Não sofrer golos acabou por ser um bom resultado
Portugal empatou na Bélgica, que não marcou pela primeira vez em 21 meses, num jogo em que o campeão europeu teve bons períodos
MANUEL QUEIROZ Portugal empatou ontem sem golos na Bélgica, perante uma das mais fortes seleções do mundo. Foi, ainda assim, o terceiro jogo seguido sem ganhar da equipa comandada por Fernando Santos, que segunda-feira passada tinha empatado com a Tunísia (2-2) e em março tinha perdido (3-0) com a Holanda. Nos últimos quatro jogos a seleção tinha sofrido sete golos, ou seja, manter a baliza em branco foi bom para o moral.
O Estádio Rei Balduíno encheu-se para receber o campeão da Europa e para festejar os cem jogos de Vertonghen pelos Diabos Vermelhos, o primeiro belga a atingir a centena. O que diz alguma coisa do futebol belga que hoje está a recuperar o seu prestígio.
Fernando Santos começou com uma equipa de mobilidade, com Gonçalo Guedes a ponta-de-lança como algumas vezes jogou no Benfica, mais Bernardo Silva e Gelson (bom jogo, mal a rematar como é costume). Ou seja, sem ponta-de-lança fixo, porque Guedes tem muita mobilidade pela sua rapidez. Mais importante ainda para o jogo de preparação com um adversário forte foi a dupla defensiva Pepe-José Fonte, que esteve bem tirando os primeiros minutos.
A Bélgica desenhava um 3-4-2-1, com Lukaku na frente e tendo Hazard e De Bruyne atrás, mais Ferreira Carrasco e Mertens e com os laterais muito ofensivos – em teoria mete medo, na prática, ontem, nem tanto. Claro que tinha ainda Courtois na baliza, Kompany a comandar a defesa, faltava Witsel a meio-campo (lesionado) e jogou Dembelé e depois Fellaini (entrou ao intervalo) – um onze muito forte mesmo sem Naingollan, que ficou de fora até dos 28 que ainda estão concentrados.
Portugal começou mal, permitindo que o ataque belga criasse alguns problemas, mas ao fim de um quarto de hora já controlava as operações e ao intervalo tinha perdido as melhores oportunidades (Gonçalo Guedes, Gelson, Bernardo, todos perto do golo). Tinha mais remates, mais posse de bola, dava mais a impressão de estar confortável em campo com as trocas de bola em progressão. Gelson fazia bem a ligação, ao jeito do que tem feito no Sporting, tal como atrás João Moutinho e William equilibravam tudo.
Ao intervalo a Bélgica modificou o seu ataque (só ficou Hazard) e veio a conseguir os seus remates mais perigosos (Meunier e De Bruyne), mas Beto esteve lá nessas alturas – um guarda-redes de 1,79 m já não se usa, teve duas saídas em falso a cruzamentos, mas em agilidade e elasticidade foi enorme. Era mais nas zonas laterais que a equipa cedia, até porque Raphaël Guerreiro melhorou em relação ao que tinha feito com a Tunísia, mas continua curto para as necessidades. Cédric deve partir à frente de Ricardo Pereira para lateral direito, até porque é campeão europeu e está mais rodado.
Fernando Santos lembrou no fim que a Bélgica há 21 meses que não acabava um jogo sem marcar (0-2 com a Espanha, por acaso), colocando-a como uma das candidatas, o que lhe dá algum conforto em relação a estes 90 minutos. A Bélgica fez mais substituições e mais cedo, até porque este foi apenas o primeiro dos seus três jogos de preparação. Com Quaresma (substituiu Gelson aos 63’) e depois com Manuel Fernandes (entrou aos 72 para o lugar de João Mário) a equipa perdeu alguma ligação e passou a ser mais importante não sofrer golos, algo que, parece-me, estava muito no subconsciente (ou mesmo no consciente...) dos homens mais do meio-campo. E não foi preciso ser muito forte para isso nessa fase final, num jogo com um ritmo relativamente baixo. Gelson Martins num lance com Fellaini. Em baixo, uma das várias defesas feitas pelo guarda-redes Beto