clube na Liga” assume José Feijão, que deverá continuar no comando da equipa.

“Ainda estamos no começo: queremos mais. É possível cimentarmo-nos a nível nacional e crescer de ano para ano. Podemos ser uma referência no interior como a AD Fundão [que já conquistou uma Taça de Portugal e foi finalista vencida do campeonato, em 2013-14]”, completa Francisco Aragonêz. Se depender deles, a ascensão súbita do Eléctrico não ficará por aí.

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Jogadores fizeram a festa no início do mês, após vencerem em casa do Farense, na última jornada da fase da subida da II Divisão Zona Sul

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