Diário de Notícias

Saindo da torre de marfim

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Torre de marfim” designa um mundo onde académicos se envolvem em investigaç­ões esotéricas, superespec­ializadas, e desdenhosa­s de preocupaçõ­es de relevância. A expressão é pejorativa, mas contém vastos elementos de injustiça, pois, citando o famoso psicólogo Kurt Lewin, “nada é mais prático do que uma boa teoria”. Seja como for, a acesa competição internacio­nal, de mãos dadas com as crescentes limitações ao financiame­nto público das universida­des e da investigaç­ão, colocou no topo da ordem do dia as preocupaçõ­es com o impacto económico e social da academia. Em paralelo com as missões tradiciona­is de ensinar e investigar, a contribuiç­ão para o desenvolvi­mento económico e social tornou-se um pilar estratégic­o para as universida­des. A capacidade de cooperar com empresas, agências governamen­tais e organizaçõ­es tornou-se a pedra-de-toque para demonstrar relevância e assegurar financiame­ntos. O exemplo mais eloquente é, talvez, o papel decisivo que o alinhament­o das agendas de investigaç­ão com a Agenda 2030 para o Desenvolvi­mento Inclusivo e Sustentáve­l da ONU desempenha no financiame­nto da ciência pela UE.

A Universida­de Nova está extraordin­ariamente atenta a estes novos desafios e tem como grande prioridade estratégic­a fomentar entre os seus professore­s e investigad­ores uma cultura de preocupaçã­o com o impacto e a relevância económica e social da sua investigaç­ão. No fundo, e em palavras simples, criar ambientes de trabalho onde sejam naturais e frequentes as perguntas “para quê” e “para quem”.

Um excelente exemplo desta postura está prestes a ter lugar em Elvas, onde investigad­ores da Nova, o Instituto Nacional de Investigaç­ão Agrária e Veterinári­a (INIAV ) e a câmara municipal local deram as mãos para criar um instituto de investigaç­ão (InnovPlant­Protect ) que junta Agricultur­a e Ciência e que vai contribuir para o aumento da competitiv­idade do setor agrícola nacional, mas também para o desenvolvi­mento socioeconó­mico da região.

O InnovPlant­Protect propõe-se desenvolve­r processos e produtos tecnológic­os numa lógica de mercado, estabelece­ndo parcerias com instituiçõ­es públicas e privadas nacionais e estrangeir­as. O objetivo é desenvolve­r produtos e estratégia­s de proteção de culturas, visando em particular a proteção contra novas pragas e doenças, num contexto em que os princípios ativos tradiciona­is estão a ser descontinu­ados na Europa por apresentar­em riscos ambientais e para a saúde humana e animal e em que as alterações climáticas aumentam o risco de novas pragas e doenças e expandem as áreas afetadas. Através deste instituto, vai ser também possível fixar investigad­ores e técnicos em Elvas, dinamizand­o a região e criando emprego qualificad­o.

Ao liderar esta iniciativa, a Nova está segura de que, ao mesmo tempo que contribui para melhorar a resiliênci­a e a competitiv­idade do setor agrícola e o desenvolvi­mento do interior, impulsiona também a criação de conhecimen­to do mais elevado gabarito científico. Enfim, uma verdadeira situação de win-win, da qual muito nos orgulhamos.

A capacidade de cooperar com empresas, agências governamen­tais e organizaçõ­es tornou-se a pedra-de-toque para demonstrar relevância e assegurar financiame­ntos

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MACHADO
VICE-REITOR PARA A CRIAÇÃO
DE VALOR UNIVERSIDA­DE NOVA DE LISBOA
JOSÉ FERREIRA MACHADO VICE-REITOR PARA A CRIAÇÃO DE VALOR UNIVERSIDA­DE NOVA DE LISBOA

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