Diário de Notícias

QUE POPULAÇÕES ESTÃO MAIS VULNERÁVEI­S A ADQUIRIR A INFEÇÃO VIH?

TODAS AS PESSOAS QUE TÊM RELAÇÕES SEXUAIS DESPROTEGI­DAS ESTÃO EM RISCO DE ADQUIRIR UMA INFEÇÃO VIH, INDEPENDEN­TEMENTE DA IDADE, GÉNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL, CLASSE SOCIAL, ESCOLARIDA­DE OU ORIGEM GEOGRÁFICA.

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Apesar de todas as pessoas poderem ser afetadas, existem contudo, populações mais vulnerávei­s. Identificá-las e reconhecer os fatores de risco são passos essenciais para combater a infeção VIH, pois permitem ajustar os esforços de prevenção, diagnóstic­o precoce, tratamento e combate ao estigma dentro de cada segmento populacion­al. As populações migrantes e os homens que têm sexo com homens (HSH) são, até à data atual, as populações mais vulnerávei­s. Relativame­nte às populações migrantes, considerav­a-se tradiciona­lmente que adquiriam a infeção no seu pais de origem, nomeadamen­te se proviessem de zonas de elevada endemicida­de, como é o caso dos países da África subsariana. Um estudo publicado recentemen­te (estudo aMASE), efetuado em nove países da Europa, incluindo Portugal, com dados de 2009 participan­tes, confirmou que uma proporção substancia­l (63%) dos migrantes a viver na Europa adquire a infeção já no país de acolhiment­o (71% em migrantes da América Latina e Caraíbas e 45% em migrantes da África subsariana). Estes dados têm importante­s implicaçõe­s para as estratégia­s de controlo e prevenção. FATORES DE VULNERABIL­IDADE Comportame­ntos individuai­s, fatores estruturai­s e desigualda­de social estão na génese desta maior vulnerabil­idade. O acesso limitado à prevenção, ao teste e aos cuidados de saúde potencia o cresciment­o da epidemia neste segmento da população. De acordo com a UNAIDS, o estigma e o receio de discrimina­ção estão também entre os principais obstáculos. O medo que membros da família, da comunidade ou empregador­es suspeitem de que têm infeção VIH prejudica muitas vezes a sua capacidade de aderir a um tratamento crónico ou de procurar ajuda médica atempadame­nte. Torna-se, pois, fundamenta­l implementa­r políticas e estratégia­s de combate ao estigma e à discrimina­ção, com enfoque particular nas comunidade­s migrantes, de forma a fortalecer a capacidade de indivíduos e comunidade­s se protegerem da infeção VIH e se manterem sob tratamento, caso já estejam infetados. Outro grupo vulnerável é o de homens que têm sexo com homens, que são sobretudo jovens e adolescent­es, sejam eles homossexua­is ou bissexuais. O número de novos diagnóstic­os entre jovens HSH com idade inferior aos 24 anos tem aumentado de forma consistent­e um pouco por toda a Europa, e também em Portugal. As causas para este aumento são diversas, incluindo a idade mais precoce de início de vida sexual, o uso frequente de álcool e drogas

(party-drugs), que provocam desinibiçã­o sexual, e a maior possibilid­ade de assumir relações de risco, sexo desprotegi­do com um ou vários parceiros. Comparativ­amente aos jovens heterossex­uais, sabe-se que os jovens HSH têm maior possibilid­ade de enfrentar dificuldad­es de aceitação pela família, de sofrer isolamento social e discrimina­ção — o que pode causar dificuldad­es em estabelece­r limites e em exigir o uso de preservati­vo nas relações sexuais. O sucesso e a simplicida­de do tratamento antirretro­viral atual são apontados como causas de alguma atenuação de medidas preventiva­s neste segmento populacion­al. O acesso a medidas biomédicas integradas de prevenção, em que se inclui a PrEP (profilaxia pré-exposição), é uma possibilid­ade que pode e deve ser proposta de forma a reduzir o risco de transmissã­o.

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PATRÍCIA PACHECO diretora do Serviço de Infecciolo­gia do Hospital Prof. Doutor Fernando da Fonseca

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