Diário de Notícias

Espirituos­as pedem congelamen­to do imposto sobre o álcool

Medida visa limitar falta de competitiv­idade face a Espanha. Pode aumentar em 12,7 milhões a receita do IABA, diz estudo da EY

- ILÍDIA PINTO

Imposto sobre álcool e bebidas alcoólicas é de 1386,83 euros por hectolitro contra os 913,28 euros em vigor em Espanha

A Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituos­as (ANEBE) quer que o governo congele o imposto aplicável ao setor em 2019 e promete que isso não resultará numa quebra de receitas, mas sim num cresciment­o de 3,6%. Ou seja, mais 12,7 milhões de euros para os cofres do Estado só em 2019. Em causa está o facto de o imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas (IABA) aplicável às espirituos­as, como o licor, a aguardente e o gin, ser 30% mais baixo em Espanha e o objetivo é “reduzindo o incentivo à aquisição destes produtos” no país vizinho.

“Quanto maior for o diferencia­l da taxa face a Espanha, mais apelativas se tornam as condutas fraudulent­as ou a mera preferênci­a do consumidor pela compra destes produtos do outro lado da fronteira”, diz Carlos Lobo, partner de assessoria fiscal da Ernest & Young, a consultora que elaborou o estudo em causa. O também ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais lembra que há um nível de tributação ótimo, um ponto máximo de rendimento de um imposto, a partir do qual as receitas arrecadada­s deixam de ser impulsiona­das, “na medida do desejável”, pelo incremento da sua taxa. E garante que, no caso das bebidas espirituos­as, essa “taxa ideal” em Portugal seria “14,8% inferior à atual”, que é de 1386,83 euros por hectolitro. Em Espanha é de 913,28 euros por hectolitro. “É um diferencia­l brutal e que está a afetar a base do imposto”, sublinha.

Carlos Lobo garante que a proposta para a criação de uma cláusula de stand still (congelamen­to) não é, sequer, inovadora (ver infografia). “Portugal é o único país da Europa Ocidental que não aplicou nenhuma medida de congelamen­to ao IABA. Espanha, França, Alemanha, Holanda e outros fizeram-no porque perceberam que quanto mais aumentava a taxa mais perdiam receita. E, para nós, o problema é mais grave pela proximidad­e a Espanha”, refere.

Já Rui Pedro Duarte, secretário-geral da ANEBE, lembra que há um número crescente de empresas portuguesa­s a produzir licores, aguardente­s e gins. Produtos conceituad­os em Portugal e além fronteiras, como o Licor Beirão, a Ginja de Óbidos, a aguardente da Lourinhã – uma das três regiões demarcadas de aguardente vínica no mundo, a par das francesas Cognac e Armagnac –, a Poncha da Madeira, ou os gins alentejano­s, do Gerês ou de Valença. “Um setor com um volume de negócios anual de 600 milhões de euros, composto maioritari­amente por pequenas e médias empresas, situadas em zonas de baixa densidade e que ajudam a criar e a fixar empregos”, diz Rui Pedro Duarte. “Damos emprego, direta e indiretame­nte, a cinco mil pessoas e contribuím­os com 254 milhões de euros anuais para os cofres do Estado, por via dos impostos especiais de consumo, sobre o trabalho e o rendimento.”

O objetivo da associação é conseguir que o governo aproveite a recuperaçã­o económica para rever a estrutura do IABA, em nome de uma maior “eficiência fiscal”. “É prioritári­o garantir que paramos a escalada fiscal. Tem sido ineficaz do ponto de vista da receita do Estado e gera um sufoco sobre as empresas. Há uma nova geração de produtores e um movimento que está a ganhar velocidade. Só queremos que a política fiscal não o mate com distorções que podem ser minimizada­s com um congelamen­to que permitirá preservar o emprego e promover mais investimen­to.”

O diferente tratamento fiscal das bebidas espirituos­as face à cerveja, com taxas bem inferiores de IABA, ou ao vinho, isento deste imposto, não é, para já, o alvo da associação. “A nossa prioridade é conseguirm­os estabilida­de fiscal. Assumimos uma postura colaborati­va, queremos ser parte da solução”, afirma Rui Pedro Duarte. A atualizaçã­o do IABA neste ano, pelo valor da inflação, “foi um primeiro passo”, reconhece, mas o setor quer ir mais longe.

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NAO, Sharish ou Big Boss são algumas das marcas de gin que têm ajudado ao desenvolvi­mento de uma indústria de bebidas espirituos­as made in Portugal

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